Observatório da Qualidade no Audiovisual

Autismos Entreditos: O que dizem os calados?

De acordo com o Manual de Saúde Mental – DSM-5, o Autismo e outros distúrbios similares – como o transtorno autista, o transtorno desintegrativo da infância, o transtorno generalizado do desenvolvimento não-especificado e a Síndrome de Asperger – são comumente agrupados em um único diagnóstico conhecido como Transtornos do Espectro Autista.

Tais transtornos indicam condições gerais para um coletivo de desordens do desenvolvimento cerebral antes do nascimento ou na primeira fase de vida da criança. Os distúrbios refletem, na maioria das vezes, na dificuldade de comunicação social do portador e em comportamentos repetitivos, além de outras características específicas da ordem de cada transtorno, intensidade e espectro do autismo.

No ano de 2015, com o intuito de esclarecer e discutir a questão que envolve os limiares do tratamento, o preconceito no entorno do paciente autista e nas possíveis formas de cuidado e afeto, a diretora Pâmela Perez desenvolveu, junto do CAPs (Centro de Atenção Psicossocial) o curta metragem “Autismos Entreditos”.

O filme aborda, em aproximadamente 25 minutos, a realidade social dos portadores de diferentes espectros do autismo e teve como objetivo principal promover a reflexão e discussão sobre a vida e o cotidiano de pessoas que convivem com o Autismo na fase adulta, de modo a perceber como são seus desafios, suas rotinas e como o tratamento e o cuidado é desenvolvido no Caps.

Através de entrevistas com mães de pacientes, funcionários do hospital e dos próprios usuários do sistema, a diretora propõe um documentário, que se aproxima de uma reportagem audiovisual. Um dos objetivos centrais da obra parece ser o de esclarecer a população em geral que, embora as dificuldades de sociabilização e de interação dos portadores dos Transtornos do Espectro Autista sejam grandes, o tratamento que envolve afeto, diversão e humanização dos processos médicos são saídas efetivas para o encargo terapêutico.

O filme parece se desenvolver a partir de um estudo de caso específico: as famílias, os funcionários e os pacientes do CAPs foram convidados para um passeio no Piscinão de Ramos, piscina artificial de água salgada no Rio de Janeiro, e os depoimentos foram colhidos durante e depois da viagem. A oficina criada, inédita no CAPs Fernando Diniz, para tratamento de autistas adultos.

Ambos os pacientes e familiares retificaram a necessidade do tratamento humanizado e afetivo aos portadores de transtornos mentais – características observáveis após as lutas antimanicomiais, que marcaram o dever da aplicação dos Direitos Humanos no tratamento e no cuidado. Como alguns pais observaram, os tratamentos antigos, que prendiam os pacientes de quadros graves, os sinais aparentes eram de revolta e nunca de melhora.

Deste modo, as falas potentes e emocionadas dos envolvidos no processo fílmico alertam para os olhares mais sensíveis em relação ao autismo. Em ambientes onde o preconceito pode ser angustiante, a liberdade é ofertada como método de tratamento. Assim, os Autismos Entreditos procuram no carinho a maneira de clamar por ajuda.

Assista a íntegra do documentário: https://www.youtube.com/watch?v=oS4pC-cfjGM

Por Iago Rezende

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