Flutua

• Artista: Johnny Hooker; Liniker
• Álbum: Coração
• Data de Lançamento: 2017
• Gênero: Rock, MPB
• Categorias: Indústria/ Narrativa 

Por Davi Barroso

Johnny Hooker,  o nome artístico de Johnny Donovan Maia, é cantor , compositor, ator e roteirista vindo de Recife. O artista começou sua carreira musical em 2004 com o lançamento do EP The Blink of The Whore’s Pussy e estreou como ator em 2009 com o curta de Daniel Aragão, Não Me Deixe em Casa. Os seus shows e músicas normalmente são norteados pelo seu lado romântico,  subversivo  e performático. Com fortes elementos do Glam rock e pop e frequentemente levanta bandeiras, como a LGBT+. O artista se diz influenciado pela sua “Santíssima Trindade” artística, que são Bowie, Madonna e Caetano Veloso, seu ritmo musical varia e mistura pop, rock, mpb e brega. Johnny ganhou o 26º Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Cantor, pelo trabalho em seu primeiro álbum de estúdio Eu Vou Fazer Uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito! e conta com mais 100 milhões de views e streamings em toda sua discografia.

O artista lançou de forma independente seu segundo álbum de estúdio intitulado  Coração. Nesse disco, Johnny Hooker transmite fortes mensagens de cunho político, resistência, luta e sobre dores de amores fracassados e relacionamentos intensos. Como pontua o cantor  

“Esse disco foi um processo de renascimento pessoal. Eu estava atravessando um momento muito ruim. Ele foi uma questão de sobrevivência, e não de escolha”

O segundo álbum de Johnny traz a música Flutua, em parceria com a artista Liniker. A letra retrata o desejo de liberdade em relação a necessidade de descrição entre dois homens que se relacionam, mas tem seu amor “proibido” pela violência e preconceito presentes na sociedade. O videoclipe dessa música busca conscientizar  sobre a violência que a comunidade LGBT+ está sujeita e a letra traduz a luta e o medo que casais homoafetivos sofrem diariamente e da necessidade de terem que se esconder e não demonstrarem afeto em público ou assumirem a relação devido a homofobia.

O videoclipe de Flutua, possui uma narrativa que alterna entre o desenrolar da história de dois rapazes deficientes auditivos que se relacionam romanticamente e uma performance de Johnny e Liniker que se apresentam como “narradores’, desta trama.

O clipe traz uma ambientação urbana e moderna, que compõe boa parte da fotografia do clipe, a narrativa começa com dois rapazes dentro de um apartamento, com um plano aberto para a vista da cidade e depois, também em plano aberto, um jovem fumando na varando de um prédio que logo em seguida entra para dentro do apartamento em que outro rapaz se encontra. Inicialmente não fica claro a relação entre esses dois homens, que aparecem tendo uma conversa através de libras, sendo que um deles está com o rosto machucado. 

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Depois disso a cena é cortada e observamos os rapazes em momentos felizes com amigos, dançando, trocando carinhos e se comunicando sempre através de libras, aparentemente em um espaço gay friendly, em meio a ruas de uma cidade ou na área externa de uma casa nesse centro urbano. Um ponto recorrente  no videoclipe, é a  pluralidade dos personagens da narrativa, além disso todas as cenas são filmadas em áreas urbanas, o que podem gerar identificação no público. 

A letra da música é entrelaçada e simultânea com os acontecimentos narrativos  como, por exemplo, quando se canta “flutua” e os rapazes estão dançando, fazendo uma alusão a estar flutuando.

Dessa maneira, a sincronia entre as letras da canção e as cenas que fazem parte da narrativa , tornando esse objeto uma áudio-imagem. Como explica o Soares (2013, p. 77), “[…] é pensar que, no terreno do videoclipe, os espectadores ouvem/vêem este produto numa ação simultânea. […] Esta perspectiva nos permite inferir que o videoclipe seria uma “escrita imagética” que é características de alguns videoclipes.”

A representatividade da trama, presente na ambientação, por exemplo, é  essencial para a discussão do tema  que abrange questões como a resistência, o amor e a conscientização. Essa representatividade/liberdade transmitido pelo videoclipe demonstra que existe um espaço pertencente e seguro para a comunidade  LGBT+. Isso faz com que esse produto audiovisual tenha um papel social representativo, em especial com contato nas mídias massivas, o que realoca o espaço da abjeção.

Os dois personagens principais continuam nesse ambiente de festa, que parece ser uma casa de festa com luzes coloridas em vermelho e azul, dançando, trocando carinhos e interagindo com diversas pessoas e com o verso de Liniker ao fundo:

“Um novo tempo há de vencer

Pra que a gente possa florescer 

E, baby, amar, amar sem temer”

Logo após essa frase, o videoclipe fica mudo e mostra os dois rapazes na rua, se despedindo depois da festa e dando um beijo, esse efeito sonoro cria uma sensação de suspense e quebra a expectativa . Capturando a atenção do espectador e destoando essa cena das outras do videoclipe. Os dois saem em direção oposta e o mesmo rapaz que apresentava ferimentos no rosto no início do vídeo é atacado por um grupo de homens que batem nele com objetos e o chutam mesmo ele já caído ao chão. Essa cena representa um ataque de homofobia, que entra em contraponto com a letra da música.

Após a sequência , podemos observar que o clipe apresenta uma edição não-linear.  Isto é,  o início do vídeo se localiza logo após o clímax da história desses dois rapazes, e em vez de continuar cronologicamente, a narrativa retorna anteriormente a esse acontecimento e continua até alcançar cronologicamente o momento que o clipe começa. Após esse acontecimento, os dois homens se encontram e a vítima decide terminar o que ele tinha com o outro rapaz, que se mostra muito abalado com essa situação entre os dois, vai embora do apartamento e depois aparece deitado com a cabeça no colo de uma mulher e com os olhos cheios d’água.

Chegando ao final do vídeo, os rapazes voltam naquele local de festa, se encontram e se beijam. Demonstrando a mensagem de resistência, amor e força que se deseja transmitir através da letra da música. Ocorre o beijo entre os artistas Liniker e Hooker, que são membros da comunidade LGBT+, o que corrobora com a mensagem na música: “ Ninguém vai poder, querer nos dizer como amar” apesar da violência e preconceito

Ao  contar com dois artistas importantes da cena contemporânea de música brasileira que tem como um dos seus propósitos sensibilizar, representar e dar voz a causas relevantes.

A obra apresenta originalidade e qualidade artística ao utilizar de uma narrativa não linear e considerada “tradicional” para transmitir uma mensagem pertencente a um grupo marginalizado socialmente, contra a homofobia.. Além disso,  os personagens principais da narrativa são ambos deficientes auditivos, o que torna o videoclipe mais inclusivo.