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Maysa – Quando fala o coração

Exibida em janeiro de 2009 pela Rede Globo, a minissérie Maysa – Quando fala o coração conta a história de Maysa Monjardim. Conhecida por seu temperamento forte, a cantora é considerada um dos grandes nomes da música popular brasileira. Apesar da sua morte precoce, aos 40 anos, Maysa teve seu talento reconhecido no Brasil e no exterior. Entre suas músicas de maior sucesso estão Ouça, Meu Mundo Caiu, Tarde Triste, Resposta, Adeus, Felicidade Infeliz, Diplomacia e O Que?.

 Ao longo dos nove capítulos, todos de autoria de Manoel Carlos, a minissérie retrata as três décadas da vida da cantora. Dirigidas pelo filho único de Maysa, Jayme Monjardim, as sequências da trama abordam tanto os principais acontecimentos da vida pessoal da cantora como, por exemplo, o casamento com André Matarazzo, o alcoolismo, o romance com Ronaldo Boscoli quanto a sua trajetória como compositora e intérprete.

Maysa – Quando fala o coração foi protagonizada por Larissa Maciel e ainda contou com nomes como Ângela Dip (Inah Monjardim), Denise Weinberg (Amália Matarazzo), Eduardo Semerjian (André Matarazzo), Gustavo Trestini (Cibidinho), Mateus Solano (Ronaldo Bôscoli), Nelson Baskerville (Monja), Pablo Bellini (Miguel Azanza), Priscilla Rozenbaum (Ana) e Rogério Falabella (Andrea Matarazzo).

No Plano da Expressão iremos destacar os seguintes indicadores: ambientação, caracterização dos personagens, trilha sonora, fotografia e edição. Por ser pautada por abordagem realista, a ambientação de minissérie Maysa – Quando fala o coração é um ponto fundamental na construção do universo ficcional da trama. Nesse contexto, as locações contribuem diretamente para a verossimilhança da história, reforçando a imersão dos telespectadores. Nas cenas que compõe a atração é possível reconhecer edifícios históricos do Rio de Janeiro, hotéis como Copacabana Palace e Glória, a Casa Julieta de Serpa, o Museu de Arte Moderna (MAM), o Palácio Gustavo Capanema, o Palácio Itamaraty e a Reitoria da UFRJ.

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A mansão da família Matarazzo foi reconstruída no interior do Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador do Rio de Janeiro. Para reproduzir as apresentações musicais de Maysa a direção artística usou o Palácio Quitandinha, em Petrópolis. A trama também teve cenas gravadas na Espanha, França e Portugal. Outro ponto importante na ambientação de Maysa – Quando fala o coração foram os objetos cênicos. Cada uma das três décadas retratadas na minissérie é composta por figurinos, veículos e mobílias característicos da época.

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A caracterização dos atores e atrizes da minissérie foi norteada na composição visual e nos trejeitos de pessoas reais. Nesse contexto, a direção artística buscou reproduzir da maneira verossímil figuras conhecidas pelo público. Para interpretar Maysa, Larissa Maciel foi escolhida em testes entre mais de 200 atrizes. A preparação da atriz durou seis meses e envolveu aulas de canto, expressão corporal, além de uma extensa pesquisa biográfica abarcando a leitura do diário da cantora, recortes de jornais, conversas com pessoas que eram próximas a Maysa, etc.

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Assinado por Marília Carneiro e Lúcia Daddario, o figurino da minissérie abrangeu as décadas de 1950, 1960 e 1970. Ao todo foram confeccionadas mais de 70 roupas para a atriz Larissa Maciel. À medida que os anos iam passando as paletas de cores usadas pela cantora se renovava. Entre os anos 50 e 60 as roupas eram escuras (preto, azul marinho, cinza, etc.), nos anos 70 foram usadas túnicas e vestidos marroquinos em tons de azul turquesa e dourado. Alguns figurinos foram cedidos pelo acervo pessoal cantora como, por exemplo, o túnica azul bordada usada durante a apresentação no Canecão, na fase final da minissérie.

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Além de ter uma fisionomia muito semelhante à de Maysa, a atriz Larissa Maciel passava por uma extensa caracterização, envolvendo maquiagem e enchimentos corporais. Feita por Fernando Torquatto a caracterização da atriz durava cerca de duas horas, a cada passagem de tempo novos adereços eram incorporados como, por exemplo, perucas, o formato das unhas e das sobrancelhas.

Composta por músicas de Maysa, canções da bossa nova e instrumentais, a trilha sonora da minissérie ajuda a contar a história da protagonista. Por ser compositora, as letras das canções interpretadas por Maysa dialogam diretamente com a trajetória da cantora. Além de servirem como pano de fundo para os desdobramentos da trama, as canções integram várias sequências da minissérie. Ao longo dos capítulos, a atriz Larissa Maciel dubla os principais sucessos da cantora, reproduzindo suas apresentações em casas de shows e programas de TV.

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Apesar de não ter uma fotografia marcada, isto é, que agregue usos específicos de iluminação e filtros, as cenas de Maysa – Quando fala o coração ressaltam a fisionomia do elenco. Os contrastes usados por Affonso Beato enfatizam a caracterização do elenco como, por exemplo, o olhar de Maysa (Larissa Maciel) e a silhueta de Ronaldo Bôscoli (Mateus Solano). Nesse sentido, o contraponto entre o branco e o preto, o claro e o escuro, reforça a expressão e a interpretação do elenco.

Por fim, o último indicador do Plano da Expressão, representa um ponto importante da construção dos arcos narrativos da minissérie. Por se tratar de um relato biográfico, a trajetória de Maysa (Larissa Maciel) é contada a partir das lembranças da cantora, no primeiro capítulo temos o acidente de carro que culminou na sua morte em 22 de janeiro de 1977 e, posteriormente, os principais acontecimentos das décadas de 1950, 1960 e 1970 são entrelaçados a medida que a protagonista vai se recordando.

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Nesse contexto, a edição não linear da trama é norteada pelas lembranças da cantora, por exemplo, durante sua estadia no Hotel Copacabana Palace Maysa (Larissa Maciel) lembra do seu primeiro encontro com André Matarazzo (Eduardo Semerjian). Entretanto, é importante ressaltar que apesar de ter uma edição não linear, o entrelaçamento da temporalidade das três décadas é feito de maneira didática. Como discutiremos no plano do conteúdo, as analepses são introduzidas a partir de efeitos visuais e legendas.

No Plano do Conteúdo iremos destacar os seguintes indicadores: intertextualidade, escassez de setas chamativas, efeitos especiais narrativos e recursos de storytelling. No indicador da intertextualidade, podemos destacar vários pontos da minissérie, desde a sua concepção até a escalação dos atores que viveram Jayme Monjardim Matarazzo. Além de ser dirigida pelo filho único de Maysa (Larissa Maciel), o diretor Jayme Monjardim, a trama foi roteirizada por Manuel Carlos. Ao longo de seus 66 anos de carreira o autor usou várias vezes as músicas de Maysa como trilha sonora de abertura dos folhetins e temas de suas protagonistas.

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A história da cantora também está imbricada com os atores que interpretaram Jayme Monjardim Matarazzo, filho de Maysa (Larissa Maciel) com o empresário André Matarazzo (Eduardo Semerjian). Jayme foi vivido por seu filho André Matarazzo, na fase da minissérie que retrata a infância do menino e, posteriormente, no período da adolescência por seu outro filho Jayme Matarazzo. Isto é, os atores escalados para interpretar o filho de Maysa (Larissa Maciel) eram na vida real seus netos.

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Assim como em O Canto da Sereia, a minissérie também conta com participações de artistas do cenário musical. Durante uma sequência de Maysa – Quando fala o coração vemos Maria Gadú, apesar não contracenar com nenhum ator a cantora faz uma apresentação em um dos bares que a protagonista frequenta.

Mesmo transitando entre várias temporalidades, a minissérie apresenta inúmeras setas chamativas. Cada lembrança de Maysa (Larissa Maciel) é desencadeada por elementos específicos, ou seja, um gesto, uma palavra, uma situação. Como, por exemplo, quando a protagonista é questionada sobre a diferença de idade entre ela e seu marido, imediatamente Maysa (Larissa Maciel) se lembra de quando André (Eduardo Semerjian) a pediu em namoro. Nesse sentido, apesar de estarem dispostos em diferentes temporalidades os desdobramentos narrativos da minissérie estão correlacionados.

Para que o público não confunda as analepses, as transições entre passado, presente e futuro são demarcadas por fade in e fade out. Alguns plots também são narrados por Maysa (Larissa Maciel), a voz em off da cantora funciona como uma espécie de guia para os momentos introspectivos da protagonista, diminuindo o esforço analítico necessário para o entendimento da história. Até os principais acontecimentos da carreira de Maysa (Larissa Maciel) foram ressaltados com manchetes de jornais da época, ajudando o público a se situar na cronologia da minissérie.

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Por ser baseada em uma história real, a trama de Maysa – Quando fala o coração não apresenta efeitos especiais narrativos. Nesse sentido, todos os clímax e reviravoltas presentes da trama integram estruturas básicas de desenvolvimento narrativo. Dessa forma, em nenhum momento o telespectador é obrigado a reconsiderar tudo o que viu até então. Pelo contrário, o desdobramento da história de Maysa – Quando fala o coração é norteado por recursos narrativos típicos dos folhetins.

Por fim, como discutimos anteriormente a trama da minissérie se desenvolve em três décadas diferentes, nesse contexto, são usados flashback e flashforwards. Entretanto, nenhuma das analepses é introduzida sem seta chamativa. Em outras palavras, mesmo se passando em várias temporalidades, cada passagem de tempo é devidamente demarcada para o público, seja através de efeitos visuais, narrações e legendas. As sequências fantasiosas não foram identificadas na minissérie Maysa – Quando fala o coração.

Por Daiana Sigiliano

* Todas as imagens da minissérie usadas nesta análise são capturas de tela.
 
Ficha Técnica:

  • Autoria: Manoel Carlos
  • Escrita por: Manoel Carlos e Angela Chaves
  • Colaboração: Maria Carolina e Mariana Torres
  • Direção dos musicais: Mário Meirelles
  • Direção-geral e de núcleo: Jayme Monjardim
  • Período de exibição: 05/01/2009 – 16/01/2009
  • Horário: 22h10
  • Nº de capítulos: 9

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