Série em doze episódios, Supermax foi exibida pela Rede Globo entre 20 de setembro e 13 de dezembro de 2016. Criada por José Alvarenga Jr., Fernando Bonassi e Marçal Aquino e dirigida por José Alvarenga Jr., José Eduardo Belmont e Rafael Miranda, a proposta da obra era explorar o gênero horror tendo como cenário um presídio de segurança máxima localizado no interior da Amazônia onde doze criminosos disputariam um prêmio de dois milhões de reais, numa espécie de reality show televisionado.
Comandada por Pedro Bial, a disputa gira em torno do ex-jogador de futebol Artur (Rui Ricardo Diaz), o ex-PM Sergio (Erom Cordeiro), a enfermeira Bruna (Mariana Ximenes), a psicóloga Sabrina Toledo (Cléo Pires), o economista José Augusto (Ademir Emboava), o ex-padre Nando (Nicolas Trevijano), a empresária Janette (Maria Clara Spinelli), a atriz Cecília Damasceno (Vânia de Britto), a dona de casa Diana (Fabiana Gugli), o ex-lutador de MMA Luisão (Bruno Belarmino), o médico Timóteo (Mário César Camargo), por fim, Dante (Ravel Andrade) e todos têm em comum um grave problema com a justiça. Sendo assim, o passado e o crime de cada um é revelado ao longo dos episódios.
Contudo, a disputa que, num primeiro momento, seria em razão do dinheiro e do perdão do público, se transforma na luta pela sobrevivência: quando a produção não entra mais em contato com os participantes e uma doença fatal começa a se espalhar, o grupo decide achar uma saída do presídio passando por diversas dificuldades e armadilhas. Assim, descobrem que o local é dominado por Baal (Márcio Fecher), uma espécie de líder com a fórmula da cura para a doença da qual os participantes padeceram no presídio. Porém seu único desejo é procriar com mulheres “saudáveis” e matar qualquer outro que cruzar seu caminho.
Supermax foi a primeira série a ser disponibilizada antes da estreia na TV aberta na plataforma sob demanda do Grupo Globo, a GloboPlay, tendo os primeiros onze episódios liberados. A estratégica visava “atingir um público habituado aos portais de streaming e à prática de binge-viewing, ou ‘maratona’ em que se assiste em sequência a vários capítulos ou episódios de uma narrativa seriada” (PUCCI, 2017, p.306).
Na madrugada do dia 10 de dezembro de 2016, com a proximidade do episódio final, a Rede Globo promoveu a mesma maratona na televisão, reexibindo, em sequência, os onze primeiros episódios da trama. A série também foi lançada no formato físico em 4 DVDs, pela Som Livre, e a Loja Globo colocou à venda camisetas e canecas licenciadas da série.
Rodada ao mesmo tempo e utilizando os mesmos cenários erguidos nos Estúdios Globo, a versão Supermax: O inferno em suas mentes foi produzida no idioma espanhol com foco nos países latinoamericanos, em dez episódios. No elenco, estiveram presentes atores reconhecidos como Alejandro Camacho (das telenovelas Ambição [Cuna de Lobos] e Garotas Bonitas [Muchachitas]), Laura Neiva (O Rebu) e César Trancoso (Flor do Caribe).
Nesta análise, para o Plano da Expressão, observamos os seguintes indicadores: ambientação, caracterização dos personagens, trilha sonora, fotografia e edição.
O cenário principal é um presídio de segurança máxima desativado localizado na Amazônia. Segundo o site Memória Globo,
“a prisão de segurança máxima tem três andares, 800 metros quadrados, é eletrônica e foi construída dentro de uma tenda de onze metros de altura. São doze celas com portas automáticas e estrutura independente para cada um dos participantes, como cama e vaso sanitário. Na área comum, uma escada de metal dá acesso ao refeitório e à sala de TV. O ambiente é cinzento, tem um teto no estilo vitral e não tem janelas”.
Isolados e presos, os participantes do reality se deparam com outras faces da prisão, como o subterrâneo. Abandonado, sem luz e com grandes montes de areia e armadilhas. Concluímos assim que a ambientação da série busca evocar os medos do telespectador com tensão e a preocupação permanente, a claustrofobia e a ameaça biológica do local são importantes fatores da construção narrativa.
A caracterização dos personagens é inspirada em uniformes presidiários. Os participantes de Supermax vestem camiseta, moletom e sapato de velcro todos na cor azul. No decorrer da trama, além da degradação do figurino, já que as peças que os jogadores possuem são únicas, a degradação física é bem demarcada com maquiagens que demonstram o esgotamento de cada personagem.
Para o vilão Baal, o ator Márcio Fecher teve de depilar todo seu corpo, utilizar lentes nos olhos, maquiar-se com cicatrizes e aplicar barro em seu corpo. Tal caracterização busca delimitar sua transformação de pastor Nonato para o líder da seita Baal, figura maléfica, repugnante, semelhante a um humanoide e detentor da cura para o vírus mortal que se espalha na região onde localiza-se o presídio.
Composta por instrumentais, a trilha sonora a cargo de Márcio Lomiranda buscou reafirmar a atmosfera de horror da proposta original da série. A única música com vocais é a presente na vinheta de abertura, “Darkness” de Leonard Cohen. Apesar de não composta exclusivamente para Supermax, na letra da canção podemos perceber referências ao enredo como o trecho “I said: Is this contagious?” (“Eu disse: isso é contagioso?”, tradução livre) o qual podemos relacionar ao vírus que se dissemina na prisão.
A fotografia escolhida busca se aproximar do formato do reality show. As imagens retratam de forma naturalista, por vezes em baixa qualidade ou pouco foco, o que ocorre dentro da prisão. Em sua maior parte são simulações de captura por câmeras de vigilância, incluindo visualizações noturnas do interior das selas. Quando o telespectador se dá conta que não existe mais a produção assistindo aos participantes, as imagens destas câmeras ajudam a criar o clima de mistério onde a dúvida se transforma em “quem está, agora, no comando do jogo?”.
Por fim, a edição é feita de forma não-linear. Em um primeiro momento, mescla as situações dentro da prisão como um reality show e o passado pregresso dos participantes, revelados aos poucos. Num segundo momento, quando o foco se direciona para o contágio existente entre os personagens, busca em flashback explicar a história do lugar onde se localiza a penitenciária e a luta por sobrevivência dos personagens.
No Plano do Conteúdo, temos os seguintes indicadores: intertextualidade, escassez de setas chamativas, efeitos especiais narrativos, recursos de storytelling e transmedia literacy.
No indicador intertextualidade, podemos destacar o diálogo com formato dos realitys de onde parte a premissa da série. Do confinamento, às provas sugeridas e apresentação de Pedro Bial, no primeiro e no último episódio. Vale lembrar que o mesmo apresentou quinze edições do Big Brother Brasil, principal exemplo do formato no país. A mescla entre ficção e realidade bem como a fidedignidade destes tipos de produção são questões levantadas ao telespectador que pode analisar criticamente estes programas.
Outro exemplo é o passado da personagem Diana, que assassinou e esquartejou o marido tal como pôde ser visto nos noticiários da vida real entre o empresário Marcos Matsunaga e sua esposa, ex-garota de programa Elize Matsunaga, fato ocorrido em 2012.
A série faz uso de diversos cartazes narrativos no enredo sobre o contágio. Em diversos momentos, como no sexto episódio, onde se decide pela morte de Cecília, são realizados diálogos que visam esclarecer sobre a ocorrência de uma doença dentro da prisão e dos posicionamentos dos personagens sobre assassinar ou não os infectados. Sendo assim, o indicador escassez de setas chamativas não foi observado.
Quanto aos efeitos especiais narrativos, nenhuma sequência obriga o telespectador a reconsiderar todos os arcos narrativos apresentados na trama. Porém, durante o décimo episódio ocorre um flashback retomando à época da construção do presídio, o início do surto do vírus mortal, a criação de uma quarentena para tentar contornar-se a situação além da morte de vários indivíduos. Nesse mesmo episódio, é explorada a origem de Baal, o grande vilão dos presos de Supermax. Trata-se do ex-pastor Nonato, que vê sua família morrer e é infectado pelo vírus. O personagem acaba descobrindo que a radiação de uma caverna é a cura para o malefício. Sendo assim, revolta-se contra Deus e cria uma seita satânica recrutando pessoas para seu lado em troca da cura.
O indicador recursos de storytelling não pôde ser observado na série. Os flashbacks presentes para esclarecer o passado dos personagens e do local são feitos de forma demarcada por setas chamativas que explicam ao telespectador a temporalidade com efeitos visuais e/ou mudanças de fotografia.
Por último, Supermax, além dos vídeos, perfis de personagens e galerias de fotos dos bastidores disponibilizadas no site Gshow, do Grupo Globo, contou com duas ações principais como desdobramento transmídia da série. São elas a websérie “Supermax por dentro” e o jogo para smartphones “Supermax – O jogo”.
Entre 4 de outubro e 9 de dezembro de 2016, em paralelo à exibição da série na TV, o portal Gshow veiculou Supermax por dentro, em dez episódios de cerca de quatro minutos. Trata-se de uma espécie de spin-off onde dois jovens buscam desvendar o passado dos personagens, fazendo uso de teorias mirabolantes com base nos episódios transmitidos pela Rede Globo. A linguagem e a estética utilizada nesta websérie se aproxima dos vlogs pessoais.
A partir das discussões sobre o conceito de transmidia literacy, consideramos que este conteúdo contempla tal indicador, pois instiga os telespectadores a também descobrirem o passado criminoso de cada participante do reality, além da linguagem escolhida dialogar com um formato bastante consumido pelo público online.
O jogo para smartphones “Supermax – O jogo” foi desenvolvido através de uma competição promovida pelo Grupo Globo na Brasil Game Show de 2016. Dez equipes participaram de uma gincana de programação durante 48 horas em uma casa de vidro, o game para Android e iOS da vencedora Antworks Studio, com base na votação popular, teve lançado ao longo da exibição dos últimos três episódios pela Rede Globo.
Ao ter contato com o jogo, percebemos que ele se refere inteiramente ao universo da série, demandando de conhecimentos prévios da história para completar os enigmas. Baseado na jogabilidade de primeira pessoa, o indivíduo deve explorar ambientes, achar pistas e resolver mistérios em três fases.
Segundo Pucci (2017, p. 306),
“os exemplos permitem constatar a identificação do mobile game como um ponto de acesso à franquia de modo geral, com o segundo produto dependente do primeiro, em caracterização de metagaming: o uso de informações ou recursos externos ao game que afetam as decisões.”
O metagaming, ao fomentar a resolução dos mistérios da série televisiva em outra plataforma, pode ser considerado um exemplo de promoção da transmidia literacy nos telespectadores impulsionando o acesso, a participação, a análise e o entendimento crítico do conteúdo. Além disso, ao estabelecerem novas conexões entre os personagens, passados, bem como entre arcos narrativos e o jogo, o público têm a oportunidade de aprofundar e ressignificar o universo ficcional de Supermax.
Por Léo Lima
Ficha Técnica:
- Criação: José Alvarenga Jr., Fernando Bonassi e Marçal Aquino
- Direção-geral: José Alvarenga Jr.
- Período de exibição: 20/09/2016 – 13/12/2016
- Horário: 23h15
- Nº de episódios: 12
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