Por: Adriana Martins, Ana Margarida Fernandes, Mariana Murteiro
Este texto discute as razões que levaram o Universo Cinematográfico da Marvel a realçar e criar novas personagens femininas ao longo da saga. Busca-se compreender como foi criado o traço de identidade, estética e comportamento destas personagens neste mundo fictício e como estas se emanciparam no mesmo, abordando alguns dos momentos cruciais para o desenvolvimento das super-heroínas – e que fizeram o universo Marvel trabalhar sua inclusão. Tal questionamento é feito no âmbito de reforçar o papel da mulher na nossa sociedade e como a representação de mulheres num ecrã gigante pode impactar uma mulher sentada numa sala de cinema.
A perspetiva semiótica oferece uma abordagem interessante para analisar o mundo Marvel, explorando os elementos simbólicos, signos e significados presentes nas histórias em quadrinhos e filmes. A semiótica é o estudo dos signos e símbolos e como eles são usados para transmitir significados. Ao aplicar uma perspetiva semiótica ao mundo Marvel, é possível aprofundar a compreensão de significados subjacentes, das relações simbólicas e das estruturas narrativas que tornam este universo tão cativante e relevante para uma audiência diversificada.
Contextualizando o universo ficcional da Marvel
O Universo Marvel é um extenso e diverso mundo fictício que tem sido desenvolvido em torno de quadrinhos, filmes e séries. Foi criado pela Marvel Comics, uma editora norte-americana, anteriormente Marvel Comics Group, que em 1939 estreia-se como Timely Comic, fundada por Martin Goodman e tornando-se conhecida, no início da década de 1950, como Atlas Comics. A marca a que hoje estamos familiarizados, começou em 1961, ano em que a empresa lançou Fantastic Four, Spiderman, Thor, Iron Men, e X-Man, que foram criados por escritores como Stan Lee, Jack Kirby e Steve Ditko, tendo ficado a década de 1960 conhecida como a era de prata dos quadrinhos
O primeiro editor dos quadrinhos da Marvel, e também roteirista e desenhista, Joe Simon, juntou-se a Jack Kirby para criar o primeiro herói patriota da história, o Captain America, que rapidamente virou um sucesso. No entanto, com uma guerra mundial a assolar o mundo, o mercado americano de quadrinhos de super-heróis caiu no esquecimento. Nos anos 50, a Marvel atravessou tempos difíceis, mas com o sucesso inicial da DC Comics, ao ressuscitar os super-heróis nas histórias em quadradinhos, a Marvel seguiu o mesmo caminho. Nesta altura, a presença de Stan Lee e Jack Kirby, foi preponderante para a criação do Fantastic Four. A revista foi um enorme sucesso, o que inspirou a Marvel a publicar novos super-heróis, como Spiderman.
As histórias da Marvel destacavam-se por possuir características muito próximas da realidade, fazendo com que o leitor se identificasse com a narrativa, atribuindo à saga um certo teor humano, explorando a caracterização das personagens, principalmente com problemas sociais. Por exemplo, no filme X-Men, que surgiu para detetar preconceitos na época; ou até mesmo em Spiderman, um jovem herói com falta de confiança e autoestima, semelhante a muitos adolescentes do mundo real; ou ainda Daredevil um super-herói cego e que enfrentava problemas relacionados à sua condição.
Os anos 70 viram a expansão deste universo fictício com personagens como o The Punisher, o IronFist e o Ghost Rider. Além disso, as histórias tornaram-se cada vez mais maduras e abordaram questões sociais relevantes. Durante as décadas de 80 e 90, as sagas crossover e eventos épicos tornaram-se mais comuns, como a saga da Dark Phoenix, e a Infinity War. Houve, também, uma explosão de títulos derivados e novas equipas de super-heróis, como viemos verificar, anos mais tarde, em filmes como The Avengers.
O século 21 trouxe uma revolução no cinema. Em 2006, a Marvel lançou a mega saga Infinity War, onde a comunidade heroica se viu dividida, discutindo fatores políticos e éticos, aumentando cada vez mais a semelhança entre o mundo Marvel e o mundo real. Dois anos depois, o lançamento do filme do Iron Man, deu início ao universo cinematográfico Marvel, expandindo o seu alcance, para além dos quadradinhos, colocando os personagens num mundo compartilhado em várias histórias, incluindo os Avengers, Black Panter, Galaxy Guardians e muitos outros que foram marcados pela aparição de vários super-heróis de mundos distintos, no mesmo filme.
Personagens preponderantes para a saga
Para o estudo, foram escolhidas quatro personagens de relevância para a narrativa do universo Marvel. A primeira, Black Widow, cujo nome real é Natasha Romanoff, é uma personagem icónica da Marvel que apareceu em várias histórias de quadrinhos, em desenhos animados e no Universo Cinematográfico Marvel (MCU).
Natasha foi introduzida pela primeira vez na história da Marvel na década de 1960. A sua aparição envolveu, essencialmente, o seu treinamento enquanto espiã e assassina russa, onde passa por um programa chamado ‘Sala Vermelha’. A sua lealdade inicial à União Soviética e o seu eventual alinhamento com os Avengers são os elementos centrais da sua história. Black Widow é conhecida pelas suas habilidades excepcionais no combate corpo a corpo, treinamento em espionagem e proficiência em várias formas de artes marciais. Além disso, ela utiliza a tecnologia avançada, como dispositivos de pulso e gadgets nas suas missões.
Nos filmes Avengers, tornou-se uma peça-chave na medida em que a sua presença traz dinâmica ao grupo, combinando as suas habilidades de combate com a sua inteligência. Por outro lado, durante muito tempo, Black Widow era a única mulher que acompanhava os Avengers, o que lhe confere destaque pela sua força e poder. Ao longo das décadas, Black Widow passou por um desenvolvimento significativo enquanto personagem. A sua complexidade moral, as lutas internas e o seu desejo de redenção são aspectos explorados em várias histórias. Também no MCU também aborda a sua jornada de autoconhecimento e reconciliação com o passado.
Black Widow é reconhecida por seu traje preto e suas habilidades de camuflagem nas sombras. Essa iconografia reflete a sua natureza furtiva e a sua habilidade de operar nas sombras. No Universo Cinematográfico Marvel, a Black Widow é interpretada por Scarlett Johansson, tendo aparecido em vários filmes, começando com Iron Man 2 e continuando em filmes como Avengers, Captain America: Winter Soldier e Avengers: Endgame. O filme solo da Black Widow, lançado em 2021, explora mais profundamente o seu passado e a sua relação com outros personagens do MCU. A escolha da Black Widow prendeu-se pelo facto de esta personagem ter sido uma das primeiras super-heroínas a aparecer no MCU, mas também pelas suas habilidades e inteligência.
A segunda personagem escolhida foi Wanda Maximoff, também conhecida como Scarlet Witch. Ela foi criada por Stan Lee e Jack Kirby e apareceu pela primeira vez em X-Men em 1964. Scarlet é uma mutante e, nos quadrinhos, é filha de Magneto, o mestre do magnetismo. Possui habilidades mágicas e de manipulação da realidade. Os seus poderes incluem a manipulação de probabilidades, telecinesia e a capacidade de alterar a realidade à sua vontade. A sua força aumentou ao longo dos anos, tornando-a uma das personagens mais poderosas do universo Marvel.
Wanda enfrenta desafios relacionados à sua saúde mental, pois as suas habilidades de manipulação da realidade muitas vezes colocam-na em situações complexas e a exploração desses temas adiciona camadas à sua caracterização. A MCU opta por retratar a feiticeira como uma cobaia das experiências da Hydra com o Cetro de Loki. Nos quadrinhos e na MCU, Wanda Maximoff é associada aos Avengers, tendo-se tornado um membro-chave da equipa e participado em histórias importantes. Uma parte significativa da história da Scarlet Witch é o seu relacionamento com o sintozóide Vision.
Wanda Maximoff é interpretada por Elizabeth Olsen. A sua primeira aparição foi nos Avengers, em 2012, e teve papéis importantes em filmes como Avengers: Age of Ultron, Captain America: Civil War, Avengers: Infinity War e Avengers: Endgame. Na Disney+ a série WandaVision, explora mais profundamente a vida de Wanda após os eventos do Endgame, apresentando uma visão única das sitcoms ao longo das décadas. Wanda Maximoff foi uma das escolhidas para o desenvolvimento desta análise semiótica pelos seus poderes de manipulação da realidade e pela força de combate que apresenta.
Captain Marvel, a terceira personagem escolhida, é uma personagem da Marvel Comics, também conhecida como Carol Denvers. É uma das heroínas mais poderosas do universo Marvel, com uma história complexa e fascinante. Carol Danvers era piloto na Força Áerea dos Estados Unidos da América, tendo adquirido os seus superpoderes após um incidente com um dispositivo alienígena, transformando-a numa híbrida humana, concedendo-lhe habilidades como super força, velocidade, resistência e a capacidade de voar e disparar rajadas de energia.
Desempenha um papel crucial como uma das super-heroínas mais poderosas, chegando a ser membro dos Avengers e de outras equipas.Captain Marvel é conhecida pelo seu senso de justiça e coragem, liderando equipas de super-heróis e desempenhando um papel crucial em eventos cósmicos no mundo Marvel. A sua jornada inclui momentos de luta pessoal, superação e crescimento, tornando-a uma figura inspiradora para muitos dos fãs. A escolha desta super-heroína baseou-se pelo facto de ser a mais antiga na ordem cronológica dos filmes Marvel, aparecendo como uma das mais fortes e poderosas personagens da saga.
A última personagem selecionada foi Gamora Zee Whoberi Bem Titan é uma personagem do universo Marvel, conhecida por ser a filha adotiva de Thanos, o mais poderoso vilão. É considerada a última sobrevivente da sua espécie, os Zen-Whoberis após o planeta ser dizimado por Thanos. Criada como uma assassina letal, Gamora passou a maior parte da sua vida como uma guerreira treinada e temida por toda a sua galáxia. No entanto, Gamora eventualmente opõe-se contra Thanos e junta-se aos Guardiões da Galáxia, um grupo de heróis intergaláticos. Ao longo das suas histórias, Gamora é retratada como uma personagem complexa, lutando muitas vezes para se redimir do seu passado enquanto procura um novo propósito e tenta encontrar conexões emocionais com os seus parceiros.
A sua habilidade de combate, misturada com uma jornada de redenção, torna-a uma figura cativante e central em muitas narrativas cósmicas da Marvel. É importante notar que, após os eventos de Avengers: Infinity War, onde Thanos sacrifica Gamora para obter a Jóia da Alma. Mais tarde, no filme Avengers: Endgame, uma versão mais jovem de Gamora é trazida para o presente, criando dinâmicas e desafios emocionais para a personagem. A escolha de Gamora se deu por sua força e inteligência de combate, mas também pela sua resiliência e coragem ao combater o vilão mais poderoso de todo o Universo – o seu próprio pai, Thanos.
Análise semiótica de cenas
Para a análise semiótica do tema em questão, iremos analisar uma cena de cada filme das personagens escolhidas, que será a cena mais importante para a evolução de cada uma delas. Posto isto, começaremos por analisar semioticamente as cenas escolhidas de cada filme para cada personagem.
Black Widow
A cena do interrogatório da Black Widow no filme Avengers pode ser interpretada como um conjunto complexo de signos que revelam aspectos da personagem e avançam na narrativa. Os ícones visuais, índices de expressões faciais e a presença de símbolos como a cadeira de interrogatório.A representação visual da Black Widow em contexto semiótico, considerando os elementos visuais, a linguagem corporal e os símbolos presentes na cena específica dos Avengers.
Os movimentos da câmera nesta cena indicam a situação de perigo em que Natasha se encontra, uma vez que está amarrada a uma cadeira na iminência de cair para um buraco, daí os zooms específicos nesta cena para demonstrar a sua vulnerabilidade. Quando a câmera enquadra planos mais amplos, contextualiza a dinâmica da cena, isto é, o interrogatório à espiã dentro de um armazém.
A iluminação da cena serve como um índice indicando o clima emocional. Neste caso, os tons escuros e a iluminação baixa sugerem um clima de tensão e revelações, uma vez que Natasha está a ser interrogada.O ambiente em que a cena ocorre é um ícone que pode indicar um local de autoridade e conflito. Nesta cena, o ambiente é um armazém que contribui para a atmosfera geral de tensão e conflito. A cadeira em que Natasha está sentada pode ser interpretada como um símbolo de poder e controle por parte dos soldados russos, mas rapidamente Natasha dá a volta à situação e solta-se.
A trilha sonora é um elemento simbólico que contribui para o tom emocional da cena, enfatizando a tensão e as revelações do interrogatório. A música de fundo inicia-se assim que Black Widow se liberta da cadeira e inicia o combate contra os mercenários, sendo a música rápida e tensa, para simbolizar a rapidez e eficácia dos truques da espiã.
O conteúdo do diálogo, bem como a entoação e a cadência das falas, influenciam a interpretação da cena. A escolha das palavras e a forma como são entregues podem revelar emoções e intenções. Nesta cena de interrogatório, o diálogo é em russo, de forma calma de forma a intimidar Natasha e persuadi-la a falar. Quando o soldado russo diz “e ela é simplesmente mais uma cara bonita”, revela o sentimento de superioridade que este sente para com a espiã, mas esta não cede ao comentário e responde com desprezo. Black Widow desenvolve-se enquanto uma personagem destemida, corajosa e determinada, e esta cena é a prova disso. Mesmo amarrada a uma cadeira num armazém rodeada de mercenários armados, Natasha não cede em combate e sai vitoriosa.
Já no filme Avengers: Age of Ultron, a análise semiótica da cena em que Natasha Romanoff sai de uma nave a conduzir uma mota pode envolver a interpretação de vários elementos visuais, sonoros e simbólicos. Neste sentido, a figura de Black Widow representa uma personagem forte e independente. A sua postura e movimentos são interpretados como indicativos de confiança e determinação.
O trabalho da câmera, incluindo os enquadramentos e movimentos são fundamentais. O uso de planos detalhados da mota, do rosto de Natasha e dos planos gerais contribuem para a composição da cena. O acompanhamento da câmera com o movimento da mota sugere rapidez e movimentação, para dar dinâmica à ação, assim como os close-ups nas expressões faciais de Black Widow indicam a determinação da personagem. A iluminação pode criar atmosferas específicas. A iluminação e as cores claras indicam otimismo e determinação em resolver a situação.
A música que acompanha a cena também desempenha um papel crucial na interpretação. Uma trilha sonora épica e motivadora como a desta cena enfatiza a determinação da personagem e a importância da situação. A música de fundo rápida revela a intensidade da ação a decorrer, assim como os picos de música acompanham os momentos mais tensos, como quando Natasha passa por debaixo de um camião com a mota. A edição de imagem, incluindo os cortes, as transições e os efeitos visuais desempenham um papel importante na fluidez da cena. As cenas aceleradas, o efeito de fumo na moto, o lançamento do escudo do Captain America indicam a rapidez da cena.
Na sequência Avengers: Infinity War, ao realizar uma análise semiótica da cena da luta entre Black Widow e Proxima Midnight, podemos examinar vários elementos visuais e simbólicos que contribuem para a construção de significados. Black Widow é apresentada como ágil, astuta e estratégica, enquanto Proxima é retratada como sendo poderosa, ameaçadora e implacável.
O modo como a cena é filmada, incluindo os planos escolhidos e os ângulos da câmera podem afetar a dinâmica da cena e dar ênfase em certos elementos. A câmera acompanha os movimentos da luta e aproxima a imagem para as expressões mais preponderantes, ou seja, quando uma das personagens ataca ou sofre de um ataque. A paleta de cores e a iluminação podem criar atmosferas específicas. O facto de a ação ser num campo aberto justifica as cores alaranjadas e azuladas e sugerem uma luta verdadeira entre o bem e o mal.
A escolha musical para acompanhar esta cena acompanha a cena de luta e indica determinação e ação, assim como o ritmo acelerado e as notas tensas refletem o clima de luta. No entanto, os momentos de silêncio estratégicos também são relevantes. A ausência de diálogo em determinados momentos pode criar tensão e destaca os momentos-chave da luta.
A postura, as expressões faciais e os gestos de Natasha durante a cena carregam significados simbólicos em Avengers: Endgame. A sua decisão de sacrificar é representativa da sua coragem, altruísmo e compromisso com a causa. A Jóia da Alma é um poderoso símbolo do MCU. Ela representa o sacrifício e é conhecida por exigir uma perda significativa para ser obtida. A cena ganha profundidade simbólica por meio da natureza única dessa jóia.
A forma como a cena é filmada, os ângulos de câmera escolhidos e os movimentos de câmera desempenham um papel vital. Os close-ups nos rostos das personagens revelam as suas emoções de tristeza pela perda de um amigo, mas também a determinação para obter a jóia. Os zooms finais às expressões das personagens sugerem por parte de Natasha a resignação, a coragem e até mesmo a paz interior diante o sacrifício iminente. Os tons mais escuros e a falta de iluminação sugerem a tristeza e a perda sentida na cena.
A música que acompanha a cena é crucial. Uma trilha sonora melancólica intensifica as emoções e sublinha o peso do sacrifício. Durante a luta pelo sacrifício entre Natasha e Cliff, a música intensifica-se e cria um ambiente de mistério e sempre que uma das duas personagens se aproxima do precipício, o som aumenta e torna-se mais forte. Quando Natasha está mesmo na iminência de cair do precipício e fazer o sacrifício final, a música acalma, demonstrando a sua coragem, aumentando de novo quando esta finalmente se desprende da mão do seu melhor amigo, dando por concluído o sacrifício pela Jóia da Alma. Os momentos de silêncio e pausas na cena destacam a magnitude da ação e permitem que os espectadores absorvam a gravidade do momento.
O diálogo entre os dois super-heróis e amigos de longa data sugerem a natureza da sua relação de amizade e demonstra como os dois estariam disponíveis a sacrificar-se um pelo outro, tendo convencerem-se de que cada um é que se deve sacrificar pela causa, mantendo o outro vivo. Os efeitos sonoros desempenham um papel crucial na criação da experiência audiovisual. Os sons de bloqueios, movimentos ágeis e o tilintar das armas contribuem para a autenticidade da cena e destacam a intensidade da ação.
Por fim, em Black Widow, a luta entre Natasha Romanff e Dreykov pode ser avaliada semioticamente, considerando os elementos visuais, sonoros e simbólicos presentes na cena. A postura, as expressões faciais e os movimentos das personagens durante a luta são elementos importantes. A determinação de Natasha e a arrogância de Dreykov podem ser interpretadas pelas suas expressões e gestos. A tensão, o esforço e as reações emocionais podem ser percebidos pelas expressões.
O trabalho da câmera é crucial para a captação da ação de maneira envolvente. Movimentos rápidos, cortes precisos e diferentes ângulos de câmera são usados para criar dinamismo visual, mantendo o interesse do espectador. O zoom final desta cena capta a determinação de Black Widow para atingir os seus fins. A paleta de cores e a iluminação podem influenciar a atmosfera da cena. A cor avermelhada da cena sugere sentimentos intensos, como a ação, a força e o poder, indicando a violência da ação e a raiva.
A luta ocorre num local específico, neste caso, a instalação da Sala Vermelha, representando o passado da personagem e a circunstância em que esta se encontra. A música intensa, as batidas e os efeitos sonoros realçam a ação, assim como as variações da música refletem as mudanças no ritmo e na dinâmica do confronto. A sincronização precisa entre os cortes de câmera e as mudanças na trilha sonora contribuem para a fluidez da cena.
Scarlet Witch
A cena mais importante para a evolução da personagem de Wanda Maximoff é quando esta enfrenta Thanos no desafio final de Avengers: Endgame. A sua postura, a figuração, as expressões faciais e os gestos comunicam a sua determinação e poder. A forma como a cena é filmada realçam a magnitude e a tensão do confronto. A aproximação da câmera a Wanda quando esta diz a Thanos que ele lhe tirou tudo revelam a raiva que Wanda sente pelo maior vilão do universo e refletem a sua vontade de o destruir. A imagem panorâmica da cena quando Scarlet Witch reúne os seus poderes são a prova da sua grandeza poderosa e da sua força enquanto super-heroína.
O jogo entre luz e sombras influenciam a estética da cena, pelo que as cores intensas sugerem a intensidade emocional e o conflito. As cores escuras são um presságio de tristeza e perda, mas quando há picos de cor, estes significam os poderes de cada um dos super-heróis, estando o vermelho associado à Scarlet Witch. Nesta cena, a escolha da música enfatiza o desenrolar do conflito, pelo que a música orquestrada e os tons épicos amplificam a grandiosidade do confronto.
Captain Marvel
Uma cena importante no filme Captain Marvel é quando Carol Danvers, finalmente ganha os seus poderes. Na cena, os aspectos audiovisuais são fundamentais para transmitir a transformação e o empoderamento da personagem. A cena é frequentemente marcada por efeitos visuais impressionantes que ilustram a transformação de Carol Danvers em Capitã Marvel.
Mudanças na iluminação, a energia ao redor dela e os possíveis vislumbres das suas habilidades emergentes que são usadas para representar essa mudança crucial. O ambiente onde ocorre a transformação, ou seja, o cenário escolhido, contém elementos simbólicos, como a tecnologia avançada e elementos que contrastam com a sua vida anterior. O figurino muda para refletir a sua nova identidade. A música e os efeitos sonoros desempenham um papel crucial para aumentar o impacto na sua transformação.
Uma trilha sonora marcante e os seus sons poderosos acompanham a cena, realçando a importância do momento. A maneira como a cena é filmada enfatiza a magnitude deste momento tão importante. Os close-ups no rosto de Carol Danvers mostram as suas reações de medo e de confusão face a este acontecimento. Os planos mais amplos enfatizam a capacidade e expansão dos seus poderes. O ritmo da cena, incluindo os cortes e transições específicas, aumenta a tensão e expectativa antes da revelação dos seus poderes.
A cena representa um ponto crucial na jornada de Carol Danvers. A aquisição dos seus poderes simboliza a sua transformação de um piloto terrestre para uma heroína cósmica poderosa. Ganhar os seus poderes pode ser interpretado como um momento de autoconhecimento e auto descoberta, onde Carol entende a sua verdadeira força e potencial como Captain Marvel.
Já na continuação Avengers: Endgame, um ponto central para Captain Marvel é quando ela retorna para ajudar na batalha final contra Thanos. A entrada da Captain Marvel é marcada pela sua aura de confiança e poder. A sua postura firme e o brilho dos seus poderes cósmicos destacam a sua importância no confronto. O seu traje vibrante, combinado com o padrão de cores distinto, ressalta a sua identidade como uma figura poderosa e heroica. A chegada da Captain Marvel simboliza uma nova esperança para os Vingadores e para o universo, representando um reforço crucial na luta contra Thanos.
Os seus poderes cósmicos simbolizam uma força formidável que pode desafiar a ameaça de Thanos e proteger o universo. Embora a cena não tenha um diálogo extenso, a presença da Captain Marvel é reforçada por breves interações que destacam o seu compromisso em ajudar a salvar o universo. A entrada da Captain Marvel na batalha final é um ponto crucial na narrativa, representando a união de todos os heróis na luta contra Thanos.
Os aspectos audiovisuais são cruciais para transmitir a importância da sua participação na luta. A cena destaca a imponência de Captain Marvel através de efeitos visuais, como a sua chegada triunfante e a sua postura de confiança e determinação. O traje de Captain Marvel pode ser visualmente marcante, destacando-se entre outros personagens. A iluminação realça a sua aura de poder. A música e os efeitos sonoros aumentam o impacto da entrada na batalha.
Uma trilha sonora marcante e sons épicos acompanham a sua presença, destacando a importância da cena. A maneira como as câmeras estão posicionadas enfatiza a magnitude da entrada de Captain Marvel na batalha. Os planos amplos mostram a sua presença dominante, enquanto os movimentos de câmera dinâmicos ressaltam a sua agilidade e poder. O plano de cena onde Captain Marvel é vista de baixo para cima simboliza o seu poder e a sua imponência em relação aos vingadores, pois remete para a sua chegada com o objetivo de ajudá-los.
Gamora
No filme Guardians of Galaxy, uma das cenas mais importantes em que podemos observar o poder de Gamora é quando ela enfrenta os guardiões por causa da esfera. A personagem é visualmente marcante, veste roupas principalmente verdes, que simbolizam a sua conexão com a natureza e a sua dualidade entre o bem e o mal, por ser filha adotiva de Thanos.
A sua postura e as expressões faciais durante a luta contra os guardiões mostram a sua habilidade, determinação e confiança. A arma de eleição de Gamora, uma espada, é considerada um símbolo de destreza e força, mas também pode representar a sua procura por redenção ao usar as suas habilidades para um propósito mais nobre. Gamora é introduzida como uma personagem enigmática, inicialmente aliada a um vilão, mas depois torna-se uma Guardiã da Galáxia, acabando por mostrar uma mudança significativa nas suas motivações e alianças.
Por fim, a música que acompanha a cena é uma decisão importante para todos os filmes do universo Marvel. A trilha sonora utilizada simboliza a aflição para recuperar a esfera e a intensidade da batalha. Os planos próximos representam as habilidades, confiança e poder de Gamora. E os planos mais abertos servem para percebermos a intensidade da luta entre as personagens. Na cena quando Star-Lord está no chão e Gamora está por cima dele, o posicionamento da câmera simboliza o elo mais forte que neste caso é Gamora. A luta ocorre num ambiente diversificado, que combina elementos de tecnologia futurista e caótica. A velocidade e as sequências rápidas influenciam o ritmo da luta.
Já em Guardians of Galaxy II, a cena em que Gamora tem uma conversa emocional com a sua irmã Nebula é uma parte crucial do filme carregada de simbolismo emocional e oferece uma visão mais profunda dos personagens, explorando as suas motivações, relacionamentos e a tentativa de cura de um passado doloroso. Gamora e Nebula compartilham um momento íntimo e tenso.
As suas expressões faciais refletem uma mistura de dor, raiva e vulnerabilidade, indicando a complexidade do seu relacionamento. A maneira como a cena é filmada pode destacar as emoções das personagens. Os close-ups nos rostos enfatizam os conflitos internos das personagens, enquanto os planos mais abertos contextualizam a dinâmica da relação entre elas. O ritmo da cena, mais lento e as pausas dramáticas influenciam a intensidade emocional e a tensão entre a Gamora e a Nebula.
A música ou o silêncio durante a conversa influenciam o clima emocional da cena. A música suave amplifica a intensidade do diálogo e das emoções envolvidas como mágoa. Esta cena ocorre num cenário sombrio, simbolizando a natureza sombria dos seus passados e a intensidade emocional do momento. A dinâmica entre Gamora e Nebula simboliza a complexidade das relações familiares, especialmente as que são marcadas por traumas e conflitos. A cena mostra a tentativa de reconciliação entre duas pessoas que foram manipuladas para competir e lutar uma contra a outra.
As palavras trocadas entre Gamora e Nebula são carregadas de emoção. Elas revelam o peso do passado e a procura por perdão e compreensão mútua. Gamora expressa a sua vontade de superar as diferenças com a sua irmã. Esta cena aprofunda a história de Gamora e Nebula, revelando camadas emocionais e mostra a evolução e a força de Gamora pela procura de redenção e conexão emocional com a sua família.
Existem duas cenas onde vemos que a força emocional de Gamora é posta à prova em Avengers: Infinity War. A primeira é o confronto com Thanos em Knowhere para evitar que ele obtenha a Joia da Alma, isso mostra a sua coragem e determinação. A maneira como a cena é filmada destaca a magnitude do confronto. Os planos próximos focam as emoções das personagens enquanto planos amplos ressaltam a escala da batalha. O ritmo com cortes rápidos e os momentos de pausa influenciam a tensão e o impacto emocional. Ela encara o ser mais temido da galáxia para proteger o segredo da jóia. Isso demonstra a sua força interior e o seu compromisso com o bem maior. A cena enfatiza o poder de Gamora ao resistir às pressões de Thanos, mostrando o seu caráter forte e a recusa de ceder às manipulações.
A música e os efeitos sonoros durante a luta aumentam a tensão e a adrenalina. Efeitos sonoros impactantes enfatizam os golpes e ação, enquanto a trilha sonora intensa amplifica o drama emocional da cena. O diálogo é carregado de sentimento, pois Thanos não estava à espera de que a sua própria filha o atacasse tanto que Thanos pergunta várias vezes “Why?”
A outra cena é o sacrifício em Vormir, um dos momentos mais poderosos de Gamora. Ela enfrenta um dilema ao ser confrontada com a exigência de sacrificar alguém que ama para obter a Jóia da Alma. Este momento destaca a sua coragem, amor e sacrifício, revelando a profundidade dos seus valores morais e a sua força interior. A cena geralmente é em volta de tons sombrios e opressivos, refletindo a gravidade do momento e a seriedade do sacrifício. A iluminação é austera enfatizando a atmosfera pesada e trágica. As expressões faciais e gestos corporais de Gamora, Thanos e do Guardião de Vormir são cruciais para transmitir a intensidade emocional da cena.
A dor, a angústia e a determinação são expressas através dos close-ups nos rostos das personagens que enfatiza a gravidade do sacrifício, enquanto os planos mais amplos enfatizam a escuridão de Vormir que remete para a tragédia deste sacrifício. A trilha sonora aumenta a carga emocional do momento. O silêncio na presente cena é impactante, aumentando a gravidade do sacrifício e destaca as emoções de desilusão de Gamora para com Thanos. O diálogo é carregado de expressões que remetem ao seu passado de manipulações e abusos.
Na cena em que Star-Lord conhece a jovem Gamora em Avengers: Endgame, podemos observar as expressões faciais e os gestos corporais de Star-Lord e Gamora jovem que são fundamentais para transmitir as emoções do encontro pois Star-Lord pensava que tinha perdido a sua amada para sempre. Estas expressões transmitem surpresa, confusão e empatia. A aparência dos personagens destaca a diferença de idade entre Gamora e a sua versão mais jovem, reforçando visualmente a ideia do encontro entre passado e presente.
A música suave e os efeitos sonoros utilizados influenciam o clima emocional da cena e a gravidade do momento. A maneira como a cena é filmada pode realçar a emoção do encontro. Close-ups nos rostos dos personagens podem mostrar as suas reações enquanto os planos mais amplos contextualizam o momento e o ambiente ao redor. O ritmo da cena mais lento e as pausas dramáticas influenciam a intensidade emocional e a conexão entre os dois personagens. Nesta cena, onde Star-Lord está no chão, podemos ver mais uma vez a superioridade de Gamora graças ao posicionamento das câmeras.
As personagens femininas da Marvel
Para responder à pergunta de partida iremos utilizar a análise semiótica. A inclusão e o destaque das personagens femininas ao longo do Universo Cinematográfico da Marvel podem ter vários sentidos de interpretação a partir de uma análise semiótica, considerando a evolução da narrativa cultural e as mudanças sociais ao longo do tempo. A introdução e o destaque das personagens femininas podem ser interpretadas como uma resposta ao pedido por uma maior representatividade e diversidade no cinema. Ao incluir personagens femininas, fortes e variadas, a Marvel responde às vozes que pedem uma representação mais inclusiva.
A narrativa do empoderamento feminino tornou-se uma tendência cultural importante. Ao destacar personagens femininas como a Captain Marvel, a Gamora, a Black Widow, e a Scarlet Witch, a Marvel contribui para a construção de uma narrativa na qual as mulheres são retratadas como poderosas, independentes e fundamentais para a saga. A indústria cinematográfica tem enfrentado muitas críticas ao longo dos anos em relação à sub-representação das mulheres, seja atrás ou à frente das câmeras. A escolha da Marvel ao destacar personagens femininas pode mostrar uma resposta às mudanças sociais e à crescente exigência por igualdade de oportunidades.
A inclusão de personagens femininas permite à Marvel explorar novas histórias e gêneros. Isto não diversifica apenas a narrativa, mas também oferece oportunidades para contar histórias únicas que podem atrair uma audiência mais ampla. O reconhecimento da presença significativa de fãs femininas nas audiências dos filmes de super-heróis pode ter levado à decisão estratégica de criar personagens que este público se identifique. Destacar e criar personagens femininas pode ser uma maneira de atrair e envolver uma base de fãs mais diversificada.
As críticas anteriores à saga sobre a falta de desenvolvimento e presença de personagens femininas nos filmes de super-heróis podem ter influenciado a Marvel a adotar uma abordagem mais proativa para responder a essas preocupações e construir personagens femininas mais completas e multidimensionais. A inclusão de personagens femininas também pode ser vista como uma resposta aos movimentos sociais contemporâneos, como o movimento #MeToo e outras iniciativas relacionadas à igualdade de gênero.
A Marvel pode estar a alinhar as suas narrativas com valores sociais emergentes. A integração de personagens femininas no universo cinematográfico da Marvel é complexa e pode ser interpretada de diferentes maneiras com base na perspetiva de cada indivíduo. Uma análise semiótica pode ajudar a desvendar os significados subjacentes a essas escolhas narrativas e visuais, destacando a complexidade das mensagens transmitidas pelos filmes da Marvel em relação à representação feminina.
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