Por Beatriz Martins, Beatriz Santos, Margarida Leal, Margarida Barradas e Mariana Correia
Introdução
A lingerie no mercado internacional teve um aumento exponencial na revolução sexual dos anos 60 e atualmente é um segmento da indústria têxtil que fatura mais de 30 bilhões, por ano, no mundo. A Victoria’s Secrets é uma marca americana de moda íntima feminina que aborda a sensualidade e beleza feminina. Possui 46 anos de existência e lojas por todos os continentes, com variados produtos, desde roupa interior, perfumes, roupa casual, malas e acessórios, fazendo ainda um grande investimento na publicidade.
Para além disso, a marca organiza todos os anos um desfile numa cidade diferente,onde é apresentada a nova coleção através “dos anjos” (modelos representantes da marca) e de outras modelos convidadas. Desfile esse que é visto online por milhões de pessoas. Considerando-se assim a importância midiática, mercadológica e a destreza em que elas agem no estilo do segmento de underwear torna-se relevante o estudo das imagens que elas praticam partindo de uma análise semiótica.
A escolha desta marca para análise semiótica no âmbito da unidade curricular “Semiótica” deve-se à curiosidade suscitada no grupo acerca do porquê de tanto mediatismo em volta da mesma. A marca Victoria’s Secrets foi definida por ser uma grande marca de moda íntima, que divulga aos consumidores padrões estéticos e de consumo. O objetivo do trabalho é analisar semioticamente através da visão de Peirce os signos presentes nalgumas das imagens dos desfiles. Como figura central das imagens a analisar, escolhemos a modelo Adriana Lima, tendo em conta que é das modelos mais emblemáticas de todos os tempos e, em parte, uma das imagens de marca da Victoria Secret pela forma como ao longo dos anos se conseguiu destacar.
“Como é que a Victoria’s Secret constrói um determinado discurso para gerar todo o mediatismo da marca?”, é a pergunta de investigação à qual, no desenvolver do trabalho, pretendemos encontrar resposta.
A estrutura do trabalho será definida pela introdução, na qual introduzimos e delimitamos o tema de análise, de seguida, o estado da arte, onde abordados a contextualização histórica da marca e da modelo em questão até aos dias de hoje, depois a apresentação do objeto de análise semiótica, no qual apresentamos a imagens escolhidas da modelo nos desfiles e as caracterizamos pormenorizadamente, de seguida a apresentação dos parâmetros de análise semiótica, onde mostramos quais parâmetros que através da semiótica de Peirce irão auxiliar o entendimento das características das imagens escolhidas, depois a análise semiótica, na qual são postos em prática os parâmetros antes apresentados, e por último as considerações finais seguidas da bibliografia.
A metodologia utilizada para o presente trabalho é a revisão bibliográfica e a análise semiótica sob a visão de Peirce. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica e o tema foi delimitado, escolhendo imagens da “anjo” Adriana Lima nos desfiles como instrumento de análise. De seguida foi definida a amplitude dos anos das fotografias a analisar, entre 2013 e 2018.
Estado da Arte
Victoria’s Secret
Fundada em 1977 em São Francisco, nos Estados Unidos, a Victoria ‘s Secrets foi criada por Roy Raymond, que viu a oportunidade de comercializar peças mais sensuais que as oferecidas na época. O nome da marca deu-se por referência à sensualidade contida na era vitoriana. A primeira loja da marca foi aberta no shopping Stanford, e as vendas eram realizadas através de catálogos, neles eram apresentadas modelos envoltas a uma decoração de mobiliário.
Lingeries e camisolas delicadas e sensuais confecionadas em renda e cetim eram os artigos oferecidos pela marca e distribuídos por todo o país. Em 1982, após 5 anos de existência, a marca passou por dificuldades financeiras, Leslie Wexner comprou a marca e inaugurou lojas em vários shoppings das cidades americanas. No início da década de 90, a Victoria’s Secret expandiu os seus negócios com a venda de produtos de beleza e perfumes tornando-se o maior ícone de lingerie dos Estados Unidos, com uma receita superior a um bilhão de dólares (Victoria’s Secret – Blackboard». Businessinsider.com. Dados de 9 de janeiro de 2011). Em 1997, a Victoria’s Secret apresentou-se ao público numa campanha representada por Tyra Banks, Helena Christensen, Karen Mulder, Daniela Pestová e Stephanie Seymour. O resultado foi um sucesso enorme de vendas e a palavra Angel tornou-se sinónimo de supermodelos que atuavam como embaixadoras da marca. Eram e continuam a ser, mulheres reconhecidas mundialmente pela sua beleza, que colaboram para a construção do discurso da marca, colocando-se como as personificações dos valores e atributos da Victoria’s Secrets. As modelos contratadas como Angels são consideradas a elite da passarela e símbolos de perfeição estética.
Em 1995, acontece o primeiro Victória´s Secret Fashion Show, desfile que acontece no final de todos os anos desde então. A partir de 1998, a marca começou a apostar em fantasias e adereços que complementam as peças de lingerie, e traziam mais glamour, sem deixar de lado as icónicas asas como componente principal. O ponto alto do desfile é a apresentação do Fantasy Bra, sutiã confecionado artesanalmente com pedras e metais preciosos. Em 2017, a brasileira Lais Ribeiro desfilou o Champagne Nights Fantasy Bra, que continha cerca de 6 mil pedras preciosas, entre diamantes, safiras, topázio, e ouro 18 quilates. A peça levou 350 horas para ser feita e foi avaliada em mais de 2 milhões de dólares.
As estratégias de marketing da empresa Victoria’s Secret seguem o padrão do luxo e estão focadas em entregar valor aos seus clientes, procurando sempre o posicionamento no mercado e a inovação e oferecer não apenas o que se procura, caracterizando o marketing da oferta e empenhando-se para conseguir a fidelização do cliente. Não só lingeries são vendidas na marca, há também linhas de perfumaria, maquiagem, roupas, calçados, pijamas, linha de banho e de desporto. Para o público mais jovem a marca oferece uma linha de produtos denominada PINK que é composta por perfumaria e moda íntima.
Com tudo, em 2018, uma manifestação chamada “Fallen Angels” reuniu sete mulheres que tiraram as roupas em frente de uma loja da Victoria’s Secret em Londres para protestar contra a falta de diversidade e representatividade da marca. A manifestação, reclamações do público e das próprias angels por conta do ambiente de trabalho, juntamente com o declínio da reputação da marca, levaram a uma mudança brusca no seu posicionamento. No lugar das modelos perfeitas e padrão, entram novas embaixadoras da marca, como a jogadora Megan Rapinoe, a modelo plus size Paloma Elsesser e a atriz indiana Priyanka Chopra. A ideia é limpar a imagem da marca, que sofreu várias críticas nas últimas décadas, ao celebrar o padrão de beleza das supermodelos inatingíveis à maior parte da população mundial. Houve assim, uma reformulação da marca que visa acompanhar as mudanças do próprio público.
O novo posicionamento, focado no slogan “What Women Want”, é uma mudança inclusiva e significativa para a marca que sempre apostou numa ideia fechada sobre o que seria sensual. Em 2021, foi anunciado o fim dos mediáticos desfiles e das anjos que há 20 anos representavam a marca, esta agora está a preparar novos tipos de eventos e está focada no “desenvolvimento de conteúdos entusiasmantes e dinâmicos.”, procurando representar a diversidade de corpos e etnias e atualizar-se em relação ao que o público procura. Estas mudanças surgem num momento em que a Victoria’s Secret atravessa grandes dificuldades. No início de 2021, a marca anunciou que iria encerrar 53 lojas nos Estados Unidos da América, depois de em 2018 ter fechado as portas de 30 pontos de venda. Até então, em média, a marca apenas encerrava cerca de 15 lojas por ano.
A decisão marca o fim de uma era, uma era de corpos esculturais, de sutiãs avaliados em milhões e muitos pares de asas. O grupo das manequins mundialmente conhecidas deixou de representar a marca e foram substituídas por mulheres cujas conquistas falam mais alto do que as medidas dos seus corpos.
Adriana Lima
Adriana Lima é uma modelo brasileira, nascida em 1981 na capital baiana. Em 1996, ficou em segundo lugar na final mundial do concurso Supermodel of the World, promovido pela agência Ford Models. Aos 16 anos, assinou um contrato com a agência Elite Model e mudou-se para Nova York.
Corria o ano de 1999 quando Adriana Lima, aos 18 anos, desfilou pela primeira vez para a marca de lingerie norte-americana e o seu carisma garantiu-lhe um lugar como Anjo no ano de 2000, altura em que assinou contrato com a Casa. Iniciou assim uma carreira que elevou o nome de Adriana Lima ao de top model, vigorando por diversas vezes na lista das modelos mais bem pagas do mundo. Em 19 anos, Adriana Lima apenas faltou ao desfile de 2009, ano em que casou com Marko Jarić, o jogador de basquetebol sérvio, e que nasceu a filha primogénita do casal, Valentina. Em 2012, ano em que deu à luz Sienna, Adriana Lima fez questão de pisar a passerelle apenas dois meses depois de ser mãe pela segunda vez.
Além das asas que já usou, na sua carreira como Anjo da Victoria’s Secret destacam-se as três vezes que desfilou o fantasy bra: a primeira foi em 2008, com o Black Diamond Fantasy Miracle Bra, a segunda no ano de 2010, onde vestiu o Bombshell Fantasy Bra, e a terceira vez foi em 2014, ao lado de Alessandra Ambrosio, com um dos Dream Angels Fantasy Bra. Ainda ao abrigo de Victoria’s Secret, Adriana Lima sagrou- se a modelo mais bem paga do line up e também o Anjo que permaneceu por mais tempo.
Dezanove desfiles depois, Adriana Lima encosta as asas de Anjo. O anúncio foi feito através da conta de Instagram da modelo brasileira, horas antes do Victoria’s Secret Fashion Show. E antes de Adriana Lima pisar pela última vez a passerelle da Victoria’s Secret, foi exibido um vídeo que terminou com um “obrigado, Adriana.” O momento foi de emoção e a plateia levantou-se para aplaudir o momento final da modelo brasileira como Anjo. As lágrimas foram inevitáveis e Lima não se conteve.
Para além da grande associação da modelo à Victoria’s Secret, Adriana posou para campanhas e desfilou para várias empresas conceituadas de moda como: Ralph Lauren, Armani, Christian Dior, Versace, Valentino, Loewe, Givenchy, Louis Vuitton,Guess, entre outras.
Apresentação do objeto de análise
Apresentando o objeto de análise semiótica, a Victoria’s Secret, mais concretamente a modelo Adriana Lima, iremos analisar diversas imagens relativas ao mesmo. Não deixando de mencionar que a análise semiótica profunda não será realizada de todas as imagens apresentadas abaixo, escolheremos as mais significantes. No entanto, e para comparações, aqui iremos apresentar mais imagens da modelo. A primeira imagem foi tirada em 2013, em plano americano e num ângulo plongee, a modelo encontra-se centrada na imagem e ocupa a maior parte da mesma.
Esta imagem foi tirada em 2013, num plano geral médio num ângulo plongee lateral. É possível ver a modelo por completo e também uma parte do cenário, sendo o mesmo uma parte da passerelle prateada brilhante e do público a assistir ao espetáculo. A modelo está a usar um conjunto de renda e tule branco e umas asas altas de penas brancas. Esta cor representa paz, pureza, inocência, sinceridade e limpeza. A sua posição remete para felicidade, animação e poder.
Passando para 2014, onde Adriana foi mais uma vez grande parte do desfile da Victoria’s Secret, foi fotografada num plano geral médio e num ângulo plongee mais lateral. O cenário visível consiste na passerelle preta e branca sendo também possível ver foscamente, ao fundo, outras modelos. Nesta imagem, Adriana usa um conjunto preto de renda e uma saia de tule da mesma cor, com umas asas pequenas e discretas de renda preta. Preto é a cor que representa respeito, dignidade, mistério, solidão, medo e morte, e apesar disso, Adriana tem um sorriso e uma expressão de felicidade.
Temos uma imagem de 2015, o ano deste desfile, onde a modelo foi fotografada num plano geral médio e num ângulo plongee lateral, em que a própria não está centrada na foto pois contém um elemento importante a seu lado. Fazendo grande parte desta imagem, e ao lado da modelo, está The Weekend, cantor famoso, que foi convidado a participar e dar voz a este espetáculo. O mesmo está vestido com um look monocromático preto para passar, de certa forma, despercebido para não tirar a atenção das modelos e das suas peças. Com um cenário colorido e um tema tropical, Adriana desfila com umas asas grandiosas de penas de diversas cores e tem vestido um body de renda cor-de-rosa. O facto de a mesma estar a usar muitas cores pode remeter para diversos significados. O cor-de-rosa representa beleza, sensualidade, romance e ternura; o roxo representa sinceridade, dignidade, prosperidade, mistério, espiritualidade e magia; o verde representa juventude, liberdade, esperança, perseverança, saúde e vitalidade; e o azul representa lealdade, confiança, segurança, compreensão, serenidade, tranquilidade e harmonia. Tudo isto passa na imagem de Adriana com a junção de felicidade devido ao seu sorriso contagiante.
Continuando em 2015, esta imagem de Adriana está num plano geral médio e num ângulo reto com a própria descentrada na imagem. O cenário visivel é num tom escuro e com dois holofotes de luz. A modelo desfila com um conjunto brilhante e de renda de cor beje e as suas “asas” são borboletas de cor azul e verde. O beje remete para calma, conforto, aconchego, passividade, melancolia e para o clássico. Já o azul remete para lealdade, confiança, segurança, compreensão, serenidade, tranquilidade e harmonia; e o verde para juventude, liberdade, esperança, perseverança, saúde e vitalidade.
Já em 2016, e sempre com um sorriso na cara, a modelo foi capturada num plano geral médio e de um ângulo contraplongee. Conseguimos ver parte da passerelle prateada brilhante e alguns membros da plateia, ainda que foscos e não nítidos. Adriana arrasa um conjunto de renda roxa, umas botas altas com um padrão amarelo e azul e umas asas azuis e vermelhas com detalhes amarelos. Um diverso ramo de cores com um diverso ramo de representações. O roxo representa sinceridade, dignidade, prosperidade, mistério, espiritualidade e magia; já o amarelo representa luz, leveza, descontração, otimismo, criatividade, alegria; o azul representa lealdade, confiança, segurança, compreensão, serenidade, tranquilidade e harmonia; e o vermelho representa paixão, excitação, conquista, requinte e liderança.
Passando para 2018, o seu último ano como anjo da Victoria’s Secret, Adriana foi fotografada num plano geral médio num ângulo plongee. Centrada na imagem e com uma posição de poder, a modelo desfila num conjunto de renda branca com uma camisola de recortes prateados e brilhantes e com as “asas” de longas e delicadas penas brancas. Esta cor representa paz, pureza, inocência, sinceridade e limpeza. Já o prateado representa modernidade, inovação, sucesso, quailidade e distinção.
Para acabar, e também em 2018, a modelo foi fotografada num plano geral médio num ângulo contraplongee. Em segundo plano conseguimos observar algumas modelos e o cenário roxo e azul. Adriana arrasa com um body de renda preto e como “asas” tem uma lua prateada na sua fase de quarto crescente. Com alguns significados diferentes devido à utilização de diferentes cores, onde o preto representa respeito, dignidade, mistério, solidão, medo e morte; o roxo representa sinceridade, dignidade, prosperidade, mistério, espiritualidade e magia; o azul representa lealdade, confiança, segurança, compreensão, serenidade, tranquilidade e harmonia; e o prateado representa modernidade, inovação, sucesso, qualidade e distinção. Podemos também falar sobre o significado da lua em quarto crescente, forma que pode simbolizar compreensão, prosperidade, inovação, criatividade, clareza, amadurecimento, determinação e dedicação.
Apresentação dos parâmetros de análise semiótica
Para realizar uma análise semiótica, de acordo com Pierce, é importante seguir alguns parâmetros que irão auxiliar o entendimento de algumas características das imagens escolhidas como, as cores as formas, as luzes, etc, e para isso utilizamos três aspetos para poder analisar as imagens semiticamente, o aspeto qualitativo-icônico, o aspeto singular- indicativo, o aspeto convencional-simbólico.
Aspecto qualitativo-icónico:
Neste ponto é analisado aspetos qualitativos de algum produto, peça ou imagem. Mais especificamente a qualidade do objeto estudado, analisando as cores, linhas, volume, dimensão, textura, luminosidade, composição, forma, design etc.
Estas características são o que formam a nossa primeira impressão de algo. São os aspetos visuais que captam a nossa atenção para algum produto ou imagem, e esses pontos podem nos transmitir vários sentimentos, pontos de vista ou emoções, como a leveza, sofisticação, fragilidade, pureza, severidade, elegância, delicadeza, força, monotonia e muito mais.
Quando olhamos para algo involuntariamente associamos certos elementos visuais a outros que estão na nossa memória, comparamos nos apercebermos, por exemplo em termos das cores, associamos cores a sentimentos ou a algum objeto com a mesma cor, ou até mesmo outra cor; a forma lembra-nos algo com uma forma semelhante ou a textura etc.
Essas relações de comparação por semelhança são chamadas icônicas. Assim, significa que ao analisar as qualidades de um produto ou imagem determina-se as qualidades abstratas que são sugeridas e impulsionadas pelas características físicas.
Com isto, é possível prever quais as associações e semelhanças que certos aspetos e qualidades irão causar ao olhar humano. Não é algo completamente preciso, mas existem grandes hipóteses que podem ser calculadas para causar certos impactos.
Aspeto singular- indicativo:
O produto ou imagem é analisado como algo que existe num tempo e espaço determinado. As qualidades se que o aspeto singular-indicativo se compõe são as cores, a forma, o tamanho, a matéria e a textura. Analisa-se o produto perante a sua relação com o contexto a que pertence. Que índices apresentam a sua origem, o ambiente em que é utilizado e de como está feito para conseguir atingir os consumidores certos. Mas por outro lado, pode ser analisado através das funções que desempenha e as suas finalidades como produto ou imagem. A adequação do aspeto qualitativo-icônico com este segundo aspeto contextual, utilitário, deve ser avaliado.
Aspecto convencional-simbólico:
Neste ponto de vista convencional-simbólico é analisado os padrões do design do produto e os padrões de gostos dos que querem atingir. Analisa-se posteriormente o poder representativo do produto em questão, o que ele representa, quais os valores do mesmo culturalmente, qual o lugar da marca a nível social e cultural e se o produto está ou não a contribuir para o bom sucesso da marca. Muito importante também, é estudar o público que se pretende atingir, ou seja, adequar os aspetos anteriores ao tipo de consumidor que a marca pretende chegar.
Análise semiótica
Semiótica é a ciência geral dos signos que permite descrever, analisar e avaliar todo e qualquer processo existente nos signos verbais e não-verbais. Para compreender o signo é preciso ter em atenção à relação triangular entre interpretante, objeto referente e significante. Além disso leva a compreender a natureza e os poderes da referência dos signos, a informação que transmitem, como se estruturam, como funcionam, como são emitidos, produzidos, utilizados e que tipos de efeitos são capazes de provocar no recetor.
A semiótica é composta por três ramos, tais como: a gramática especulativa onde estuda todos os tipos de signos e formas de pensamento que são possíveis; a lógica crítica que estuda os vários tipos de inferência, raciocínio ou argumentos (indução, abdução e dedução) que são estruturados através de signos; e ainda metodêutica ou retórica especulativa que analisa os métodos que cada tipo de raciocínio tem origem (método científico e modo da pesquisa científica).
Focando na gramática especulativa esta divide-se em primeiridade que significa a relação com os signos, a secundidade que se relaciona com algo físico, mas que não está presente e a terceiridade que faz referência aos valores e entendimento da cultura presente.
A tricotomia de Peirce representa uma parte fundamental da análise semiótica, uma vez que corresponde ao signo, objeto e interpretante. Neste caso, o signo designa o objeto e o objeto determina o signo que por sua vez resulta no interpretante, as propriedades que determinam o signo são o caráter de lei, a existência e a qualidade. Mais especificamente, a qualidade sugere ou evoca algo, quali-signo, a existência que significa algo existir por si ou por uma relação que leva à realidade, sin-signo, por fim o carácter de lei que corresponde ao resultado de uma impressão mediada por convenções, legi-signo.
Para concretizar uma análise semiótica decidimos escolher imagens de Adriana Lima a desfilar para a marca Victoria’s Secret nos seguintes anos: 2013, 2016 e 2018.
A primeira imagem a ser analisada pertence ao desfile de 2013. O primeiro olhar contemplativo, ou seja, o quali-signo, evidenciamos as cores quentes, tais como o vermelho das asas e da lingerie e ainda o dourado das purpurinas espalhadas pela passerelle e ainda o olhar focado e marcante da modelo. Em relação à qualidade das cores transmitidas, onde o dourado dá a ideia de luxo, e brilho destacando a imagem da modelo. A cor vermelha nas asas e na lingerie faz referência à sensualidade, calor, intensidade, paixão, atração, excitação, perigo, poder, sangue, a uma figura diabólica e ao fogo- sin-signo. O dourado transmite luxo, riqueza, sabedoria interior e exclusividade. As cores e pose evidenciadas na fotografia são associadas à ideia de poder e de algo inalcançável transparecidas pela figura feminina- legi-signo.
Em relação ao signo com o seu objeto, temos o ícone que faz referência ao que a imagem transmite, sensualidade, exuberância, intimidade e poder. O índice que podemos ter em atenção ao nome Victoria’s Secret que ao desfilar com roupa íntima feminina transmite os segredos da mulher. E o símbolo a convenção de sensualidade e mistério.
O interpretante pode ser dinâmico, mais concretamente emocional, uma vez que, os fatores enunciados anteriormente provocam no intérprete uma qualidade de sentimento e ainda imediato. No caso do interpretante energético é a cor vermelha presente nas asas e na lingerie da modelo que chamam a atenção do interpretante. O interpretante dinâmico lógico permite a mudança de paradigma como a roupa íntima feminina ser exposta num desfile com a maior das naturalidades e poderes que realçam a figura feminina.
A segunda imagem a ser analisada refere-se ao desfile de 2015. À primeira vista, é realçado tanto a forma alegre da modelo como a roupa com que desfila. O quali-signo evidenciado são as cores nas asas com penas de pavão coloridas com as seguintes cores: roxo, rosa, azul e verde, e ainda o sorriso rasgado com que a modelo desfila. Em relação à qualidade das cores transmitidas, o roxo significa magia e poder, o rosa perfeição, feminilidade, harmonia e ternura, azul transparece tranquilidade e serenidade, e o verde esperança, liberdade e juventude. A asa é composta por penas de pavão chamativas com as cores anteriormente descritas, esta analogia significa exuberância e empoderamento, no caso animal o pavão mostra-se para chamar a atenção das fêmeas abrindo o seu leque de penas, já na imagem a modelo desfila com o seu leque aberto mostrando a beleza da sua presença atraindo a atenção dos olhares para si- sin-signo.
A imagem transmite não só a ideia de espetáculo como a alegria contagiante que se encontra ao desfilar tanto com a roupa como o acessório chave, as asas construídas com penas de pavão coloridas- legi-signo.
Nesta imagem relativamente ao signo com o seu objeto, temos o ícone que faz referência à alegria, exuberância, entusiasmo, euforia e elegância. O índice a realçar é a mensagem que a marca quer transmitir, ou seja, um ambiente agradável, festivo, divertido e descontraído. O símbolo que significa a primavera com as cores transmitidas, podendo também fazer uma referência ao Carnaval do Brasil onde as bailarinas desfilam e dançam com asas e fatos bastante apelativos.
O efeito interpretativo é realçado através do interpretante emocional, ou seja, as cores chamativas que transmitem ao intérprete felicidade e alegria. O interpretante dinâmico energético permite a movimentação na direção do objeto, ou seja, da modelo na imagem.
A última imagem refere-se ao último desfile da modelo para a marca Victoria Secret em 2018. Num primeiro olhar o que é realçado com maior evidência é a própria modelo, seguidamente a lua que transporta e de seguida as cores do cenário por detrás da mesma. O quali-signo nesta imagem são as cores dos ecrãs do desfile que realçam a presença da modelo, cores como o roxo e o azul, que transmitem a ideia de noite, o mistério da mesma e a galáxia. A asa que Adriana Lima transporta é diferente do que o público que o assiste está habituado sendo naturalmente apresentados com asas gigantes com penas ou grandes tecidos.
Em relação ao sin-signo este é apresentado pelas sensações sensoriais e visuais, o preto apresentado na lingerie e sapatos de Adriana representa a noite, elegância, luxo, sofisticação e sensualidade.
O cenário com o público por trás significa visibilidade e as cores, roxo e azul que fazem referência às cores anteriormente descritas, simbolizando também a mistura da noite fazendo uma correspondência com a asa, ou seja, a lua que também faz parte da noite.
O legi-signo é transmitido através da imagem com a ideia de espetáculo, sensualidade, atração e intimidade, demonstrada através do vestuário, acessórios, cenário e expressão facial da modelo.
Relativamente ao signo com o seu objeto, o ícone faz referência à sensualidade e elegância que a noite traz. O índice realça a mensagem da marca ao transmitir o fim do dia com a exposição da lua fazendo uma analogia com o fim da carreira da modelo a desfilar para a marca. O símbolo também significa a noite como também a presença da lua, neste caso Adriana Lima e as estrelas, ou seja, as outras modelos presentes no desfile. As cores associadas à noite que transmitem ao intérprete a beleza da noite feminina realçando os olhares para a lingerie da modelo. O interpretante dinâmicoenergético permite a ideia de orgulho, superioridade e exibição.
Conclusões
Após a execução da análise semiótica sobre as imagens da modelo Adriana Lima ao desfilar para a marca Victoria’s Secret foi nos possível responder à questão previamente levantada pelo grupo vigente.
Respondendo à pergunta de investigação “Como é que a Victoria’s Secret constrói um determinado discurso para gerar todo o mediatismo da marca?”, concluímos que existem diversos fatores para tal acontecimento. Sendo eles o facto de, em apenas um desfile, existir uma enorme produção em todos os aspetos, quer em termos de espetáculo quer em termos das vestimentas das próprias modelos. Pode dizer-se que é algo exagerado só para vender um conjunto de lingerie que, com tudo isto, é ofuscado. O uso de modelos famosas, chamadas de anjos, é também um ponto muito importante para contribuir para o mediatismo existente, pois o facto de serem conhecidas faz com que muitas pessoas queiram saber o que fazem, o que usam, o que partilham, ou onde trabalham.
Outros fatores envolventes, tais como as cores e formas e onde estas são usadas, têm significados que podem influenciar a maneira como o público vê e recebe a mensagem transmitida. Foi através deste tipo de fatores que conseguimos analisar semioticamente algumas imagens da modelo.
A produção dos desfiles passa por processos demorados e complexos que exigem muito empenho e profissionalismo. Desde a escolha do local do desfile, às modelos que vão desfilar, tema do mesmo, à lingerie escolhida e aos cantores que irão atuar em simultâneo com as modelos a desfilar.
Desta forma, podemos concluir que todos estes aspetos contribuem e fazem com que a marca tenha todo este mediatismo, visibilidade e reconhecimento a nível mundial. A Victoria’s Secret destaca-se em relação a outras marcas concorrentes. Assim esta marca de lingerie consegue continuar a destacar-se no mundo da moda apesar dos obstáculos que a mesma tem enfrentado ao longo dos anos.
Referências
Santaella, L. (2008). Semiótica Aplicada (1ª.ed.). São Paulo: Pioneira Thomson Learning.
Chitas, I. (2016, novembro 22). Livro de História: Victoria’s Secret. VOGUE. https://www.vogue.pt/livro-de-historia-victoria-s-secret
Martins, M. (2021, novembro 28). Victoria’s Secret: a controversa e polêmica história da marca. Mega Curioso. https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/120484- victorias-s-secret-a-controversa-historia-da-marca.htm
Matos, R. (2018, novembro 9). Adriana Lima: o adeus à Victoria’s Secret. VOGUE. https://www.vogue.pt/adriana-lima-victorias-secret-o-adeus
Os famosos em alta: Adriana Lima. Purepeople. https://www.purepeople.com.br/famosos
Santaella, L. (2008). Semiótica Aplicada (1ª.ed.). São Paulo: Pioneira Thomson Learning.
Comentar