Amor Verissimo é uma série de televisão brasileira baseada nas crônicas sobre relacionamentos amorosos escritas por Luis Fernando Verissimo. Exibida pela primeira vez em 8 de janeiro de 2014 na GNT, o programa traz no elenco principal Fernanda Paes Leme, Gabriela Duarte, Leticia Colin, Marcelo Faria, Paulo Tiefenthaler e Pedro Monteiro, que interpretam diferentes personagens a cada um dos 13 episódios da primeira temporada. Sendo transmitida todas as quartas-feiras às 22h30, a adaptação da obra de Verissimo é uma produção da Conspiração Filmes com a direção de Arthur Fontes.
Os episódios selecionados para análise são os cinco iniciais da primeira temporada exibida. Neles, a trama mescla depoimentos de personagens que olham diretamente para a câmera com cenas que retratam o último depoimento contado. Em cada emissão, algum ator do elenco fixo da trama aparece encarnado em um novo personagem somente depois de uma sequência de dois ou três depoimentos de casais que permanecem com os mesmos nomes e figurinos em todas as suas aparições nos episódios (o que confunde o espectador, já que não sabemos se esses casais são reais ou parte da trama).
Atentando-se para o Plano da Expressão, são destaques os cenários, o figurino, a maquiagem e a atuação do elenco. Uma parede marrom de fundo caracteriza o cenário dos depoimentos dos personagens, que olham diretamente para a câmera e se sentam confortavelmente em um rebuscado sofá vermelho e dourado. Por abordar temas do dia-a-dia de casais, os cenários que compõem as histórias que estão sendo retratadas são únicos ou pouco numerosos, concentrando toda a trama em situações específicas.
Quanto ao figurino, maquiagem e atuação do elenco, a série se destaca por caprichar muito nesses fatores para tornar verossímil ao espectador a abordagem de diferentes idades, estilos e épocas nos mesmos seis atores jovens. No episódio exibido dia 22 de janeiro, intitulado A Vida Não é uma Comédia Romântica, por exemplo, Gabriela Duarte e Marcelo Faria interpretam Maria Alice e Rogério em diferentes épocas de suas vidas, a partir de 1991, e têm que se adequarem, portanto, ao figurino, maquiagem e comportamento das épocas.
No Plano do Conteúdo, o indicador de qualidade desconstrução de estereótipos foi bom porque o humor de Amor Veríssimo é sucinto e não apela para o uso explícito do estereótipo para gerar o riso. O fato de trazer em três das cinco emissões analisadas um casal de lésbicas, por exemplo, é uma desconstrução implícita do estereótipo de que um casal do mesmo sexo não pode ou não consegue ter uma grande e séria história de amor. No quinto episódio da primeira temporada, exibido dia 5 de fevereiro e intitulado Trauma, quando aos 54 segundos a personagem diz “a mulher quando passa dos 30 ela não tá só em busca de um namorado, ela quer o pai do filho dela”, a afirmação do estereótipo de que mulheres acima dos 30 anos só pensam em conseguir um pai para seus futuros filhos, é clara, porém, sucinta. A trama não se agarra a esse tipo de ferramenta para gerar o humor, mas apenas a utiliza como gancho para amarrar a história.
Por abordar temas referentes aos relacionamentos cotidianos das pessoas, o indicador de qualidade oportunidade foi bem avaliado. Junto com esses temas atuais, observa-se o indicador ampliação do horizonte do público, que não foi muito bem avaliado por nem sempre estar presente na trama.No primeiro episódio, por exemplo, chamado História De Verão: Uma Leve Brisa, o enredo se baseia num grupo de amigos que fica intrigado com uma bela mulher que tem cabelos esvoaçantes mesmo quando não existe vento sobre ela, o que caracteriza, portanto, um tema irrelevante para a sociedade, incapaz de gerar debate ou estimular o pensamento do público.
O último indicador de qualidade do plano do conteúdo, diversidade de sujeitos representados, também não foi muito bem avaliado. O fato de trazer diferentes idades, estilos e orientações sexuais não torna imperceptível ao espectador o fato de não conter nem um personagem negro na trama. Além disso, em todas as cinco emissões analisadas percebe-se a predominância de histórias de amor pertencentes à classe média brasileira (pelo requinte dos cenários e figurinos), o que também diminui a diversidade dos sujeitos representados pelo humorístico. Abaixo, o gráfico do plano do conteúdo:
Na Mensagem Audiovisual, o indicador de qualidade clareza da proposta foi muito bem avaliado em todos os episódios da amostra selecionada. Um dos aspectos que caracteriza a estrutura bem organizada e padronizada de todas as emissões e que se relaciona diretamente com a temática a ser abordada é o trecho da música que acompanha a vinheta de abertura da série, A Minha Menina, da banda Mutantes, que diz: “Ela é minha menina, e eu sou o menino dela. Ela é o meu amor, e eu sou o amor todinho dela”.
No indicador diálogo com/entre outras plataformas, a série não se destacou muito. Consideramos razoável a utilização desse quesito por poucas vezes fazer alusão a outros conteúdos que não fossem da trama. Quando isso ocorria, geralmente era mencionando nome de artistas reais, como ocorreu também no episódio do dia 22 com os nomes de Xuxa, Ayrton Senna e Pelé, que nessa ocasião foram falados por causa da manchete de uma revista, posteriormente identificada como a Caras.
Ao contrário do anterior, o indicador solicitação da participação ativa do púbico foi bem avaliado. Pelo caráter documental que os depoimentos conferem à série, o público se identifica com as histórias ao ver pessoas confortáveis em um sofá falando sobre suas vidas, interagindo com a suposta equipe de produção do programa e respondendo às perguntas feitas por eles. Apesar da linguagem informal, o pouco uso de palavras de baixo calão dá certo requinte às histórias, que não deixam de representar o espectador que está assistindo pelo simples fato de abordar temas de relacionamento passíveis a qualquer pessoa.
Através do último indicador de qualidade da mensagem audiovisual, a originalidade/criatividade, também observamos o zelo e o cuidado dos produtores para adaptar da melhor forma para a TV as crônicas escritas por Veríssimo. No quarto episódio, por exemplo, clamado Dinossauro Digital, um diálogo entre o casal Bianca e Thaís, aos 10 minutos e 31 segundos, se inicia de forma criativa e descontraída ao envolver a suposta produção do humorístico e fomentar ainda mais o seu caráter documental.
BIANCA: Tá frio né, aqui. Tá um pouco frio. O que foi, você não tá achando?
THAÍS: Eu falei pra eles que se eles ficassem sem perguntar um pouco você ia travar e ia entrar no seu pancadão do silêncio e ia começar a se tremer toda.
BIANCA: Você combinou isso com eles?
THAÍS: Combinei.
BIANCA: A gente, por quê? Eu não sou cobaia pra você fazer experiência comigo, gente.
(Amor Verissimo – episódio Dinossauro Digital 29/01/2014)
Abaixo, os indicadores de qualidade da mensagem audiovisual, com suas respectivas avaliações:
Como aqui procuramos demonstrar, os modos de representação dos personagens e a experimentação dos recursos técnico-expressivos adotados configuram Amor Verissimo num programa que até apresenta algumas características de qualidade, mas não pode ser assim denominado (de qualidade) por não estar preocupado em se apresentar majoritariamente dessa forma. Os temas abordados nem sempre têm relevância social ou acrescentam novas perspectivas ao espectador, e muitas vezes as discussões são rasas e superficiais, fato que dificulta a ampliação do horizonte do público e incrementa tal percepção sobre a qualidade.
Por Luma Perobeli
Comentar