Por Lucas Vieira
A Tale of Thousand Stars (นิทานพันดาว) popularmente conhecida como 1000 Stars, é um lakorn (drama tailandês), dirigido por Aof Noppharnach e adaptado da novel boys love (BL) de mesmo nome, escrita por “Bacteria” e publicado em 2016 pela editora tailandesa Nabu Publishing. A adaptação foi lançada em 2021 de forma simultânea no canal de TV aberta tailandesa GMMTV e no canal da emissora no YouTube, na qual, atualmente, conta com legendas para diversos idiomas.
A narrativa acompanha a vida de Tian. Vivendo em Bangkok, Tian Sopasitsakun é um jovem estudante de engenharia, filho de uma família afortunada e que, por consequência, sofre pressões familiares quanto ao seu futuro. No início da história somos apresentados a um personagem cansado da vida e sem perspectiva do próprio futuro. Após um acidente, Tian precisa de um transplante de coração e acaba recebendo o órgão de Torfun Chareonpon, uma professora voluntária. Culpado pela vida que costumava levar e enxergando a situação como uma segunda chance, Tian decide investigar a vida de sua doadora até encontrar um diário com anotações pessoais que revelam segredos e interesses da professora, que incluem uma promessa não realizada, referente ao oficial florestal Phupha Viriyanon. Decidido a seguir os passos de Torfun, e cumprir o legado da professora, Tian se voluntaria para ser professor na longínqua vila Pha Pun Dao, ao norte da Tailândia, próximo às fronteiras. No entanto, ao chegar no vilarejo remoto, o jovem mimado se depara com uma realidade dura que precisará se adaptar e entender, enquanto lida com novos sentimentos que surgem pelo guarda Phupha e os conflitos perigosos que cercam a região.
Para análise da qualidade no audiovisual, utilizaremos a metodologia semiótica desenvolvida por Borges (2014) e Borges e Sigiliano (2021), que busca observar os elementos estéticos que, segundo as autoras, “englobam forma e conteúdo na constituição da mensagem audiovisual”. Nas especificidades das séries ficcionais, a abordagem envolve as análises do plano da expressão, do plano do conteúdo e do âmbito da mensagem audiovisual que apontam parâmetros da qualidade presentes na produção.
No plano da expressão, as análises consideram aspectos técnico-expressivos, que perpassam os códigos: visuais (planos e enquadramentos, iluminação e cenário, atuação do elenco, figurinos e maquiagem, e qualidade técnica da imagem); sonoros (tipo de áudio e qualidade técnica do áudio); sintáticos (edição e ritmo) e gráficos (vinhetas e grafismos) (BORGES; SIGILIANO, 2021).
Como forma de códigos visuais, acompanhamos sequências de planos didáticos, de forma a trazer uma sequência lógica de raciocínio nos acontecimentos de uma cena. Por exemplo, a sequência de planos direciona nossos olhares para detalhes, como troca de olhares, expressões, objeto ou interações importantes, através de um plano fechado ou plano detalhe, antes de nos apresentar ao ambiente geral ou o decorrer da narrativa no local.
Como cenários, temos três polos principais, que se dividem em Bangkok, presente apenas no primeiro e último episódios, e em cenas de flashback ao longo da temporada; Chiang Mai, cidade ao norte da Tailândia, um cenário urbano que os personagens costumam frequentar ao longo da temporada, com menos destaque narrativo e, por fim, Pha Pun Dao, o cenário protagonista que se trata de uma vila rural, criada para a história. A caracterização desses três ambientes também estão presentes nas cores, sons, ritmos e caracterização de personagens.
Temos dois momentos em Bangkok, o noturno e o diurno, e a representação e apresentação desses momentos apresentam funcionalidades narrativas. Somos apresentados a Tian em uma Bangkok noturna que surge sempre com contrastes mais fortes, cenários escuros, criando uma sensação de vida noturna e luxuosa. Os objetos de cenário, como o cassino, salão de festas e a própria casa de Tian nos dão ideia de luxúria, assim como a própria construção visual do personagem: roupas escuras, justas e com cortes que nos indicam um estado de vida financeiro superior. Um destaque para a casa da família Sopasitsakun, que é apresentada de forma a perceber sua dimensionalidade e nos dá ideia de ser um ambiente grande e frio.
Já nos momentos em que as cenas diurnas de Bangkok são apresentadas, o personagem já está em um estado de transformação após receber o transplante da professora voluntária e ter como motivação buscar informações sobre ela. Essas cenas são ensolaradas, o cenário suburbano, e nos apresentam a inserção de um novo “mundo”, assim como também indicam a diferença de classe social quando Tian vai atrás da família de Torfun.
Chiang Mai é um espaço intermediário que serve de suporte e trânsito para o núcleo de personagens protagonistas e secundários, e não tem um destaque importante em sua construção enquanto estado simbólico. No geral, se apresenta com neutralidade e o foco se concentra nas interações dos personagens. A cidade nortista é sempre um meio para algo – opção de venda das produções locais, compras de recursos rotineiros dos personagens, etc.
O foco é voltado para Pha Pun Dao, um vilarejo rural que apresenta estado bucólico nos personagens e reflete todas suas características nesse modo de viver. A iluminação é sempre mais clara, com tonalidades terrosas e verdes, marcando presença nos cenários, sejam naturais ou em construções em que os personagens vivem. Nesse contexto, os personagens usam ou passam a usar roupas mais leves, em textura e em cores, que transpassam a ideia de conforto. A vila rural também é cercada pela construção cultural dos personagens que vivem lá, desde as construções cívicas, que se apresentam de forma rústica, até tradições, interações e modo de viver. Em cenas noturnas, a iluminação quente se destaca para dar a ideia do uso de lampiões e velas, por consequência do acesso precário a energia no local; o tratamento de imagem com tons frios.
Quando Tian chega ao vilarejo e se depara tanto com um estilo de vida diferente, quanto como um recomeço de vida, tem todo o seu arquétipo desconstruído, e passa a ter uma imagem mais inocente. Isso se deve à maquiagem, ao corte de cabelo com franjas, às roupas mais claras e casuais e à sua posição social dentro da vila. Por outro lado, Phupha veste roupas mais rígidas, justas ao corpo e uniforme militar, transpassando seu arquétipo enquanto personagem rígido e regulado. Mesmo fora do uniforme, sua postura permanece e se contrasta, por exemplo, com outros personagens militares que integram o elenco. A fotografia segue um tom naturalista, sempre remetendo à ideia do bucólico na vila, em contraste com a vivacidade energética presente nos cenários urbanos em Bangkok e Chiang Mai. Além de criar climas para cada cenário, ela também é responsável por demonstrar esses espaços ocupados quase como personagens.
Os códigos sonoros estão presentes em todos momentos e configuram como um recurso fundamental para guiar os sentidos nas cenas. É importante ressaltar que não há longos momentos de silêncio, e as cenas são muitas vezes acompanhadas por uma trilha, que cria ambientes sonoros de tensão, dramas, romance e até efeitos que quebram a expectativa gerada ou apontam cenas de humor. Esses recursos sonoros são comuns em produções de BL, que apelam em cenas de humor “pastelão”, com exageros e comportamentos incomuns, mas que criam a relação entre personagens. Embora “A Tale of 1000 Stars” se destaque tanto pelo orçamento quanto contexto de produção, esses elementos são resgatados pelo diretor, que também já foi responsável pela direção de outros BLs.
Na distinção de ambientes também se percebe sons mais agitados para construir os cenários urbanos e noturnos de Bangkok, enquanto em Pha Pun Dao as trilhas são melódicas e bucólicas, ressaltando, por exemplo, o uso de instrumentos de sopro.
Os códigos sintáticos na narrativa também auxiliam a criar tensões e climas entre os personagens no desenvolver da cena e nos ambientes. No geral, as sequências são lentas e buscam destacar os sentidos expressados pelos personagens. Momentos marcantes em que esse recurso é utilizado são postos em dois momentos em que Tian e Phupha se encontram pela primeira vez: uma em Bangkok, sem se interagirem, e outra em Pha Pun Dao, além dos momentos dramáticos em que há um perigo eminente.
Já no que se refere a edição, destaca-se a forma não cronológica, com a inserção de flashbacks por toda narrativa. Esse modo de organização auxilia na preservação de tramas, manutenção de suspenses que vão se desdobrando na percepção, falsa ou não dos espectadores e no próprio sentido simbólico da série. Como objeto central, temos o diário da Torfun, que é preenchido de sensações, experiências e momentos vividos pela professora voluntária e que Tian tenta experimentar e trilhar os mesmos caminhos. Dividido pelo dilema de viver a própria vida e a vida de outra pessoa, essa mesma lógica é repetida nos flashbacks de sua vida antes de chegar ao vilarejo. No drama, os flashbacks possuem a função de resgatar momentos para dar ênfase ou encaixar cenas e explicações que foram ocultadas a primeiro momento para os espectadores. Quando exibidas, dão sentido às decisões narrativas, motivações dos personagens ou apontam conflitos que desencadeiam na história. Esses recursos de retomar uma narrativa surgem a partir de gatilhos para os personagens, através de um objeto ou situação. No entanto, a maioria dos episódios se iniciam com um flashback da vida antiga de Tian e são inseridas sem anúncio prévio de quebra de linearidade cronológica.
Todos os episódios também contam com cenas pós-crédito que resgatam cenas de interação entre o casal principal, Tian e Phupha, e que foram retiradas do corte final. Apesar de não acrescentar sentido narrativo, elas nos ajudam a compreender o desenvolvimento e a aproximação entre os personagens, além de incentivar movimentos de fãs através de shipps, que são importantes e destacados na indústria de boys love.
É importante destacar uma cena específica em que há o uso de edição especial, na qual o editor destaca no especial A Tale of Thousand Stars – Behind the Scenes que a montagem da cena em que a escola é incendiada tem o intuito de “mostrar o espaço como um tipo de personagem, que capturava as memórias felizes daquelas pessoas”.
Como códigos gráficos, temos principalmente a abertura do drama. Ela mescla elementos de animação, com recorte dos personagens em um tipo de textura animada. Utiliza cores quentes, cenários de natureza e o tom bucólico que a aldeia Pha Pun Dao demonstra. O uso desses recursos gráficos destaca, principalmente, a inocência encontrada tanto pelos personagens, quanto na relação entre os protagonistas. As imagens fazem releituras de diversos momentos entre Tian e Phupha na trama, assim como apontam elementos importantes destacados em diálogos e interações dos personagens.
No plano do conteúdo, as análises são norteadas pela “dramaturgia, incluindo tanto a composição dos personagens quanto a construção narrativa” (BORGES; SIGILIANO, 2021). Para isso, utiliza-se o episódio piloto como objeto para entender o modo como a série vai configurar a partir de três funções centrais: apresentar a história, introduzir a estrutura narrativa e fidelizar o telespectador (BERLIM, apud BORGES; SIGILIANO, 2021).
O início do episódio piloto é acompanhado de três paralelos em que somos conduzidos, em câmera lenta: a apresentação de Tian, a morte de Torfun e uma breve apresentação de Phupha, além do cenário perigoso que ronda a vila rural. As cenas se contrastam através das cores, ritmos e contextos, mostrando universos e construções distintas dos personagens. Através desse paralelo, compreendemos o estado anterior de Tian; a importância da figura de Torfun através de sua simplicidade e delicadeza – características que conquistam tanto Phupha, quanto os habitantes da aldeia de Pha Pun Dao; a rigidez e disciplinaridade militar que Phupa tem e apresenta durante o lakorn, assim como justifica suas reações e preocupações. O ritmo é lento, gerando tensão e acompanha transição em telas pretas, que nos remetem ao batimento do coração, enquanto acompanha um monólogo over voice de Tian falando sobre a vida e a morte. Esse monólogo também dá base para o estado de seu personagem antes de vivenciar a trajetória que acarreta em seu estado final, no último episódio.
Durante o primeiro episódio, acompanhamos o conflito interno de Tian para descobrir quem era a doadora de órgãos que possibilitou o transplante de seu novo coração. Nesse plano de fundo, podemos compreender de forma superficial, e aprofundada em conflitos posteriores, a tensão familiar em relação ao dinheiro, ao poder da família Sopasitsakun e o que incomoda em Tian. O primeiro estado que encontramos o personagem, é de um garoto mimado e irresponsável. Em paralelo, também acompanhamos a visita de Phupha no funeral de Torfun. É o primeiro momento que temos contato com o ambiente natural e bucólico de Pha Pun Dao, através de um flashback que mostra a relação afetiva entre o oficial militar e a professora voluntária. Temos a apresentação da breve configuração do núcleo de amigos de Phupha, formado inteiramente por outros oficiais, e o desprendimento de Tian com o ambiente ao seu redor.
Existe um ato simbólico, em uma cena em que Tian confronta o pai por ter pago para que o filho conseguisse o transplante do órgão, em que uma bebida é entornada em sua camisa. O acidente mancha em vermelho o lado direito de seu peito, acima do coração. É um momento de conflito que coloca em destaque o transplante, e essa mesma tensão é recuperada outras vezes, em diferentes contextos, quando Tian oculta suas motivações de estar na vila. Com a progressão dos episódios, compreendemos que o protagonista se sente culpado pela morte da professora. Ainda utilizando essas vestimentas é que Tian se motiva a seguir os passos de Torfun, já com o diário em mãos. As cenas seguintes mostram o personagem se voluntariando para se tornar o novo professor de Pha Pun Dao.
Quando Tian chega na vila, é recepcionado com certa resistência de Phupha em aceitá-lo no local e constantemente coloca obstáculos na adaptação do protagonista. Essas ações são apresentadas como uma descrença que um jovem mimado é capaz de ser professor “tomando” o lugar de Torfun. No desenrolar da trama, essa motivação é aprofundada com plot twist.
Em paralelo ao último episódio, percebemos uma mudança na construção de Tian que retorna a Bangkok, e assim como seu próprio visual se transforma, como se um pedaço de Pha Pun Dao fosse colocado no cenário familiar e nos ambientes que frequenta na capital. Sua relação com os outros personagens também é afetada, no entanto, precisa constantemente provar suas mudanças e que sua viagem à vila não foi por diversão. Nesse momento, há um afastamento entre Tian e Phupha que, nesse momento da história retorna a evitá-lo e a resistir aos sentimentos. Esse ciclo, no entanto, é quebrado na metade do episódio, quando o personagem consegue resolver a tensão com seus pais e se prepara para viajar para os Estados Unidos, onde cursará pedagogia – demonstrando que foi sensibilizado e encontrou uma nova motivação após a experiência da vila. Phupha aparece e cede aos seus sentimentos, em contraponto ao primeiro episódio. Durante a cena, vários flashbacks resgatam momentos entre o casal.
O final do episódio funciona como um epílogo, passado dois anos, na qual Tian retorna à vila e reencontra Phupha. Nesse momento, as diferenças e contrapontos entre quem os personagens eram ao início da narrativa são mais perceptíveis. A cena se encerra no monte da vila, em que percorre a lenda das 1000 estrelas, que não acrescenta sentido significativo para a narrativa, mas que conecta o destino de Tian, Torfun e Phupha, além da própria referência ao nome do Thai-drama.
Na mensagem audiovisual passamos por parâmetros que “buscam refletir em que medida a criação audiovisual impulsiona, ou não, a leitura atenta e estimula reflexão crítica por parte do público” (BORGES; SIGILIANO, 2021).
Como oportunidade, há o resgate de culturas nativas e tradições que não são comuns nas produções de ficção tailandesa. Dentro da narrativa, encontramos discussões sobre vida e morte, conciliação e assistência do serviço público às tradições locais como, por exemplo, uma cena na qual o médico e o xamã da vila apresentam funções importantes para a organização social dos habitantes dela e senso de coletividade. Embora não apareça como plano principal da trama, também são inseridos temas como desmatamento e contrabando, fortalecendo um discurso de caráter ecológico. Essa discussão ressurge em episódios ao falar sobre agricultura local e familiar, sem o uso de agrotóxicos. Ao final da série, em seu último episódio, aparece uma mensagem de pedido de apoio à Fundação Sueb Nakasathien, responsável por preservações florestais e áreas protegidas na Tailândia.
A produção também contou com preocupação local e regional ao utilizar vilas reais para a gravação. A equipe precisou, por exemplo, construir algumas locações para a gravação, porque os ambientes que seriam usados originalmente possuíam importância espiritual para a comunidade local.
A representação homoafetiva não é tratada de forma pontual, ela é incorporada e naturalizada na narrativa, e talvez esse seja um ponto essencial para apontar nas formas como ocorrem a representação LGBTQIA+ na ficção. Apesar de ainda ter uma “higienização” das relações homoafetivas, devido a uma necessidade comercial da qual o gênero BL surge no consumo de fãs e do público alvo, ela tende a se desprender de mensagens pautadas excessivamente, embora importantes, e expande uma história com personagens LGBTQIA+.
No parâmetro de ampliação do horizonte do público, a representação cultural é presente, desde a linguagem, com trocadilhos de vogais e sons semelhantes no tailandês, até a cultura nativa do Norte que cerca toda a narrativa. A discussão aprofundada sobre vida e morte também se destaca, porque traz uma abordagem séria e profunda que ainda não é muito comum em produções BL.
No parâmetro diversidade, a cultura do Norte tailandês se encontra em perspectiva, ampliando conhecimentos culturais, regionais e sociológicos. Pautas como tradição, cultura e pertencimento trazem à tona na narrativa, assim como evidencia as dificuldades políticas e crimes sofridos nessa área, como o contrabando, o desmatamento e o monopólio de comerciantes. Apesar disso, destaca-se que todos os eventos representados na história são ficcionais, assim como personagens e lugares.
A homoafetividade e homossexualidade é colocada a parte da narrativa, inserida de forma mais naturalizada e com interações e subjetividades sutis. Mas a série se destaca em uma cena, pouco recorrente em produções BL, na qual o personagem utiliza o termo “gay” para referir a própria sexualidade – essa cena em questão foi muito bem recebida e repercutida pelos telespectadores na internet.
Em relação aos estereótipos, se destaca principalmente a predominância de um relacionamento heteronormativo onde se coloca um papel de “dominante” em uma relação homoafetiva na tentativa de reproduzir o estereótipo normativo de uma relação heterossexual. Isso é, atribui à figura feminina à Tian, através da sensibilidade, inocência e necessidade de proteção, enquanto atribui o masculino à Phupha, com rigidez, seriedade, controle e proteção.
Outra problemática que surge é que, apesar do protagonismo girar em torno de Tian, os integrantes da aldeia surgem como personagens generalizados e unificados, sem camadas de profundidade. Khama surge como o líder da vila e tem funções intermediárias entre os habitantes e Tian; enquanto o filho do líder, Longtae, surge como papel de apoio ao personagem. As cinco crianças que frequentam a escola também surgem como personagens de identidades superficiais e estabelecem um laço afetivo de Tian com a vila, enquanto também oferecem o suporte de desenvolvimento do protagonista. O que já é oposto ao núcleo de amigos de Phupha, todos oficiais militares, que possuem suas personalidades, identidades e perspectivas de uma forma individual.
Em determinadas situações, Tian surge como um “salvador branco” – no sentido de que, o estrangeiro, vindo da cidade, é o único capaz de resolver certos conflitos da vila rural; embora haja uma justificativa narrativa nas motivações de Tian se sentir responsável a encontrar formas de resolvê-las.
Existe uma responsabilidade em retratar a população nativa, mas há também superficialidade na representação e suas complexidades. Nota-se também a ausência de personagens femininas em papel protagonista ou secundário, que se limita a Torfun. De todo modo, o número reduzido de personagens e o foco da trama em Tian, permitiu uma narrativa objetiva e com relações melhores trabalhadas, se comparadas a outros BL tailandeses que costumam dar pequenos focos a casais secundários.
Por fim, a originalidade/criatividade surge ao afastar a temática do boys love do usual, tanto no tema, quanto nas locações, backstory e storyline das personagens e enredos. Existe até mesmo uma referência entre os personagens que faz um paralelo entre a relação de Tian e Phupha com os romances dos lakorns. A temática aponta novas direções para a indústria do gênero para além do cenário universitário, com tramas cada vez mais complexas. Nesse ponto a Nadao, subsidiária da GMMTV, vem focando em projetos mais sensíveis e experimentais, expandindo produções e explorando o gênero, como por exemplo, o BL premiado I Told Sunset About You.
*Todas as imagens são capturas de telas ou frames transformados em gif.
Referência:
BORGES, G. SIGILIANO, D. Qualidade audiovisual e competência midiática: proposta teórico-metodológica de análise de séries ficcionais. In Anais…30º Encontro Anual da Compós, 2021. (no prelo).
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