Observatório da Qualidade no Audiovisual

As novas formas de participação estabelecidas pela Social TV

Você sabe o que as séries Grey’s Anatomy, Scandal, How to Get Away with Murder, Law & Order: SVU e Pretty Little Liars têm em comum? Todas elas promovem live-chats com os atores, as atrizes e os roteiristas durante a exibição de seus episódios. Segundo uma pesquisa divulgada pelo Twitter (2014), a prática resulta num aumento de 61% no buzz em torno do programa e faz com que número de seguidores do perfil oficial da atração aumente 12,2 vezes.

Conforme já discutimos no artigo “Ciber-watercooler no Oscar: Discussões sobre a Social TV”, essa capacidade das celebridades de aumentarem o fluxo em torno de um tópico é um fator muito explorado na Social TV. Esse tipo de estratégia pode ser observado na série estadunidense The Mindy Project (2012), exibida pela Fox. De acordo com a reportagem publicada pelo site Fast Company (2012) grande parte do buzz gerado durante a exibição do sitcom se deve à representatividade que a atriz Mindy Kaling exerce no Twitter. A protagonista tem 6,43 milhões de seguidores e usa o microblogging para engajar os telespectadores interagentes, convidando-os para assistir ao programa, divulgando informações e até mesmo trocando mensagens. O jornalista Ari Karpel (Fast Company, 2012) afirma que a atriz consegue mobilizar o público porque interage com ele, cerca de 76% de seus tweets são menções a outros usuários.

De acordo com Proulx e Shepatin (2012), a Social TV inaugura uma nova experiência coletiva, pois além do backchannel formado inúmeros interlocutores, a arquitetura informacional do Twitter permite que o telespectador interagente comente a programação com o elenco e os roteiristas das tramas. As séries estadunidenses Bates Motel e Scandal, por exemplo, convidam o público para um bate papo com os atores, as atrizes e os showrunners, durante a exibição da trama.

Em entrevista ao The New York Times (2013), Shonda Rhimes, showrunner de Scandal, explica que todos os membros de sua equipe tem um perfil no microblogging para poder interagir com o público. “Quando nós estávamos falando sobre como divulgar o seriado, nós vimos que por serem apenas sete episódios na [primeira] temporada a emissora não iria se engajar muito para promover a estreia. Kerry [Washington, que interpreta Olivia Pope em “Scandal”] me disse: ‘Eu acho que todos nós deveríamos entrar no Twitter’. Então eu pedi que ao elenco que todos criassem uma conta Twitter, e todo mundo cumpriu o combinado. Nossos cabeleireiros tweetam, nosso D.P. [diretor de fotografia] tweeta, cada membro da nossa equipe, basicamente, tem uma conta no Twitter agora. Eles adoram fazer isso, é divertido para eles” (livre tradução). A presença massiva da equipe de Scandal na plataforma tem dado certo, a série gera semanalmente uma média de 350 mil tweets durante sua exibição (Nielsen, 2015).

Essa dinamicidade da Social TV também influencia nos arcos narrativos dos programas. Exibida pelo canal estadunidense USA Network a série Covert Affairs (2010) teve um plot alterado graças aos comentários da rede social. Segundo o The Wall Street Journal (2012), os questionamentos dos fãs em relação à cegueira de Auggie Anderson (Christopher Gorham) foram tantos, que os roteiristas acabaram rescrevendo os acontecimentos da season finale da segunda temporada. “Tinha um grupo de fãs que realmente sentiam compaixão por ele e acho que de uma forma muito romântica, queriam que ele tivesse a sua visão de volta. Precisávamos dar uma resposta a eles” (livre tradução)”, disse Christopher Gorham. Para responder as perguntas postadas pelos telespectadores interagentes, os roteiristas adicionaram uma cena ao episódio Letter Never Sent. Nela, o médico dá a notícia de que Auggie não é mais um candidato em potencial para o tratamento experimental.

Além de estimularem o appointment television, essas ações de engajamento relacionadas a Social TV estabelecem novas possibilidades de participação do público. Em que o telespectador interagente tem a oportunidade de comentar a trama com inúmeros interlocutores, e muitas vezes, podendo até alterar os rumos do universo ficcional.

Referências:

Can Mindy Kaling’s 1.8 million twitter followers make her new sitcom a hit? FAST COMPANY ,2012. Disponível em: <http://www.fastcompany.com/3000051/can-mindy-kalings-18-million-twitter-followers-make-her-new-sitcom-hit>. Acesso em: 12 fev. 2016.
Estudo: Tweetar ao vivo aumenta o volume de conversa no Twitter e cria uma audiência social para o seu programa de TV. TWITTER, 2014. Disponível em? https://blog.twitter.com/pt/2014/estudo-tweetar-ao-vivo-aumenta-o-volume-de-conversa-no-twitter-e-cria-uma-audi-ncia-social. Acesso em: 14 fev. 2016.
Post-Water-Cooler TV: How to Make a TV Drama in the Twitter Age. THE NEW YORK TIMES, 2013. Disponível em: <http://www.nytimes.com/2013/08/11/arts/television/how-to-make-a-tv-drama-in-the-twitter-age.html?pagewanted=all&_r=0>. Acesso em: 12 fev. 2016.
PROULX, Mike; SHEPATIN Stacey. Social TV – How marketers can reach and engage audiences by connecting television to the web, social media, and mobile. New Jersey: John Wiley & Sons Inc, 2012.
When Twitter Fans Influence TV Shows. THE WALL STREET JOURNAL, 2012. Disponível em: http://www.wsj.com/video/when-twitter-fans-influence-tv-shows/85CC3625-00FE-457B-8D64-AC725928A068.html. Acesso em: 14 fev. 2016.
Por Daiana Sigiliano

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