Contos do Edgar é uma série produzida pela O2 Filmes e exibida pelo canal pago Fox. A trama, com apenas cinco episódios exibidos em 2013, contou com Marcus de Andrade (Edgar) e Danilo Grangheia (Fornutato) no elenco fixo. Nomes como Gaby Amarantos (Berê), Maurício de Barros (Cícero) e KauêTelloli (Fred) compuseram o elenco de apoio, que mudava a cada episódio.
Cada episódio da série era baseado em um conto do escritor americano Edgar Allan Poe, famoso pelas histórias de mistério e terror. As histórias eram adaptadas e transpostas para os dias atuais, na cidade de São Paulo. Todos os episódios começam com o protagonista Edgar (Marcus de Andrade), que trabalha numa dedetizadora com Fortunato (Danilo Grangheia). Porém, a cada trabalho de dedetização, acontece uma tragédia sobrenatural. A história sempre é contada a partir do ponto de vista de Edgar (Marcus de Andrade), o protagonista relata a Fortunato (Danilo Grangheia) os acontecimentos, entretanto o amigo nunca acredita no personagem. Como pano de fundo, em todos os episódios, também acompanhamos o mistério sobre o que aconteceu com a esposa de Edgar (Marcus de Andrade).
No Plano da Expressão iremos destacar os seguintes indicadores: ambientação, caracterização dos personagens, trilha sonora, fotografia e edição. A história se passa na cidade de São Paulo e, ao contrário dos contos de Allan Poe, a série é ambientada nos dias atuais. A transposição de tempo e espaço é feita de forma verossímil e realista, de modo que, mesmo que existam elementos sobrenaturais na trama, a série os faz parecer passíveis de terem acontecido. Da mesma forma, a caracterização dos personagens acompanha o perfil de cada personagem, contribuindo para a verossimilhança do enredo.
A trilha sonora é, majoritariamente, instrumental e dá o tom das cenas de suspense e mistério, onde acontecem os eventos sobrenaturais. A fotografia, por sua vez, é neutra nas cenas diurnas e possui tons mais escuros e sombras nas cenas noturnas, contribuindo para o tom soturno dos episódios.
A edição segue o padrão linear na maior parte do tempo, com algumas exceções, como no primeiro episódio (Berê, inspirado no conto Berenice), quando Cícero (Maurício de Barros) tem flashes da noite anterior e do que fez com Berê (Gaby Amarantos). Outro exemplo acontece no último episódio (Lenora, inspirado nos contos O Gato Preto e O Barril de Amontillado), que mostra cenas do passado de Edgar (Marcus de Andrade).
No Plano do Conteúdo iremos destacar os seguintes indicadores: intertextualidade, escassez de setas chamativas, efeitos especiais narrativos, recursos de storytellinge transmídialiteracy. A intertextualidade pode ser observada nas menções a lugares reais, como Minas Gerais, e na própria ambientação da série, que se passa em São Paulo. Isso aproxima os contos da realidade do espectador, contribuindo, também, para a verossimilhança. Pode-se perceber, além disso, referências a elementos famosos das histórias de Allan Poe, que não estão, necessariamente, inseridos nos contos inspirados de cada episódio. As constantes referências ao “corvo” são exemplos, que fazem alusão a um dos principais poemas o escritor – O Corvo.
Já em relação a escassez de setas chamativas, Contos do Edgar apresente o indicador em alguns momentos, permitindo que o espectador ficasse em dúvida em alguns momentos e completasse, por si só, o sentido da narrativa. Nesse contexto, estão os elementos sobrenaturais, que não são didaticamente explicados ao público, o qual pode os considerar reais ou não. Entretanto, as setas chamativas foram utilizadas pontualmente em certas ocasiões, como no episódio “Lenora”, onde há a inserção “2 anos antes” para marcar a mudança de temporalidade, ou no episódio “Berê”, onde há mudança de fotografia para marcar os flashbacks de Cícero (Maurício de Barros).
Os efeitos especiais narrativos, por sua vez, foram observados nos clímax e reviravoltas de cada episódio, os quais desenvolviam a história. No episódio “Lenora”, há uma descoberta sobre Edgar (Marcus de Andrade) que leva o público a reconsiderar a trajetória do personagem. Entretanto, não é necessário grande esforço para reconsiderar a trama e não há mudanças no estilo narrativo do programa.
Em relação aos recursos de storytelling há, além de flashbacks e algumas mudanças de temporalidade, a inserção de sequências oníricas e fantasiosas. Tais sequências vão ao encontro dos contos sobrenaturais de Allan Poe e, por se contrastarem com o ambiente verossímil da trama, podem deixar o espectador em dúvida sobre a realidade de tais acontecimentos. Cabe ao público, portanto, completar o sentido da narrativa de acordo com seu entendimento da trama.
Foram observadas ações transmídia que transcendessem a narrativa, permitindo que o público amplie a experiência televisiva. O site do canal FOX Brasil disponibilizou alguns vídeos do produtor Fernando Meirelles contando sobre a criação da série e algumas cenas dos bastidores. Além disso, a emissora propôs a hashtag “Concurso do Edgar”, através da qual o público poderia responder à pergunta “quais são os elementos essenciais para um conto de terror e por quê?” e concorrer a um livro de Edgar Allan Poe. Nesse sentido, o indicador transmedia literacy foi observado, pois as ações estimulavam o telespectador a correlacionar os vídeos com a trama, que apesar de não contribuírem diretamente com os desdobramentos narrativos, aprofundavam o universo ficcional. O engajamento nas redes sociais, através da hashtag, também propiciou o exercício criativo do público em refletir sobre o estilo narrativo da série, explorando ressignificações da história.
Por Júlia Garcia
Ficha Técnica:
- Criador: Fernando Meirelles
- Direção: Pedro Morelli
- Período de exibição: 02/04/2013–11/06/2013
- Nº de episódios: 5
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