Observatório da Qualidade no Audiovisual

A música independente portuguesa na cultura digital

Equipe
Gabriela Borges (coordenação)
Valdemir Neto
Daiana Sigiliano
Mafalda Nobre
Duarte Baião

Este projeto exploratório tem como objetivo mapear os artistas independentes portugueses a fim de estudar as estratégias que adotam na utilização das redes sociais para a divulgação de seus trabalhos e de refletir sobre as mudanças introduzidas pela cultura digital no mercado da música independente em Portugal. 

A partir de uma cartografia inicial pretendemos aprofundar a reflexão sobre os modos de produção do mercado de música independente em Portugal; compreender as especificidades da inserção da região do Algarve no cenário nacional; entender a dinâmica de funcionamento dos gêneros musicais neste mercado e, acima de tudo, questionar a real inserção dos artistas no ambiente da cultura digital a fim de compreender, entre outros, a literacia digital em operação para a produção de conteúdos digitais. 

É parte integrante do projeto internacional Redes de música pop-periférica lusófonas: gêneros, formatos, performances e narrativas em fluxos no ecossistema digital, coordenado pela professora Simone Pereira de Sá, da Universidade Federal Fluminense, em parceria com as seguintes universidades brasileiras e portuguesas: Universidade Federal da Bahia, Universidade Federal de Pernambuco, Universidade Federal de Juiz de Fora, Universidade Paulista, Universidade do Porto, Universidade Nova de Lisboa e Universidade do Algarve.

Metodologia

A metodologia utilizada apresenta-se como um desdobramento dos estudos de Borges & Sigiliano (2021) e divide-se em três momentos: 

1) Levantamento dos artistas

Num primeiro momento foi feito o levantamento dos artistas nos seguintes sites especializados, catálogos de associações e na plataforma de streaming Spotify.

  • Volumes I e II do Acervo da Música Portuguesa produzido pela Associação Profissional de Músicos Artistas e Editoras Independentes
  • Catálogo dos sites de produtores independentes
  • Artistas do Festival da Canção

Definição de artista independente para a seleção da amostra:

  • O artista deve ter propriedade intelectual e ser o detentor do direito de suas obras.
  • Pode ter gravadoras e management, desde que auxiliem no processo de gestão da carreira, e que não sejam detentores em regime integral ou parcial das obras produzidas.

É importante destacar a dificuldade na realização do levantamento uma vez que foram encontrados níveis distintos de artistas independentes (com ou sem agenciamento artístico, contratos exclusivos de distribuição, etc)

Definição de gênero

Discutido pelos campos de pesquisa em música e em comunicação, a noção de gênero na contemporaneidade é norteada pela constante reconfiguração (Janotti Jr.; Sá, 2019). De acordo com Janotti Jr. e Sá (2019), Amaral (2007) e Siles et al (2019) apesar de ser um mediador importante nas relações entre os produtores e o público, além de um ponto norteador no mercado fonográfico, o gênero deve ser pensado como uma construção dinâmica, que varia de acordo com o contexto social, cultural e político. Neste sentido, as discussões sobre o gênero musical no ambiente digital são mais inclusivas e abrangentes. É importante ressaltar também que a popularização das plataformas de streaming e as novas métricas mercadológicas, impulsionam a hibridização dos gêneros. Em que cada vez mais os artistas têm buscado explorar diversos gêneros musicais com o objetivo de integrarem listas nas plataformas de streaming voltadas para vários públicos.

A partir desse contexto, nesta pesquisa os gêneros foram divididos nas seguintes categorias: 

  • Gênero: classificação do artista com base nas características compartilhadas, tais como estilo, forma e contexto cultural. 
  • Subgênero: classificação mais restrita dentro de um gênero.
  • Híbrido: classificação mais abrangente, composta por dois ou mais gêneros e/ou subgêneros 

Sendo assim, até 2024 foram coletados 233 artistas entre 15/02/2024 e 18/06/2024 e categorizados respectivamente de acordo com os gêneros, sendo:

2) Análise da circulação de conteúdos digitais

A análise da circulação de conteúdos digitais está baseada nos estudos de Bruns & Moe (2014) e foi desenvolvida nas seguintes etapas:

  • Macro: Mapeamento dos perfis nas redes sociais e plataformas digitais Instagram, Facebook, Youtube, TikTok e Vimeo
  • Meso: Coleta de dados e categorização das publicações
  • Micro: Análise das estratégias de divulgação dos artistas

2.1) Mapeamento dos perfis nas redes sociais e plataformas digitais

Após o levantamento foi realizada uma busca ativa pelos perfis dos artistas nas redes sociais Instagram, Facebook, Youtube, TikTok e Vimeo.

2.2) Coleta de dados e categorização das publicações

A seguir foram coletadas as publicações para entender as estratégias de comunicação utilizadas pelos artistas nas redes sociais de acordo com gêneros, formatos e conteúdos. Para a análise das publicações, optou-se pelo Instagram como a rede social de referência para esta investigação, tendo em vista que se apresenta como a plataforma mais ativa entre os artistas da amostra. A partir do levantamento, chegou-se a seguinte categorização das publicações identificadas na rede social:


Após esse processo, para prosseguir com a análise, foram selecionados os artistas de acordo com o número de seguidores (mínimo de 5 mil seguidores) e com relevância na plataforma, priorizando a variedade dos conteúdos observáveis. Foram observados os meses de janeiro, fevereiro e março de 2024 para os artistas com certa regularidade de publicações na rede, e desde outubro de 2023 para os artistas com pouca frequência. 

Os artistas selecionados tiveram as publicações recolhidas e categorizadas de acordo com os seguintes formatos:

  • Reels: conteúdos em vídeo publicados no formato Reels, com vídeos na proporção 1080×1920.
  • Fotos/Vídeos: conteúdos em formato carrossel, combinando fotos e vídeos em uma única publicação.
  • Fotos: fotos publicadas de maneira isolada ou em formato carrossel.

2.3) Análise das estratégias e sistematização das ações em infográficos

Posteriormente, serão realizadas as análises, por meio de infográficos, das estratégias adotadas por cada um dos artistas.

3) Entrevistas em profundidade: Vozes do Algarve

Serão realizadas entrevistas em profundidade com artistas independentes do Algarve a fim de serem construídas narrativas multimídia para darem a conhecer a carreira dos artistas, suas particularidades, bem como as mudanças ocorridas no panorama musical com a cultura digital. 

Referências

AMARAL, A. Categorização dos gêneros musicais na Internet – Para uma etnografia virtual das práticas comunicacionais na plataforma social Last.fm. In: FREIRE FILHO, J.HERSCHMANN, M. (orgs.).Novos rumos da cultura da mídia: indústrias, produtos e audiências. Rio de Janeiro: 2007. p. 227-242. 

BORGES, G. ; SIGILIANO, D.. Qualidade audiovisual e competência midiática: proposta teórico-metodológica de análise de séries ficcionais. In: 30° Encontro Anual da Compós, 2021, São Paulo. Anais 30° encontro anual da Compós. São Paulo: Compós, 2021. p. 1-26.

BRUNS, A.; MOE, H. Structural layers of communication on Twitter. In WELLER, K. et al. (orgs.). Twitter and Society. Nova York: Peter Lang, 2014, p. 15-28.

JANOTTI Jr., J.; SÁ, S. P. de. Revisitando a noção de gênero musical em tempos de cultura musical digital. Galáxia (São Paulo), N. 41, p. 128-139, 2019. DOI http://dx.doi.org/10.1590/1982-25542019239963   

SILES, I. et al. Genres as social affect: Cultivating moods and emotions through playlists on Spotify. Social Media+ Society, v. 5, n. 2, p. 2056305119847514, 2019. https://doi.org/10.1177/2056305119847514