Equipe
2018. 2: Daiana Sigiliano e Leony Lima
2019. 1: Daiana Sigiliano, Leony Lima, Matheus Soares, Pedro Martins
2019. 2: Daiana Sigiliano, Lucas Guimarães, Hsu Ya Ya, Vinícius Guida
2020. 1: Daiana Sigiliano, Lucas Guimarães, Hsu Ya Ya
2020. 2: Daiana Sigiliano, Lucas Guimarães, Hsu Ya Ya
2021: Daiana Sigiliano, Lucas Guimarães, Hsu Ya Ya
2022: Daiana Sigiliano, Lucas Guimarães, Hsu Ya Ya
Nos últimos anos as comunidades de fãs se tornaram ambientes pautados pela produção cultural, política e crítica (JENKINS, 2012; JAMISON; 2017; HELLEKSON; BUSSE, 2014). Os fandoms criam espaços de aprendizagem informal em que os jovens aprendem e praticam habilidades relacionadas à competência midiática enquanto desenvolvem conteúdos criativos sobre os universos ficcionais contemporâneos. As discussões sobre a competência midiática e a cultura de fãs devem evitar abordagens reducionistas, considerando não só o desenvolvimento da autonomia do sujeito em âmbitos sociais e culturais amplos, mas também em contextos particulares (GEE, 2000). Desta forma, o sujeito deverá ser capaz de criar, acessar, avaliar e analisar conteúdos norteados por aspectos característicos da comunidade que integra, apresentando um repertório midiático comum compartilhado pelo fandom.
É a partir deste contexto que se desdobra o projeto “Aprendizagem informal na cultura de fãs: uma análise do universo das fanfics”. Desenvolvido entre 2018 e 2022, envolvendo alunos da graduação e da pós-graduação, o projeto tem como objetivo analisar a compreensão crítica e criativa dos fãs a partir dos estudos da competência midiática. Ao criarem fanfics, os fãs desenvolvem estratégias de escrita e comunicação relacionadas aos conteúdos multimodais e multimídia, além de novas formas textuais de conversação em rede.
O projeto adotou uma abordagem metodológica exploratória e qualitativa a partir da sistematização das seguintes estratégias em cada uma das cinco fases em que se desdobrou: 1) levantamento bibliográfico e do corpus 2) definição dos parâmetros de análise com base nos estudos sobre as práticas da cultura de fãs e a competência midiática e 3) análise dos conteúdos.
Diagrama 1: Sistematização das estratégias gerais de ação do projeto.
Fonte: Elaborado pelos autores (2023)
Sendo assim, a pesquisa se dividiu em cinco fases abarcando franquias audiovisuais (Malhação: Viva a Diferença, As Five, Station 19, Good Omens, Euphoria, Drag Race e Steven Universe), literárias (A Saga dos Corvos, Percy Jackson e os Olimpianos e Our Omega Leadernim) e musicais (Bangtan Boys), além de plataformas nacionais e internacionais de fanfics. Neste sentido, é importante ressaltar que a seleção do corpus de análise foi realizado de acordo com as pistas de investigação de projetos anteriores, as quais despertaram o interesse dos pesquisadores envolvidos no projeto, e também devido à sua pertinência e relevância para os estudos sobre a cultura de fãs no Brasil. Deste modo, o desenvolvimento das fases foi norteado a partir do amadurecimento da pesquisa, em outras palavras, a realização das leituras e a produção das análises engendraram, durante cada fase, novas questões sobre a compreensão crítica e criativa dos fãs. O referencial teórico baseou-se nos estudos sobre os elementos que constituem uma fanfic, de Jenkins (2012), as dimensões da competência midiática, de Ferrés e Piscitelli (2015), e a literacia transmídia, de Scolari (2016; 2018).
Na primeira fase, analisamos os elementos que propiciam a criação de uma fanfic e as dimensões da competência midiática que estavam em operação nas histórias criadas pelos fãs do ship Limantha, de Malhação: Viva a Diferença. A partir dos estudos sobre a literacia transmídia e da análise da arquitetura operacional, na segunda fase discutimos de que modo os sites de produção e distribuição de fanfics estimulam a aprendizagem informal e a produção multimodal dos fãs. Na terceira fase, nos debruçamos sobre novos formatos de fanfic criados para o ambiente digital e analisamos a partir das dimensões da competência midiática. Com o objetivo de discutir a inter-relação entre a competência midiática e as práticas da cultura de fãs no Brasil, na quarta fase aplicamos questionários on-line direcionados aos fãs que produziam e consumiam fanfics, para entender quais as dimensões da competência midiática estavam em operação nas práticas dos jovens. Por fim, a última fase do projeto “Aprendizagem informal na cultura de fãs: uma análise do universo das fanfics” voltou-se para a análise dos diferentes formatos de fanfics produzidos especificamente para as redes sociais digitais com base nos estudos de Jenkins (2012) e de Ferrés e Piscitelli (2015).
Fases
Na primeira fase do projeto analisamos as histórias produzidas pelos fãs do casal Limantha. Ao todo foram analisadas 14 fanfics das plataformas Nyah! Fanfiction e Spirit Fanfics e Histórias. Um dos arcos narrativos mais populares entre os telespectadores envolveu as personagens Lica e Samantha (Giovana Grigio), intitulado pelo fandom como Limantha, o ship é o acrônimo dos nomes das adolescentes. Ao longo dos capítulos de Malhação o fandom produziu conteúdos no Twitter, You Tube e, principalmente, fanfics. No âmbito das narrativas ficcionais seriadas televisivas as fanfics podem aprofundar e ampliar os arcos narrativos que já estão presentes no universo ficcional, além de abordar tramas que não foram exploradas pelos roteiristas (JACOB et al., 2015). Nos sites Spirit Fanfics, Nyah! Fanfiction e no WattPad foram publicadas cerca de 480 histórias durante o período de exibição da Malhação – Viva a Diferença, gerando cerca de 358 mil visualizações. As histórias, criadas pelos fãs, aprofundavam os arcos narrativos de Lica e Samantha e exploravam os desdobramentos que não estavam presentes no universo ficcional.. As discussões foram amparadas pelas metodologias propostas por Jenkins (2012) e Ferrés e Piscitelli (2014).
Na segunda fase do projeto analisamos a arquitetura operacional das principais plataformas de publicação e compartilhamento de fanfics no Brasil e no mundo, refletindo como estas estimulam a transmedia literacy. A partir das dimensões discutidas por Scolari (2018), refletimos de que modo a forma de funcionamento (sistema operacional, interface e configuração) e de acessibilidade (modo de interação intuitiva, desenvolvimento e disponibilidade de aplicações) dos sites estimulam a aprendizagem informal e a produção multimodal dos fãs.
Na terceira fase iremos discutir os diferentes formatos de fanfic desenvolvidos para as redes sociais e as plataformas digitais. O recorte abrange produções de fandons nacionais e internacionais, tais como Good Omens (Amazon Video, 2019 – atual), Malhação: Viva a Diferença (Rede Globo, 2017-2018), Steven Universe (Cartoon Network, 2013 -2019) e a boyband de k-pop BTS. A partir da metodologia proposta por Ferrés e Piscitelli (2014) iremos refletir sobre as dimensões da competência midiática que estão em operação na compreensão crítica dos fãs sobre as arquitetura operacional dos ambientes multimodais e na produção criativa, possibilitando a ampliação e a ressignificação dos universos.
Na quarta fase do projeto pretendemos discutir a inter-relação entre a competência midiática e as práticas da cultura de fãs no Brasil, especificamente na criação de fanfics direcionadas para o público jovem. Para a reflexão desta questão iremos adotar a metodologia de análise proposta por Ferrés e Piscitelli (2015) para avaliar e promover o desenvolvimento da competência midiática na cultura participativa. A abordagem dos autores é composta por seis dimensões, são elas: linguagem, ideologia e valores, estética, tecnologia, processos de interação e de produção e difusão. Para analisar as dimensões da competência midiática serão aplicados questionários on-line com questões discursivas pré-determinadas e direcionadas aos fãs. Posteriormente, as respostas serão sistematizadas a partir do software de análise qualitativa de dados Atlas.it. De acordo com Gastell (2002), esta abordagem metodológica visa compreender de forma detalhada a atuação de sujeitos em contextos sociais específicos e as diferentes perspectivas dos membros de um mesmo grupo. As discussões sobre a competência midiática irão nortear a elaboração das perguntas, abrangendo questões relacionadas ao processo criativo, a adaptação de formatos e gêneros narrativos para suportes multimodais, a representação dos diferentes grupos sociais e a quebra de estereótipo, além dos aspectos estéticos, narrativos e operacionais das fanfics distribuídas nas plataformas especializadas.
A quinta e última fase do projeto tem como objetivo analisar, a partir das propostas teórico-metodológicas de Jenkins (2012) e Ferrés e Piscitelli (2015), as fanfics produzidas especificamente para as plataformas digitais. O conteúdo criado pelos fãs vai além da narrativa em prosa, explorando recursos multimodais para ampliar e ressignificar o cânone. Neste contexto, as análises realizadas nessa fase ressaltam de que modo questões políticas, de sexualidade e de representatividade estimulam habilidades cognitivas e polissêmicas dos fãs.
Referências
FERRÉS, J; PISCITELLI, A. Competência midiática: proposta articulada de dimensões e indicadores. Lumina, v. 9, n, 1, p. 1-16, 2015. Disponível em: <https://goo.gl/3EQnc6>. Acesso em: 27 fev. 2020.
GASKELL, G. Entrevistas individuais e grupais. In BAUER, M. W.; GASKELL, G. (eds.) Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som – um manual prático. 2 ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2003, p. 64-89.
GEE, J.P. Identity as an Analytic Lens for Research in Education. Review of Research in Education, v. 25, p. 99-125, 2000. Disponível em: <https://bit.ly/2Sj17zH>. Acesso em: 27 fev. 2023.
HELLEKSON, K; BUSSE, K. Why a Fan Fiction Studies Reader Now? In Hellekson, K; BUSSE, K. (eds.). The Fan Fiction Studies Reader. Iowa: The University of Iowa Press, 2014, p. 1-19.
JACOB, M.C. et al. Entre novelas e novelos: um estudo das fanfictions de telenovelas brasileiras (2010-2013). In LOPES, M.I. V. (org.). Por uma teoria de fãs da ficção televisiva brasileira. Porto Alegre: Sulina, 2015, p. 107-154.
JAMISON, A. Fic – Por que a fanfiction está dominando o mundo. São Paulo: Rocco, 2017.
JENKINS, H. Lendo criticamente e lendo criativamente. Matrizes, v.9, n.1, p. 11-24, 2012. Disponível em: < https://bit.ly/2I9TWnn>. Acesso em: 27 fev. 2020.
SCOLARI, C. Literacia transmedia na nova ecologia mediática – Livro Branco. Barcelona: Europen Union Funding for Research
Informamos que a quarta fase deste projeto (CAAE 51662921.4.0000.5147) foi submetida e está de acordo com os princípios éticos norteadores da ética em pesquisa estabelecido na Res. 466/12 CNS e com a Norma Operacional Nº 001/2013 CNS. Data prevista para o término da pesquisa: março de 2022.
