Castro Brothers é um canal do YouTube criado em 24 de fevereiro de 2006 por Marcos e Matheus Castro, dois irmãos que gostam de música, games e comédia. Com uma duração média de cinco minutos cada vídeo, o canal é geralmente protagonizado por Marcos Castro e um ou mais convidados, que se propõem a fazer algum tipo de conteúdo que gere o riso no espectador, como uma paródia, um jogo, uma canção, uma mix de cantadas ruins ou comentários sobre games.
Além da plataforma no YouTube, Castro Brothers mantém ainda outras formas de interação entre o canal e o visitante, como Twitter, Facebook, Instagram e iTunes. Na aba discussão, o canal não responde a comentários do público, mas, em alguns vídeos, vemos esse retorno acontecer esporadicamente. Na aba playlists, o canal se mostra bem diverso, pois apresenta as subdivisões Últimos vídeos, Ukulele News, Cantadas Ruins, Piadas Nerds, Um joystick – Um violão, A lenda do heróis, Traduzindo, Duelo de trocadilhos, Piadas ruins, Outros musicais, Joystick Tv, Game test, Animações em Pixel Art, Favoritos, Vídeos (quase) diários em julho, Bike ela aprende, Cantadas Nerds, Stand-up, Vlog, A saga de Dilma, Dingos e Vídeos marcados como “Gostei”.
Também observamos essa diversidade de conteúdos, pois quatro deles são de jogo de improviso com os artistas convidados (do canal Barbixas); três de notícias em forma de música (quadro Ukele News); três de diálogo entre duas pessoas (quadro Cantadas Ruins e projeto Idiotices); quatro de monólogos (com Marcos Castro falando sobre algo que o incomoda ou sobre 10 coisas que aprendeu com algum jogo); um de vídeo-propaganda em forma de música (Barbixas toda quarta em setembro); um de “entrevista” (Entrevistando um analista de sistemas); e um de música (Famosos cantam Chaves com Ed Gama).
No plano da expressão, são destaques o cenário, que permanece sempre o mesmo em todas as 17 emissões analisadas, com um fundo laranja com quadrados pretos; a linguagem informal, composta por frases como “quero que você se foda”, “quero que você enfia ela no cu”, “vai tomar no cu”, “vai se fuder, porra”; e a edição, que é carregada de efeitos especiais, como no mostrado no dia 7, no vídeo que Marcos Castro fala dos atuais emojis das redes sociais, que são imagens que transmitem a ideia de palavras ou frases e que a todo o momento surgem na tela para exemplificar o que Marcos está falando.
Quanto às vinhetas, é destaque a de abertura do quadro Ukulele News, que traz um fundo amarelo com um dinossauro cinza vestido com saia de havaiana e o nome “Ukulele News” do lado, ao som da voz de um homem que fala: “Ukulele News, porque tudo fica melhor com Ukulele. Até as tragédias”. A vinheta final, que aparece em quase todas as emissões, é básica, com um fundo laranja com o logo do canal no meio e quadrados pretos alinhados nas partes de cima e de baixo da tela.
No plano do conteúdo, o indicador de qualidade desconstrução de estereótipos obteve avaliações bastante variadas. Dos 17 vídeos, nove são pontuados porque reforçam estereótipos: dois usam muito; um, menos, e seis, pouco. Uma das emissões que utilizou muito desse artifício é a Queima a roda gigante do Rock in Rio – Ukulele News #8, exibida no dia 24, que traz Marcos Castro e Rafael Studart noticiando assuntos da semana em forma de música, ao som de um ukulele (instrumento musical de cordas).
MARCOS – O Rock in Rio levou pro Rio uma grande multidão. E agora eu vou explicar pra vocês como que funciona essa equação: Rio de Janeiro, mais multidão, é igual a arrastão. E pra continuar, o Dinho Ouro Preto vai cantar essa canção.
ED: Em Copa vão te roubar, levar teu celular. Não basta esfaquear, eles querem roubar, furtar, matar. Pedras de crack fumam.
Nesse trecho da canção, uma paródia da música Natasha, da banda Capital Inicial, vemos que o canal reforça o estereótipo de que o Rio de Janeiro é violento ao afirmar que visitantes na cidade sofrerão roubos, furtos, e até agressões físicas que resultarão em morte. Nessa mesma emissão, pode-se identificar outro indicador do plano do conteúdo, a oportunidade, que se faz presente quando na melodia os personagens utilizam paródias e rimas para construir o humor ao falar de assuntos atuais da agenda midiática, que aconteceram ou que estavam em evidência em setembro de 2015, como a alta do dólar, o polêmico pronunciamento da presidenta Dilma (em que ela saudou a mandioca), o Rock in Rio e a violência urbana do Rio de Janeiro. Nesse indicador, cinco emissões são consideradas muito boas; três boas; quatro razoáveis; três fracas; e em duas não é identificado.
O indicador de qualidade diversidade de sujeitos representados também não é muito pontuado: de todos os 17 vídeos analisados, três são consideráveis; seis razoáveis; quatro fracos; e em cinco não é identificado. Um dos exemplos avaliado como considerável para esse indicador é o vídeo do dia 28 de setembro, que traz Marcos Castro e Ed Gama cantando uma música que faz referência ao humorístico Chaves e a diversos artistas famosos, como Bruno Boncini, Shakira, Belo, Cazuza, Caetano Veloso, Silvio Luiz, Lucas Lucco, Xororó, Silvio Santos e Faustão. Com a caracterização de Ed Gama, que parodia essas personalidades na voz, no jeito e no contexto de suas vidas, observa-se claramente que o que o vídeo pretende é fazer comédia, sem qualquer preocupação com uma possível reflexão do público após o riso, que é gerado a partir da letra da música e da imitação dos artistas.
Apesar de esse ser um exemplo em que muitos sujeitos são mencionados, em quase nenhum dos 17 vídeos analisados essa diversidade é realmente diversa, com diferentes tipos de pessoas. A quase inexistente aparição ou menção a pessoas de outras cores, por exemplo, mostra que o programa não preza pela representação plural de seus personagens, e sim pela representação numerosa deles. O único em que outras etnias são citadas é no vídeo do dia 7 de setembro, intitulada A moda agora é emoji, em que Marcos Castro fala dos inúmeros emojis (imagens que transmitem a ideia de uma palavra ou uma frase completa) possibilitados pela internet hoje em dia.
No vídeo, Marcos está sozinho falando direto com a câmera, quando aos 3 minutos e 7 segundos ele dispara: “E olha que eles [os inventores dos emojis] pensaram bastante na questão da segregação, porque agora você tem várias etnias: tem o negro, tem o marrom, tem o branco, tem o muito branco, e tem o amarelo, que é pra você que é Simpson”.
O último indicador de qualidade do plano do conteúdo, a ampliação do horizonte do público, é quase que inexistente no canal Castro Brothers. Os três Ukulele News que aparecem na amostra analisada são muito bem avaliados, enquanto que apenas um vídeo dos outros 14 que restam recebe alguma consideração e, mesmo assim, fraca. Na emissão exibida no dia 3 de setembro, intitulada Sanduíche de Climão com Lula Inflável – Ukulele News #6, aos dois minutos Rafael Studart fala de um boneco inflável que apareceu em várias cidades do país e que representa o ex-presidente Lula.
STUDART: Ele é igual ao Lula, tem semelhanças demais. Eu só fico na dúvida qual dos dois viaja mais.
MARCOS: Esse é o Brasil, esse é o Brasil: pais que só pensa em jogar bola. E a verdade é que o boneco do Lua só não está mais inflado que o dólar.
STUDART: Tava no carro com a minha mina. Eu reclamando do dólar, e ela, da gasolina. Daí falei pra ela: calma! Não se mate. Espero que seja passageiro que nem o tomate. O pobre, tô pobre, a vida não tá dando mole. Esse dólar que só sobe, sobe, sobe, sobe… eu não quero saber o dia de amanhã. Quem será que vai segurar o tio Sam? Segura o tio Sam, amarra o tio Sam. Segura o Sam, amarra o Sam, segura o Sam, Sam, Sam, Sam, Sam…
Nesse vídeo, Marcos Castro e Rafael Studart criam uma canção falando de restaurantes fast foods, viagens excessivas do ex-presidente Lula, inflação, plano de saúde, tratado de paz, e alta do preço da gasolina, do tomate e do dólar. Entretanto, é o trecho acima que mais possibilita a reflexão e ampliação do horizonte do público quanto ao estado econômico do país, que se encontra em crise neste momento. Na fala de Marcos, em que ele compara o boneco inflável do Lula com o preço do dólar, que está muito caro, percebe-se uma associação que pode fazer o espectador culpabilizar a crise do país ao Partido dos Trabalhadores (PT), partido do ex-presidente. Na segunda fala de Stuart, a referência à alta do dólar e da gasolina, e à alta do tomate, que em determinado momento de 2015 estava com preços muito grandes, antecedem a referência à situação a que essas altos preços levaram os brasileiros, que agora está com menos dinheiro devido aos elevados gastos (“tô pobre, a vida não tá dando mole”). Na sequência, Marcos e Studart terminam a canção falando do tio Sam, figura americana utilizada como símbolo da expansão dos Estados Unidos e do nacionalismo, que na música é usada para retomar a indagação que Studart fez sobre quem pararia a alta do dólar, a moeda americana. Veja, abaixo, o gráfico do plano do conteúdo e as notas que cada vídeo recebeu:
Na mensagem audiovisual, o indicador de qualidade originalidade/criatividade é bem pontuado: do total de emissões, sete são muito bem avaliadas, outras sete consideradas boas, e três razoáveis. No vídeo exibido no dia 14 de setembro de 2015, por exemplo, intitulado Entrevistando um Analista de Sistemas, o objetivo é brincar com palavras e trocadilhos que remetem à profissão Analista de Sistemas. Ao caracterizar esse profissional e fazer a ele algumas perguntas, todas as respostas obtidas têm algo que lembra o seu ambiente de trabalho ou os termos técnicos da sua profissão. Password, processador, servidor, programa, CD, minimizar, mouse, e-mail e desktop são algumas das palavras ditas, que exigem muita criatividade, originalidade e conhecimento sobre o assunto para serem inseridas de alguma forma no diálogo entre quem pergunta e quem responde, pois nem mesmo o espectador, que está recebendo todos os trocadilhos prontos, consegue entender todas as referências implícitas nas respostas do entrevistado.
Quanto à solicitação da participação ativa do público, esse indicador é muito bem pontuado. Das 17 emissões analisadas, uma é razoável, quinze boas, e uma muito boa. Tais avaliações positivas se devem ao fato de que em todas as emissões, em umas mais e em outras menos, os personagens interagem a todo o momento com o público, olhando pra câmera e falando “você”. Além disso, na maioria dos vídeos, depois da vinheta final, aparecem na tela espaços delimitados que se clicados dão acesso direto a outras publicações do canal. Também no tempo extra, os personagens conversam diretamente com os espectadores e pedem que deem like no vídeo e que se inscrevam no canal, como no final do Cantadas Ruins 16, exibido no dia 4 de setembro, em que Marcos e a convidada Luciana D’Aulizio dialogam entre si e com o espectador:
MARCOS: Muito obrigado a você que assistiu a mais um Cantadas Ruins, um show repleto de tapas, mas deixa aí um vídeo repleto de likes se você gostou. E muita gente pergunta, Luciana, quando é que vai ter cantadas ruins de novo.
LUCIANA: Quando, Marcos?
MARCOS: Agora eu posso deixar pra vocês aí uma notícia que é muito boa que é o quê: Cantadas Ruins quinzenalmente, às sextas-feiras. Sexta-feira por quê? Porque é pra você já ir pra balada pra você saber que você vai se dar mal.
O vídeo mais bem avaliado nesse indicador, o exibido no dia 30, é o único assim considerado porque traz Marcos e os integrantes do canal do YouTube Barbixas (Anderson Bizzocchi, Daniel Nascimento e Elidio Sanna) dialogando com o espectador logo no início do vídeo e mencionando supostos conteúdos e nomes de pessoas que comentariam naquele vídeo depois que o visse.
MARCOS: Estamos lendo os comentários aqui de vocês que viram vários vídeos da gente com os barbixas…
ELÍDIO: Esse aqui é o último…
MARCOS: Não, pode ter mais, por ter mais… Bom, depende muito do que vocês vão fazer aqui hoje.
DANIEL: Depende muito dos seus likes, dos seus views.
ELÍDIO: Então, gente, dê like, dê view.
MARCOS: Tem uns comentários ali. A Andressa, que tá falando… é like ou lixo?
DANIEL: Eu acho que é uma letra nova, que significa tanto “k” quanto “x” […].
ANDERSON: Olha só, o João tá digitando nesse momento agora o comentário: onde eu consigo recuperar os três minutos que eu perdi da minha vida assistindo esse vídeo.
A maioria das emissões do canal Castro Brothers é muito clara na sua proposta. No indicador de qualidade clareza da proposta, 16 vídeos têm avaliação ótima, enquanto apenas um tem avaliação boa e, mesmo assim, porque não deixa explícito o seu objetivo logo no início do vídeo, mas sim no tempo extra. A emissão, exibida no dia 10 de setembro, traz Marcos Castro e Maurício Meirelles falando sobre assuntos aleatórios e aparentemente sem conexão, e que só após a vinheta final, com a fala de Maurício, é que entendemos o porquê:
Deixar claro aqui, antes de terminar esse vídeo: o projeto “Idiotices”, é falar algo sem roteiro, sem algo estabelecido. A gente vai falando, vai puxando, e quando vê a gente tá falando uma merda absurda. Você agora, Marcelinho Moreira, que faz Malhação, que é um puta babaca, deve tá comentando assim: “nossa, não achei graça nenhuma”. Por que a gente não tem que ter graça! A gente tá falando o que a gente pensa.
(Castro Brothers – episódio Explosões – Idiotices 10 10/09/2015)
No último indicador de qualidade da mensagem audiovisual, o diálogo com/entre plataformas, o canal não apresenta um padrão, pois é bem diverso: cinco emissões têm avaliação muito boa; sete boa; três razoável; e duas fraca. Três formas utilizadas pelo canal se destacam para fazer referência aos diferentes tipos de plataformas, programas e personalidades: crossovers, parcerias e menções. Comumente visto no YouTube, os crossovers (situações em que personagens de diferentes canais interagem em um mesmo ambiente) são presentes no Castro Brothers quando os meninos do canal Barbixas participam ao lado de Marcos Castro dos vídeos publicados nos dias 2, 9, 16, 23 e 30 de setembro, ainda que todos esses cinco vídeos tenham sido gravados no mesmo dia (fato evidenciado pela roupa dos quatro meninos, repetidas em todas as emissões).
A segunda forma utilizada pelo canal para dialogar com outras plataformas é através de parcerias, que estabelece com a página Jesus Manero nos vídeos publicados nos dias 11 e 25 de setembro: 10 lições que aprendi com Metal Gear e 10 lições que aprendi com Zelda, respectivamente. E a terceira forma de interação com/entre outras plataformas, programas e personalidades se dá pela menção direta desses conteúdos, como no episódio do dia 17, intitulado Final do Master Chef faz tremer – Ukulele News #7 ft. Jota Quest, em que o programa Master Chefe, a banda Jota Quest, a atriz e modelo Beth Lago, e o cantor e ator Dado Dolabella tiveram os nomes mencionados. Abaixo, o gráfico da mensagem audiovisual com todas as notas das emissões em cada indicador:
A análise sob os modos de representação e experimentação dos personagens na construção dos vídeos e o uso dos recursos técnico-expressivos, que contribuem para a construção de uma narrativa que pode promover a reflexão e o debate de ideias, provou que Castro Brothers explora alguns elementos, mas pouco se preocupa com outros. Como mostrado, o canal não gosta de “humor, música e games”, como consta na sua descrição, mas “comédia, música e games”, pois preza, majoritariamente, pelo riso do espectador (o que faz muito bem, já que é claro na sua proposta e criativo no seu conteúdo), e os únicos momentos em que o programa buscou a reflexão do seu público foi nos quadros Ukulele News, que só aparecem em três das 17 emissões analisadas.
Por Luma Perobeli
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