Autora: Lícia Maria Costa Fajardo Cerqueira
Resumo curto: A afirmação de Lev Manovich de que vivemos a forma cultural database pode ser confirmada ao refletirmos sobre como acedemos às diferentes informações diárias. Nas últimas décadas, percebemos o acesso do cidadão comum a mecanismos de comunicação e gravação que ampliaram suas capacidades de captura e armazenamento de imagens, como verdadeiras extensões do corpo humano. Após o surgimento da web 2.0 e das possibilidades de interação entre usuários, plataformas de compartilhamento de vídeo, como o YouTube, tornaram-se pontos centralizadores dessas imagens, evidenciando a formação de uma cultura participativa na criação de vídeos. Trechos provenientes de bancos de dados, há muito, são usados em obras audiovisuais. A garimpagem do material é uma característica destas obras baseadas em imagens presentes em arquivos pessoais ou públicos. Posteriormente revisitadas, ganham novo sentido, como em A Família Bartos (1988) e O Êxodo do Danúbio (1998), do cineasta húngaro Péter Forgács e Pacific (2009) de Marcelo Pedroso. No início do século, Manovich propôs a criação de uma forma narrativa que refletisse a era em que vivemos, enquanto outros artistas buscavam também contar histórias por meio de recortes, como faz o próprio ser humano ao organizar pensamentos. Dessa forma surgiram projetos como korsakow Syndrom (2000) de Florian Talhofer, Soft Cinema (2005) de Manovich, e O Tempo não Recuperado (2006), de Lucas Bambozzi. Esta pesquisa analisa os aspectos da cultura participativa presentes em duas produções que utilizam o YouTube como banco de dados e exploram, de maneira diferente, estes aspectos. Na primeira, o músico Thiago Correa retrata as manifestações de 2013 com imagens garimpadas no YouTube, um trabalho manual que deu origem ao vídeo Brasil em Cartaz. Na segunda, o projeto YouTag de Lucas Bambozzi, o participante escolhe palavras-chave, frase ou título. A partir daí o software seleciona imagens no Youtube e dá origem a um novo vídeo, características que nos levam a acreditar que tais obras se encaixam na proposta de narrativas da era de banco de dados.
Disponível em: bit.ly/2WMpio2
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