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Os anti-fãs de Shingeki no Kyojin: uma análise dos protestos em rede no caso Wit vs. MAPPA

Título: Os anti-fãs de Shingeki no Kyojin: uma análise dos protestos em rede no caso Wit vs. MAPPA.

Autores: Julia Garcia, Daiana Sigiliano, Gabriela Borges

Resumo curto:

As práticas da cultura de fãs são, em sua maioria, associadas ao envolvimento afetivo do público, motivado pela fascinação e a admiração (Click, 2019). De acordo com Gray (2003; 2019) a valorização de sentimentos como o amor, a empatia e a felicidade é reflexo da abordagem teórico-metodológica da primeira onda de Estudos de Fãs que tinha como viés central a refutação da estigmatização do fã, explorando o engajamento resiliente e a relação prazerosa com o objeto midiático. Entretanto, segundo Jenkins (2008) a leitura crítica e criativa dos fãs é norteada por um confronto constante entre o fascínio e a frustração. “Se a mídia não os fascinasse, não haveria o desejo de envolvimento com ela; mas se ela não os frustrasse de alguma forma, não haveria o impulso de reescrevê-la e recriá-la” (Jenkins, 2008, p. 315). Neste sentido, o fandom também pode ser considerado um espaço de polarização e heterogeneidade de discursos (Orozco, 2021). Esta necessidade de ampliação do espectro afetivo abordado no campo norteia uma das principais áreas da terceira onda de Estudos de Fãs, a dos anti-fãs. Cunhado por Gray (2003) o termo se refere às pessoas que não gostam, de modo afinco, de um gênero e/ou texto midiático, seja pelos seus aspectos morais, estéticos, culturais, criativos e etc. Entretanto, o autor pontua que fandom anti-fandom não são necessariamente pólos opostos, mas constituem modos diferentes do mesmo prisma afetivo, estando intrinsecamente relacionados. Este aspecto pode ser observado, por exemplo, na mobilidade afetiva dos fãs das séries Beauty and the Beast e Dallas (Jenkins, 2015; Ang, 1985). Ao se decepcionarem por conta de decisões criativas e mercadológicas do canal estadunidense CBS, os fãs, inicialmente fascinados com as atrações, se tornam anti-fãs, rebatendo as incoerências do cânone em fóruns de discussão e criando novas camadas interpretativas através de fanfics fanarts. Esta transição do amor para o incômodo, a aversão e até o ódio ganha diversos desdobramentos no ambiente da cultura participativa, em que as disputas antagônicas entre os anti-fãs e os produtores são propagadas nas redes sociais. Embora os estudos sobre fãs e ficção seriada se concentrem, majoritariamente, em casos e modelos anglo-saxões, produções fora do eixo ocidental oferecem um campo profícuo de observação e análise (Albuquerque & Cortez, 2013). Com base neste contexto, este artigo tem como objetivo analisar os protestos organizados no Twitter pelos anti-fãs do animê Shingeki no Kyojin (NHK, 2013-presente). Com as três primeiras temporadas animadas pelo estúdio Wit, o projeto foi posteriormente assumido pelo estúdio MAPPA, responsável pela produção da quarta e última temporada. No entanto, a troca, solicitada pelo próprio Wit, não agradou parcela dos fãs, que utilizaram a rede social para expressar o descontentamento com a mudança. Para a discussão desta questão, monitoramos durante a primeira parte da quarta temporada, exibida entre dezembro de 2020 e março de 2021, três indexações adotadas pelos anti-fãs de Shingeki no Kyojin no Twitter, são elas: #AttackOnTitan, #ShingekiNoKyojin e #AttackonTitanFinalSeason. A abordagem de extração e codificação dos 15.805 tweets foi realizada através do software Atlas.ti. Conclui-se que além de estabelecerem comparações e compartilharem memes criticando a temporada, os protestos também se estenderam à equipe do MAPPA, que recebeu em seus perfis pessoais ameaças e mensagens de ódio.

Disponível em: https://bit.ly/3E9nThd

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