Observatório da Qualidade no Audiovisual

1 contra todos

 

Exibida pelo canal pago Fox, a série 1 Contra Todos foi produzida pela FIC e pela Conspiração Filmes. A primeira temporada, objeto desta análise, foi veiculada em 2016 e apresentou oito episódios. A produção conta com nomes como Júlio Andrade (Doutor/Cadu), Júlia Ianina (Malu), Roney Vilela (Santa Rosa), Silvio Guindane (Mãe) e Thogun Teixeira (China), entre outros.

O enredo, baseado em uma história real, narra à história de Cadu (Júlio Andrade), um advogado preso injustamente por tráfico de drogas. O advogado é confundido com um famoso traficante, o Doutor (Roberto Birindelli), e, para sobreviver na cadeia, tem que se passar pelo criminoso, o qual é respeitado pelos presos. Malu (Júlia Ianina), esposa de Cadu (Júlio Andrade), passa a cuidar dos filhos com a ajuda do seu pai, JP (Xando Graça).

No Plano da Expressão iremos destacar os seguintes indicadores: ambientação, caracterização dos personagens, trilha sonora, fotografia e edição. A história se passa na cidade de Taubaté, em São Paulo, variando entre sequências externas, a cadeia e a casa de Cadu (Júlio Andrade). Todos os ambientes são retratados de forma realista, o que contribui para a verossimilhança da trama. O presídio, por exemplo, mostra a precariedade das condições em que os detentos vivem, situação enfrentada em inúmeras penitenciárias brasileiras.

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Da mesma forma que a ambientação, a caracterização dos personagens também contribui para a verossimilhança da série e reforça o universo ficcional. Cadu (Júlio Andrade), antes de ir para cadeia, se vestia de modo formal, o que condizia com a condição de advogado. Porém, ao ser preso o personagem passa a usar roupas simples e padronizadas, como os outros presos. Quando se estabelece na prisão como o Doutor, ele muda novamente seu estilo. Malu (Júlia Ianina) também muda a forma de se vestir ao se passar por “mulher de traficante”, tentando enganar o policial federal Jonas (Caio Junqueira). Nesse sentido, o indicador acompanha, diretamente, os desdobramentos da história.

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A principal música da trilha sonora é cantada por Criolo e compõe a abertura da série. “Não existe amor em SP” dialoga com o enredo à medida que contrasta o ético Cadu (Júlio Andrade) com o Doutor (Júlio Andrade) em que ele se transforma após ser preso, demonstrando o descontentamento do personagem com a desvalorização da honestidade no país. O trecho “A ganância vibra/ A vaidade excita” faz alusão a mudança de personalidade do advogado depois de adquirir poder dentro do presídio. Ao mesmo tempo, trechos como “Os bares estão cheios de almas tão vazias” dialogam com a solidão e a tensão que o personagem vivencia durante a série.

A fotografia segue um padrão naturalista que se adequa à proposta da série de apresentar um enredo verossimilhante. As cenas internas da cadeia, por exemplo, são marcadas por sombras e penumbras e retratam de maneira realista esse tipo de ambiente. Ao mesmo tempo, se relacionam com a melancolia e a situação degradante de um presídio.

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A edição segue um padrão majoritariamente linear. Por vezes, são inseridas indicações de tempo que esclarecem o período em que Cadu (Júlio Andrade) está na cadeia.

Print 9No Plano do Conteúdo iremos destacar os seguintes indicadores: intertextualidade, escassez de setas chamativas, efeitos especiais narrativos, recursos de storytelling e transmedia literacy. A intertextualidade pode ser observada em menções a lugares reais, como Santa Cruz de laSierra e Bolívia, e na própria ambientação da série, que se passa na cidade de Taubaté. O episódio da chacina de Carandiru, por exemplo, também é citado, o que estreita os laços entre ficção e realidade.

Em relação à escassez de setas chamativas, observou-se que a série faz usos pontuais do recurso, o que induz o telespectador a relembrar certos acontecimentos e facilita o entendimento da trama. Um exemplo é o flashbacks no terceiro episódio, intitulado “Caminho do Crime”, quando Cadu (Júlio Andrade) irá enfrentar Magrão (Júlio Machado). Os flashbacks trazem cenas de episódios anteriores que mostram as primeiras explicações que os presos deram a Cadu (Júlio Andrade) sobre quem era Magrão (Júlio Machado), enfatizando que ele era um homem perigoso e violento. Tais flashbacks ainda eram acompanhados de mudanças na fotografia, deixando clara a mudança de temporalidade. Entretanto, tal tipo de recurso não foi usado com grande frequência, permitindo que, em certos momentos, o telespectador complete por ele mesmo o sentido da narrativa.

Os efeitos especiais narrativos, referentes aos clímax e reviravoltas, foram observados ao longo dos episódios, mas se apresentaram apenas como recurso de desenvolvimento da trama. Dessa forma, o telespectador não é levado a reconsiderar tudo o que viu até então e não há mudanças no formato narrativo do programa.

Os recursos de storytelling, por sua vez, não foram observados com frequência. Em alguns episódios há alteração da cronologia, uma vez que a série se inicia com uma cena que, cronologicamente, está no futuro, ainda irá acontecer de acordo com o desenvolvimento do episódio. Há também, por vezes, a inserção de alguns flashbacks, como citado anteriormente, mas acompanhados de setas chamativas que facilitam a compreensão do público.

Em relação à transmedia literacy, o canal Fox, que veiculou a série, divulgava através de suas redes sociais e propagandas televisivas o chamado “código de cadeia”. Essa ação transmídia consistia em revelar, a cada estreia de episódio, uma hashtag diferente, através da qual o público poderia debater sobre a série e enviar perguntas e comentários ao elenco, que sempre estava ao vivo nas redes sociais durante as exibições. Desse modo, além de estimular que o público acompanhasse as redes sociais da emissora e repercutisse sobre a série, a Fox permitia que o telespectador interagente ampliasse a experiência televisiva e participasse ativamente, de modo a transcender a narrativa e encorajar a discussão. Nesse sentido, o indicador está presente no estimulo a produção criativa do público através do compartilhamento de conteúdos na segunda tela.

Por Júlia Garcia

 
Ficha Técnica:

  • Criação:  Thomas Stavros e Gustavo Lipsztein.
  • Direção: Breno Silveira
  • Período de exibição: 20/06/2016 – atualmente
  • Horário: 22h30
  • Nº de episódios: 16

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