A primeira rodada da fase de grupos da UEFA Champions League ocorreu nos dias 17 e 18 de setembro, e teve sua transmissão no Brasil realizada pelo Esporte Interativo. Até agosto de 2018, o Esporte Interativo possuía canais de TV fechada e uma plataforma de streaming própria que trabalhava com a editoria de esportes, com diversos programas no formato de “mesa redonda” e as transmissões de alguns campeonatos de futebol, sendo o carro chefe do canal a própria UEFA Champions League.
A Turner, conglomerado de mídia norte-americano responsável pelo EI e por outras emissoras de TV fechada no Brasil (como TNT, Space, Warner e Cartoon Network), anunciou então o fechamento dos canais esportivos e a migração dos seus principais programas e transmissões para o TNT e para o Space, além de manter o EI Plus, plataforma de streaming do canal. A empresa decidiu também realizar as transmissões da Champions League pela plataforma de streaming do Facebook, o Facebook Watch.
Assim, a exibição das diversas partidas do campeonato é dividida entre essas plataformas de retransmissão do Esporte Interativo: o Space, a TNT, o EI Plus e o Facebook. Isso, de certa maneira, descentralizou a proposição de uma hashtag oficial para conversação e participação do público nas transmissões. Foram propostas diferentes indexações, como #ChampionsNaTNT, #ChampionsNoEIPlus, dentre outras. A hashtag veiculada no Twitter que, de certa maneira, vale para qualquer uma das formas de assistência e reúne comentários sobre vários jogos é a #CasaDaChampions, que remete ao Esporte Interativo como um todo.
Buscamos então o uso da #CasaDaChampions no Twitter entre os dias 17 e 18 de setembro, reunindo um volumoso número de comentários que demonstrou a popularidade da competição e da sua transmissão no Brasil. Para uma sistematização exploratória que dê conta das tendências de utilização da #CasaDaChampions, mapeamos então 1000 publicações com a hashtag (500 de cada dia) e categorizamos as mesmas nas formas de repercussão que apontamos na proposta de levantamento geral das práticas de Social TV associadas ao consumo de conteúdos futebolísticos, do qual essa análise faz parte.
O mapeamento dessas 1000 publicações com a #CasaDaChampions apontou os seguintes dados: 114 publicações foram dos perfis oficiais da transmissão; 711 foram publicações feitas pelos espectadores se referindo ao jogo e as questões que o envolvem; 105 foram comentários dos espectadores sobre a transmissão; e 70 foram comentários que envolveram as duas instâncias anteriores.
No caso das 114 publicações feita pelos perfis oficiais, observamos que a sua esmagadora maioria foi feita pelo perfil do próprio Esporte Interativo no Twitter: algumas antes do início das partidas, em tom convocatório, outras durante, repercutindo acontecimentos do jogo (inclusive com fotos e vídeos), e outras ao término, informando os placares finais. Alguns poucos comentários também foram feitos pelo perfil oficial da TNT e por jornalistas da emissora envolvidos na transmissão.
As 711 publicações feitas pelos espectadores se referindo ao jogo abordaram diversos temas e formas de expressão. Elas foram enquadradas na mesma categoria já que aqui a intenção é observa-las em comparação com as que se referem ao âmbito da transmissão, mas podemos considerar que muitas divergiram entre si. No geral, foram na sua maioria comentários sobre o jogo, explorando acontecimentos da partida, revelando a torcida por algum dos times, ou até dando palpites sobre escolhas dos técnicos e das equipes. Esse fluxo geral, como indicado, envolveu comentários que não se referiram à transmissão.
Dentre as 105 que se referiram à transmissão em si, a sua maioria foram comentários elogiosos ou críticos aos narradores e comentaristas. Esse fluxo de conversação não enfocou no desenrolar esportivo do que foi transmitido, e sim gerou uma nova camada discursiva sobre o discurso dos jornalistas.
Já no que se refere às publicações que envolveram tanto o jogo quanto a transmissão, observamos 70 ocorrências. Nessas, a maioria dos comentários se apropriou do discurso dos jornalistas sobre o jogo para, então, em um segundo momento, repercutir também o jogo. Esse movimento também foi posto em prática em forma de pergunta aos jornalistas com base no que os espectadores observaram dos jogos, como no exemplo a seguir.
Esse segundo levantamento se mostrou bem mais amplo que o primeiro, e trouxe uma tendência geral de repercussão daquilo que naturalmente se imagina ser de interesse do público: o jogo em si. No entanto, encontramos também um relevante número de comentários que referiram, de alguma maneira, o discurso dos jornalistas e da emissora que transmitiu o evento esportivo. Essas camadas discursivas operadas na conversação em rede demonstram que se trata de um público que se interessa por futebol, mas não somente por ele, e que aciona diferentes competências e conhecimentos sobre o que considera também uma transmissão ruim ou de qualidade.
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