Amada Foca é um canal de vídeos do YouTube, que se descreve como humorístico. Ele é composto por Bento Ribeiro, Bruno Sutter, Paulinho Serra, Daniel Furlan e Paulinha Vilhena e dirigido por Marcelo Botta e Gabriel Di Giacomo; foi criado em 29 de Maio de 2013. Os horários das postagens são sempre às 20h, sendo que no mês analisado, setembro, a programação se dividia entre o reality Casa da Foca às segundas e o programa Foca News às quintas.
No Plano da Expressão, um dos aspectos de destaque é a tela preta em que aparecem inscrições, como se alguém estivesse digitando informações como passagem de tempo ou explicações para o espectador. Além disso, todos os vídeos tem a marca do canal na parte inferior direita da tela. Uma característica marcante do reality Casa da Foca é a constante participação da produção e do operador de câmera do programa. O elenco interage com quem está nos bastidores, principalmente através de conversas.
Falando sobre o Plano do Conteúdo, o indicativo ampliação do horizonte do público não constou em seis dos sete episódios analisados. Isso acontece porque não são levantados temas de relevância para o espectador ou que trazem algum tipo de reflexão. O único vídeo tido como razoável foi o “Casa da Foca #01”, em que Bento Ribeiro expõe que tem síndrome do pânico. Mesmo sendo um assunto importante por poder contribuir para informar as pessoas, este não foi tratado de maneira aprofundada, talvez até pela proposta do canal de levar situações leves a quem assiste. Ele está triste com a possibilidade do canal acabar e diz que ultimamente sua síndrome do pânico está atacada: “A síndrome do pânico só para quando eu tenho que ‘comer mulher’. Mas agora responsabilidade, sair na rua pra pagar conta, trabalhar mesmo, aí a síndrome do pânico bate violenta, entendeu?”. A forma como é explorada a questão, não amplia consideravelmente a perspectiva do público.
O indicador diversidade de sujeitos representados obteve seis avaliações fracas e não constou em um episódio, devido à falta de pluralidade dos participantes. Eram em sua maioria homens, brancos, jovens e que tinham a personalidade parecida, o que não ampliava a diferença de perspectivas do programa.
Quanto à desconstrução de estereótipos, esta não constou em nenhuma das emissões. Em alguns vídeos ocorre o contrário: os participantes reforçam algum tipo de senso comum. No dia 23 de setembro de 2015, por exemplo, o programa usa como personagens dois velhinhos preconceituosos. A ideia que o episódio passa é de querer reforçar esses comportamentos a fim de fazer o espectador perceber que é prejudicial. Porém, isso é feito com tanta segurança que algumas pessoas podem entender como verdadeiro e acreditar. Este recurso de reforçar para tentar desconstruir não foi utilizado de maneira a ajudar o espectador a pensar, além de deixar confusa a proposta do programa.
O padre representado começa o assunto falando de “homossexualismo” e cita que isso e o food truck estão acabado com a juventude deste país. Seu convidado faz comentários como: “É tudo bicha”, “Isso aí é armação do PT”, “A Rede Globo quer trocar o sexo das nossas crianças”, trazendo opiniões reais, mas contribuindo para uma afirmação de que pessoas mais velhas tem esse tipo de pensamento. Também ridiculariza um antigo caso do jogador Ronaldo com uma travesti, brincando com a situação.
No dia 7 de setembro de 2015 também há outra demonstração de reafirmação de um tipo de preconceito. Bento “leva” o público para conhecer a Casa da Foca e aproveita para mostrar a decoração. Quando ele se depara com uma máscara de origem africana, diz: “Isso que é escroto, foi o Serra (Paulinho Serra) que trouxe. Essa máscara bizarra, uma merda.”. Em outros episódios, Bento também utiliza o termo “viado” como xingamento.
O indicador oportunidade não constou em várias emissões vistas e obteve somente uma avaliação boa. Esta foi no vídeo de 16 de setembro de 2015, um esquete com a temática Rock in Rio. O tema era atual, uma vez que o festival começaria no dia 18 do mesmo mês. No episódio de 23 de setembro de 2015 o assunto principal é o Snapchat, que segundo o personagem do vídeo, é um aplicativo que só serve pra tirar foto de pênis. Esse aplicativo estava sendo muito usado e comentado na época, o que indica a oportunidade. Os outros episódios utilizavam temas que não eram necessariamente pautas midiáticas ou sociais.
Confira os indicadores de qualidade do plano do conteúdo com as respectivas avaliações:
Na Mensagem Audiovisual, o indicador de qualidade clareza da proposta foi bem avaliado na maioria das emissões analisadas. A proposta é clara nos dois formatos, tanto os esquetes quanto os vídeos temáticos da Casa da Foca, têm a intenção de fazer rir mostrando situações cotidianas. Os únicos vídeos com avaliação razoável foram os do dia 16 e 23 de setembro de 2015 (“Rock in Rio II” e “Juventude em debate”). A justificativa é que nos dois casos a forma narrativa utilizada dá a entender uma intenção de quebra de estereótipo, porém esta é explorada de maneira inversa, reafirmando por meio de falas e ações das personagens, o que pode confundir o espectador. A ironia também é utilizada, mas não a ponto de fazer as pessoas pensarem sobre o assunto.
Falando sobre diálogo com/entre outras plataformas, este foi muito bem avaliado. Pode-se observar que há em vários episódios citações sobre o canal MTV, uma vez que alguns dos integrantes já trabalharam na emissora. Também há em vários vídeos a aparição de bonecos que são personagens de filmes, os quais Bento Ribeiro coleciona. As duas emissões que tiveram maior demonstração desse diálogo foram as do dia 10 e 23 de setembro, que apresentavam paródias de programas televisivos. A primeira parodiava um programa policial, apresentando o fenômeno do Stand Up de maneira sensacionalista, enquanto a segunda buscou imitar o modelo de um programa religioso, que inclusive cita o aplicativo Snapchat.
Em relação à solicitação da participação ativa do público, esta obteve variações entre razoável e boa. Isso se justifica pelo próprio tipo de plataforma utilizada, o YouTube, que possibilita o público participar com comentários, curtidas e compartilhamentos. Além disso, ao final de cada vídeo é fixado um link na tela convidando as pessoas para se inscreverem e assistirem vídeos antigos do canal. O critério utilizado na diferença das avaliações foi o tipo do vídeo analisado. Quando se tratava de vídeos do reality em que o elenco falava diretamente com a câmera, trazendo uma proximidade com o seu público e tinha a linguagem mais informal com gírias e palavrões, por exemplo, foi tido como bom; uma vez que esse era o diferencial. Nas outras emissões em que a solicitação foi razoável, a avaliação foi dada somente pelo olhar diretamente para a câmera.
O quesito originalidade/criatividade foi avaliado como considerável em quase todas as emissões, principalmente nos episódios de Casa da Foca. Observou-se uma pequena inovação no esquema de câmera, que ficava na mão e não fixa. Sempre mostravam a casa e a reação do participante de maneira natural, sem roteiro, o que ocasiona uma proximidade com o público. Geralmente eles agiam de maneira espontânea, como no episódio do dia 28 de Setembro de 2015, em que Paula Vilhena ao ser surpreendida com a nova casa, diz estar muito feliz, mas não consegue chorar por estar de ressaca
No gráfico abaixo encontram-se os indicadores de qualidade da mensagem audiovisual com as respectivas avaliações:
Observando o canal como um todo, nota-se que a representação utilizada não descontrói estereótipos, sendo que algumas vezes até reforça através das ações e falas de alguns participantes. A atuação dos personagens nos esquetes geralmente eram satíricas e buscavam usar a ironia para representar as situações do cotidiano. Nos episódios analisados essa escolha não foi eficaz, uma vez que ao reafirmar os lugares-comuns, mesmo com a intenção de fazer o espectador pensar, isso poderia trazer a impressão contrária. De modo geral, não foram apresentados temas que davam atenção à diversidade, crítica social ou reflexão.
A experimentação no modo de filmagem nos episódios de Casa da Foca deixava evidente a personalidade dos participantes, uma vez que mostrava-os de maneira natural, sem filtros. Também foi utilizado o recurso da câmera subjetiva, como se fossem os olhos do personagem. As propostas observadas nos vídeos analisados são reciclagem de formatos que já existem. Nos episódios do reality show nota-se somente mudança da temática: a utilizada no canal é a mudança da casa que eles usavam para trabalhar. Já nos esquetes, não se nota nenhuma grande inovação, uma vez que pode-se comparar o que foi feito com esquetes de programas da MTV, por exemplo. Além disso, o público não era parte da construção da narrativa, mesmo que a plataforma seja propícia.
Por Letícia Silva
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