Observatório da Qualidade no Audiovisual

CQC – Custe o Que Custar

Custe o Que Custar (CQC) estreou na Rede Bandeirantes de Televisão no dia 17 de março de 2008 e é uma franquia do formato argentino CaigaQuienCaiga, produzido pela Eyeworks. Mesclando humor e jornalismo, o programa tinha três apresentadores de bancada e já passaram por lá Dan Stulbach, Marco Luque, Rafael Cortez, Marcelo Tas e Oscar Filho. Eles vestiam um figurino em comum: terno preto, gravata e óculos escuros, fazendo referência ao filme “MIB – Homens de preto”. Dos criadores Diego Guebel e Mario Pergolini, desde 2010 o humorístico é dirigido por Gonzalo Marco. Apresentando ao longo das suas seis temporadas uma grande rotatividade entre seus participantes, já passaram pelo elenco do CQC nomes como Felipe Andreoli, Danilo Gentili, Rafinha Bastos, Monica Iozzi e Dani Calabresa. A atração ia ao ar todas as segundas-feiras às 22h30, com duração aproximada de duas horas e trazia os fatos políticos, artísticos e esportivos da semana de forma satírica e bem humorada.

No que se refere ao plano da expressão o programa apresentava boa qualidade de som e imagem, uma vez que cumpria o estilo jornalístico. Falando das reportagens, estas sempre apresentavam na parte superior da tela as palavras chaves do tema e antes da sua exibição era mostrada a editoria a qual a matéria pertencia. Parte das vezes quando um entrevistado era identificado, havia alguma descrição abaixo do nome que tinha o objetivo de ser engraçada, por exemplo: Aécio Neves – “candidato a presidente derrotado”.

Um ponto notório é a publicidade, excessivamente explorada em esquetes que faziam propagandas de produtos e serviços com atuação dos próprios integrantes. Além disso, a arte de abertura também havia marcas inseridas.

No plano do conteúdo houve uma grande variedade na classificação dos indicadores. Falando sobre a ampliação do horizonte do público, duas emissões foram consideradas muito boas e duas boas. Isso aconteceu principalmente pelo cunho informativo do programa. Era dada uma contextualização dos assuntos e buscava-se uma diversidade de fontes, o que permitia um maior conhecimento do público acerca dos temas. Um dos episódios com melhor classificação foi o do dia 3 de Junho de 2013. Nele é exibida uma reportagem sobre a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo no Brasil e a discordância do PSC (Partido Social Cristão), que tentava impedir. Há uma contextualização citando outros países que já adotaram a medida, além de mostrar a visão sobre o assunto no congresso e no partido em questão. Isso contribui para um maior engajamento e reflexão do espectador que vê diversos pontos de vista sobre o mesmo tema.

Falando sobre diversidade de sujeitos representados, pode-se observar que os episódios tiveram boas classificações, sendo que três foram muito bons. Como um programa jornalístico apresenta uma pluralidade de vozes, buscando ouvir além das fontes oficiais, as pessoas que geralmente não tem espaço de fala. Na reportagem sobre a dengue, exibida no programa de 3 de Junho de 2013, por exemplo, são entrevistadas pessoas negras e brancas, homens e mulheres de diversas faixas etárias, além de um especialista no assunto. São feitas até mesmo denúncias acerca do tratamento médico de má qualidade; o espaço é aberto a qualquer tipo de crítica. Foram feitas entrevistas em um bairro periférico, onde o repórter mostra as condições de moradia e como a falta de saneamento básico e a negligência do poder público podem gerar condições para a doença se proliferar.

O indicador desconstrução de estereótipos foi o mais chamativo: não constou em três emissões e foi fraco em uma. Isso aconteceu porque muitas vezes os repórteres e apresentadores reafirmavam lugares comuns através de suas falas ou entrevistas. Um claro exemplo aconteceu no dia 26 de Setembro de 2011, na cobertura que Rafael Cortez fez de Dilma em uma viagem a Nova York, onde ela seria a primeira mulher a abrir a Assembleia Geral da ONU. O repórter pergunta a um entrevistado: “Uma mulher no poder aqui é uma boa maneira de limpar a sujeira?”. Além disso, ele pergunta ao presidente Chile: “Você acha que Dilma vai fazer um grande discurso hoje ou como mulher vai falar em direitos iguais e blábláblá?”, reiterando a opinião de uma camada da sociedade que pensa baseada em opiniões machistas.

Outra demonstração clara de piada que gerou uma problemática relacionada ao machismo, foi o momento após um quadro em que Mônica Iozzi interagia com Tiririca e ele a assediava verbalmente. Os apresentadores vão em “defesa” dela, afirmando que é uma mulher séria e começam a dizer que a mesma nunca ficou com ninguém, além de Marcelo Tas, do diretor do programa – para ser admitida – do segurança e da moça que trabalha no café. As falas são feitas no sentido de reafirmar o estereótipo da mulher interesseira e que busca benefícios. Ao final do programa, o apresentador diz que tirando os nomes que aparecem nos créditos, ela não “deu” pra mais ninguém, porque ela é “para casar”.

O indicador oportunidade foi claramente percebido e todos os episódios foram muito bons. Por ser um programa jornalístico de humor, os assuntos eram pautas midiáticas e sociais e geralmente tinham como pré-requisito a atualidade. Na emissão de 27 de Outubro de 2014, por exemplo, o dia era de resultado de eleição presidencial e Marcelo Tas já no início do programa deseja boa sorte à presidente Dilma, reeleita para o cargo. O episódio traz ainda uma cobertura da disputa eleitoral entre Dilma e Aécio e o dia das eleições de 2014. Outro exemplo de atualidade, dentre vários, foi no dia 17 de Novembro de 2014, em que Guga Noblat cobre os protestos daquele mês contra o governo, com vários manifestantes pedindo o impeachment da presidente Dilma.

Veja a seguir as avaliações referentes ao plano do conteúdo:

cqcpc

Falando sobre a mensagem audiovisual, a clareza da proposta obteve todas as classificações muito boas. Isso se deu principalmente pela divisão que era feita como num telejornal comum, com matérias de política, esporte, internacional, dentre outras editorias, sendo que a notícia mais esperada ficava para o final. Além disso, o último quadro era o “Top five”, que continha momentos engraçados e marcantes de outros programas ou vídeos da semana.

O indicador diálogo com/entre outras plataformas foi tido como bom em todas as emissões analisadas. Os apresentadores e repórteres sempre citavam nomes de políticos, partidos, personalidades, emissoras e outras atrações televisivas. Em algumas reportagens e no quadro “Top five” chegam a ser exibidos pequenos trechos de programas de outros canais.

Outro indicador com altas avaliações foi a solicitação da participação ativa do público, que foi boa em todas as emissões. Além da linguagem que é simples e acessível, Marcelo Tas pede a participação dos internautas para o “Top five” via Twitter – eles mandam sugestões de vídeos para a conta @topfivebrasil. Outro quadro que conta com essa interação é o “Reclame já”, que recebe queixas de espectadores a respeito de algum problema de responsabilidade do poder público. Esses problemas são mostrados e são feitas entrevistas com os afetados e com as pessoas responsáveis, em busca de solução.

No que se refere à originalidade/criatividade do programa, todos os episódios foram bons. Nesse quesito foi levado em consideração o formato inovador de um conteúdo jornalístico apurado, mas com forte presença do repórter e sua opinião, uma vez que ao fazerem as entrevistas alguns de seus pontos de vista apareciam, ao contrário dos telejornais tradicionais que optam pelo discurso da imparcialidade. Na emissão do dia 27 de Outubro, por exemplo, há uma cobertura sobre as eleições de 2014 e por meio das entrevistas aos políticos e apoiadores dos candidatos, nota-se um tom irônico nas entrevistas aos que preferiam o projeto de Aécio Neves. No mesmo programa, o repórter Guga Noblat chega a falar com o político Hugo Leal do PSD que seu partido é interesseiro, uma vez que sempre escolhe ficar do lado de quem que está no poder, independente de sua ideologia.

A seguir, os indicadores da mensagem audiovisual:

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Percebeu-se que o programa, descrito como “resumo semanal de notícias”, trazia quadros informativos e bem produzidos, reportagens com a abordagem de assuntos relevantes para a sociedade e que tocam em questões de saúde, educação, política, esportes, dentre outros. O conteúdo era elaborado baseado no máximo de fontes possível – falas de especialistas, testemunhas, pessoas diretamente envolvidas com os fatos – e às vezes infográficos informativos. Em relação aos modos de representação, muitas vezes foi observada uma reafirmação de estereótipos através de falas de repórteres e apresentadores ou até mesmo dos esquetes publicitários. Porém, haviam reportagens preocupadas em fazer críticas sociais e contribuir para a promoção da diversidade. Além disso, CQC fazia cobranças às autoridades, em busca de respostas às demandas da população; as fugas daqueles eram combatidas com argumentos e provas das situações reais. Os pedidos às vezes eram atendidos devido à visibilidade do programa.

Falando dos modos de experimentação, não foi percebido o uso dos recursos técnico-expressivos de forma inovadora, uma vez que o formato utilizado era o mesmo dos telejornais. O público tinha a possibilidade de participar de alguns quadros, o que contribuía para a construção da narrativa e promovia a diversidade de pontos de vista.

Por Letícia Silva

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