Que Monstro te Mordeu? é um seriado de televisão brasileiro criado por Cao Hamburger e Teodoro Poppovic, exibido de 10 de novembro de 2014 a 15 de janeiro de 2015 na TV Cultura. A trama se inicia quando uma criança desenha um monstro e ele ganha vida em um lugar chamado de Monstruoso Mundo dos Monstros. A partir disso, a narrativa acompanha a personagem Lali (Daphne Bozaski), uma menina metade monstro, que certo dia surge no monstruoso mundo. Neste universo, conhece criaturas e várias situações inusitadas acontecem com Lali (Daphne Bozaski) e seus amigos monstros – Luísa (Melina Meghini), Dedé (Hugo Picchi) e Gorgo (Sidnei Caria).
Quando Cao Hamburger e Teodoro Poppovic começaram a criar os monstros, optaram por deixar as próprias crianças produzirem as criaturas. Por isso, 18 crianças fizeram desenhos dos monstros e, posteriormente, Cao e Teodoro transformaram em personagens da série. Cada episódio traz um personagem novo para tratar de determinada temática. Por exemplo, no quarto episódio é introduzido o monstro “Quero-quero” e a partir disso o consumismo é abordado ao longo da trama.
Exibida nas sextas-feiras às 11h30, com reprises às 19h30, a série foi inserida em um horário direcionado com o objetivo atingir o público infanto-juvenil. A programação da TV Cultura na época, era composta por programas infantis no período da manhã e da tarde. Entre as produções presentes na grade estavam O causo do Dia, Inglês com Música, Os Sete Monstrinhos, Quintal da Cultura, Era uma vez no Quintal, entre outros.
Após a exibição de Que bicho te mordeu? na TV , a história ganhou uma adaptação para o teatro sob direção da premiada atriz Carla Candiotto, com exibição no Centro Cultural Fiesp em São Paulo. A série também é composta por web-episódios de três minutos no canal do YouTube, que fazem parte de quadros temáticos. O canal conta com os números musicais da atração, vídeos de bastidores, vídeos de ciência com o Dr. Z, charadas no quadro “Que monstro sou eu”, vídeos de culinária no quadro “Gorgourmet”, oficinas com crianças, vídeos de notícias do Monstruoso Mundo dos Monstros no quadro “Bafo Monstro” e, por fim, um quadro de curiosidades chamado “Hit Umus”. Além disso, foram lançados pela Sesi-SP editora três livros de receitas do “Gorgourmet”, incluindo volume de sucos, receitas doces e receitas salgadas.
O Monstruosos Mundo dos Monstros é onde acontece todos os conflitos da série. Este universo é composto por elementos que fazem o mundo parecer uma grande floresta como arbustos, construções de pedra, cipós, lagos, entre outros. Além disso, elementos lúdicos como lápis e livros são presentes neste ambiente. Nas cenas de planos abertos, em que o Monstruoso Mundo dos Monstros é exibido de forma mais ampla, estes recursos são apresentados em forma de computação gráfica.
Um dos cenários importantes para a narrativa é a casa do Dr. Z, o cientista. A casa possui aparatos tecnológicos como televisão, computador e de outros equipamentos em que o personagem realiza experimentos, além disso, também há vários livros pelo local. É neste ambiente em que ocorrem grande parte dos conflitos da protagonista, além de ser o lugar em que o Dr. Z faz descobertas de novas espécies de monstro.
Os personagens apresentados na série são derivados de animações feitos por computação gráfica ou são fantoches manipulados por atores. Todos os personagens da série foram criados por crianças, com exceção do monstro Morgume (Aguinaldo Rodrigues Feitosa), um ginseng mutante que foi criado por Dr. Z para ser seu assistente no laboratório. Sendo assim alguns deles se assemelham com objetos reais, como Luísa (Melina Meghini) uma poltrona cor-de-rosa, Gorgo (Sidnei Caria) um latão de lixo e Dedé Haroldo (Hugo Picchi) uma bola de chiclete. Os monstros são compostos por elementos lúdicos como as cores, as texturas utilizadas e os formatos dos personagens, o que contribui para a imersão do público infantil na trama.
No episódio “Moda Monstra” a protagonista Lali (Daphne Bozaski) muda seu figurino com acessórios, apliques, para participar de um concurso de moda no Monstruoso Mundo dos Monstros. Este é o único momento em que há mudança na caracterização nos personagens.
Que monstro te mordeu? faz uso de trilha sonora em seus episódios e em alguns explora as canções através de números musicais. No primeiro episódio “Humano ou Monstro” a canção “Mais Normal” de Clarice Falcão é apresentada em um número musical da personagem Lali (Daphne Bozaski) em um momento da trama em que ela busca sua identidade no Monstruoso Mundo dos Monstros. Outras músicas como “Quero-Quero” de Tim Bernardes, “Medo do Escuro” de Jorge Mautner, “Banho” de John Ulhoa também integram os números musicais da trama. Apesar de ser uma produção direcionada para crianças, as canções exploradas na narrativa abordam temas que também dialogam com outros tipos de público, como a diferença, o consumo, o medo, entre outros. Além deste uso específico, a trilha sonora é composta majoritariamente por músicas instrumentais.
A fotografia da série conta com alto contraste entre os tons e explora de cores vivas, como tons de amarelo, verde, vermelho, marrom, azul. Sendo assim, a fotografia contribui para realçar os ambientes e a vivacidade presente no Monstruoso Mundo dos Monstros. No episódio “Controle Remoto Universal” há uma mudança na fotografia para demarcara mudança de temporalidade. Neste sentido, a fotografia simula uma cena exibida na televisão,já que Lali (Daphne Bozaski) volta no tempo pressionando um botão de controle remoto.
Que bicho te mordeu? possui uma edição linear, ou seja, não explora outras temporalidades além da cronologia presente em sua narrativa. Apenas no episódio “Controle Remoto Universal” a série explora de flashbacks em que a personagem Lali (Daphne Bozaski) mostra para Dr.Z que ele está sempre ausente. Os conflitos ocorrem na mesma cronologia, a partir de uma situação que acontece com Lali (Daphne Bozaski) um tema diferente é abordado no episódio. Sendo assim, cada um possui um arco narrativo isolado que se encerra no mesmo episódio.
O universo ficcional de Que monstro te mordeu? apresenta temas complexos como o consumismo, o medo, o conceito de família, diversidade, entre outros. Apesar de serem abordados de uma forma lúdica e descontraída, os episódios não deixam de trazer os assuntos de forma profunda proporcionando um diálogo até mesmo com outros públicos além do infantil. Como, por exemplo, o consumismo abordado no episódio “Quero-quero”, em que a personagem Lali (Daphne Bozaski), seduzida pelo monstro “quero-quero”, começa a comprar alguns brinquedos e ao longo do episódio temo desejo de consumir cada vez mais. Dessa forma, é possível perceber que há um esforço em abordar a influência da publicidade e sua relação com o consumo.
A série conta com inserções dos personagens representantes do Monstruoso Mundo dos Monstros que aparecem na trama para explicar de forma didática certos termos e questões. Como, no episódio “Almoço de Monstromingo” em que eles discutem o que é família e no episódio “Resort Monstro” em que os personagens definem o significado do termo V.I.P, no caso da série o termo é adaptado para V.I.M que significa very important monster. Neste episódio, os representantes traduzem cada palavra do termo e em outro momento do episódio discutem sobre misturar palavras em inglês com português dando opiniões sobre o assunto.
Neste sentido, a trama promove o debate dos temas, contribuindo para a ampliação do horizonte e o estímulo a reflexão de temas relevantes de uma maneira eficaz.
A série apresenta ampla diversidade entre seus personagens, cada um possui características físicas e perfis diferentes. Lali (Daphne Bozaski) é uma menina monstra, Luísa (Melina Meghini) é uma poltrona rosa, Gorgo (Sidnei Caria) é um latão de lixo, Dr. Z (Paulo Henrique Santos) é um cientista atrapalhado e Dedé Haroldo (Hugo Picchi) é um monstro feito de chiclete. Além disso, a diversidade é um dos temas trabalhados na série quando Lali (Daphne Bozaski) chega ao Monstruoso Mundo dos Monstros e não se identifica com os outros habitantes do lugar.
Apesar de tratar da diversidade, a série deixa essa questão de lado em momentos pontuais. No episódio “Nasceu um chifre em mim!”, a protagonista Lali (Daphne Bozaski) faz um novo corte de cabelo e começa a chamar a atenção dos habitantes do Monstruoso Mundo dos Monstros. Por isso, Luísa (Melina Meghini) sente inveja de sua amiga e passa a usar um chifre em sua cabeça, o que faz superar o sucesso do cabelo de Lali (Daphne Bozaski). Neste sentido, é possível identificar um reforço de estereótipo feminino e destaque para a rivalidade entre mulheres.
A série apresenta essas questões em torno de situações do cotidiano da protagonista. Como no episódio “Almoço de Monstromingo” em que a partir de um almoço de domingo em família, é debatido a alimentação saudável e o preconceito com determinados tipos de comida. Por trazer situações que fazem parte do cotidiano dos telespectadores a trama promove a identificação e se aproxima do público.
Que bicho te mordeu? estimula a imaginação do público ao apresentar um universo lúdico e repleto de fantasia e imaginação. Um dos principais elementos que contribuem para a imaginação dos telespectadores é a proposta da série, de que o monstro imaginado por uma criança ganha vida e vai para o Monstruoso Mundo dos Monstros. A partir disso, a série utiliza de várias sequências fantasiosas, como no episódio “Humana ou Monstro” em que Lali (Daphne Bozaski) se imagina da cor azul, com rabo maior. E também quando há a presença de cenas dos órgãos internos da personagem conversando entre si.
Que bicho te mordeu? é inovadora ao proporcionar um alto nível de informação para o público através da explicação didática de termos. A serie também estimula a cidadania ao contar com a presença de um órgão de representantes do Monstruoso Mundo dos Monstros, demonstrando as funções que os membros possuem dentro de uma comunidade, que no universo ficcional da série é ser responsável pelas decisões importantes para o Monstruoso Mundo dos Monstros. A produção também estimula o público a saber mais sobre o corpo humano, através das inserções dos órgãos de Lali (Daphne Bozaski) ao longo dos episódios e sobre ciência a partir dos experimentos e descobertas do Dr. Z (Paulo Henrique Santos). Todos estes elementos de caráter educativo são apresentados de forma lúdica, divertida e leve, proporcionando uma comunicação eficaz com o público infantil.
A TV Cultura promoveu a comunicação com o público através da sua página no Facebook, que conta com posts de vídeos, fotos, entre outros.
A série também possui um canal no YouTube que conta com conteúdos extras da série, como os números musicais, bastidores, entre outros. No canal foi realizada uma estratégia para promover a participação do público. Em um dos vídeos do quadro “clipe musical”, que mostra os personagens cantando uma música inédita, a protagonista Lali (Daphne Bozaski) fez uma dancinha engraçada chamada “Shikabum”. A ideia veio do episódio do ‘Monstro da Vergonha’, em que a Lali grava um vídeo seu dançando e cantando e esse vídeo vaza na monstronet. A partir disso, o telespectador que quisesse participar da brincadeira da Lali (Daphne Bozaski) e dos outros monstros poderia gravar um vídeo fazendo sua versão de dancinha engraçada e enviá-lo no próprio canal do YouTube da série. Os mais divertidos foram exibidos numa playlist especial da página.
Por Mariana Meyer
Ficha Técnica:
- Criadores: Cao Hamburger e Teodoro Poppovic
- Diretores: Arthur Warren, Gustavo Suzuki e Maria Farkas
- Elenco: Daphne Bozaski, Paulo Henrique Santos, Aguinaldo Rodrigues Feitosa, Hugo Picchi, Melina Menghini, Sidnei Caria.
- Exibição: 10/11/2014 a 15/01/2015
- Temporadas: 1 temporada
- Número de episódios: 50 episódios
- Duração: 30 minutos
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