Observatório da Qualidade no Audiovisual

PutzVéi

O canal Putz Véi, criado em 11 de janeiro de 2012, se descreve como um “Um programa de humor via web”. Com vídeos novos toda quinta e domingo, as emissões contam com a apresentação de Gabriel Oliveira, que fala de assuntos cotidianos com uma angulação que busca do espectador um riso fácil.

No que se refere ao plano da expressão, não foi vista uma ampla utilização de recursos estéticos e expressivos. Somente dois dos cinco vídeos analisados tinham uma vinheta no início – uma arte em desenho animado de uma lesma andando num fundo urbano. Havia uma trilha animada e em seguida uma tela cinza com o símbolo do programa.

A atuação de destaque na maioria das emissões foi a do dono do canal, Gabriel que geralmente agia de maneira natural. As gravações de vídeos aconteceram em um ambiente que parecia ser um quarto. Foram vistos dois exemplos de vídeos com divulgação de produtos inserida. No vídeo “Hora do Gordo no Coca-Cola Festival 2015”, o apresentador diz que participou de uma promoção para o evento, mas não ganhou e então comprou o ingresso. Aproveita para convidar seus espectadores a fazerem o mesmo. Chama-os para o festival e divulga o produto. O fim da emissão apresenta uma arte da Coca-Cola, com o slogan e as cores da empresa. No episódio “Ônibus dos infernos”, Gabriel divulga o trabalho de um amigo seu que mora São Paulo e produz réplicas de camisas de times.

Na análise do plano do conteúdo, as avaliações foram geralmente baixas. O indicador ampliação do horizonte do público não constou em nenhuma das emissões. Isso aconteceu porque nenhum vídeo apresentou um aprofundamento em temas com potencial para reflexão. No dia 20 de Setembro de 2015, por exemplo, o apresentador comenta sobre a má qualidade dos transportes públicos e diz que todo brasileiro gosta de estar dentro do ônibus sentindo aquele cheiro de “bosta com merda”. Completa dizendo: “Qual a diferença de bosta pra merda? Não tem diferença, não. É igual PT e PSDB”. A pauta da política, que se explorada melhor poderia levar o público a pensar, não foi aproveitada, porque Gabriel emite sua opinião sem contextualizar ou explicar.

A diversidade de sujeitos representados também não foi bem avaliada, sendo que foi fraca em duas emissões e não constou em outras duas. O motivo é que o protagonismo dos vídeos era de Gabriel, o apresentador. O único episódio com uma maior multiplicidade de seres foi o de 8 de Setembro de 2015, que era uma pegadinha gravada na rua, com a participação de várias pessoas que passaram pelo local.

Outro indicador com avaliações baixas foi desconstrução de estereótipos. Isso aconteceu porque alguns assuntos reafirmavam o senso comum reproduzido pela sociedade. A emissão que mais deixou essa característica clara foi “Briga de irmãs”, do dia 27 de Setembro de 2015. Ele apresenta dois homens com perucas, maquiagens e roupas ditas femininas, imitando o estereótipo do que é ser mulher. Toda a emissão se preocupa em evidenciar a rivalidade entre duas irmãs. São feitos vários xingamentos ao longo do vídeo – invejosa, cretina, vadia, baleia… – e uma irmã diz que desde pequena a outra já era “quenga”. Afirma-se que essas brigas acontecem o tempo todo e é dada ênfase a essa violência que de acordo com o vídeo, ocorre principalmente por disputas. A frase utilizada para expressar essa ideia é: “Mas é assim mesmo, toda mulher gosta de roubar o macho da outra”. São feitas várias citações ao órgão sexual masculino, no sentido de reafirmar certos comportamentos estereotipados como de mulheres “safadas”, inclusive para dizer que uma das garotas do vídeo precisa de um homem.  Além disso, uma das personagens aconselha guardar as informações sobre algo de errado que sua irmã fez, para chantageá-la no futuro.

O indicador oportunidade foi bem observado somente na emissão “Hora do Gordo no Coca-Cola Festival 2015”, uma vez que era um vídeo de divulgação de um evento que se aproximava. O episódio “Ônibus dos infernos” obteve oportunidade razoável, já que mesmo não sendo uma pauta midiática, este é um assunto presente no cotidiano das pessoas. O foco é mostrar situações do dia a dia de quem usa transporte público e gerar identificação. Questões como demora dos ônibus, motoristas que ignoram uma parada, vendedores ambulantes e pessoas se esbarrando por falta de espaço, são abordadas, no sentido de fazer uma crítica à má qualidade do transporte. É falado sobre os muitos assaltos e pessoas mal educadas e não se oferecem para segurar os objetos de quem está sem lugar.

Então, temos, no gráfico, os indicadores de qualidade do plano do conteúdo com as respectivas avaliações:

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O primeiro indicador da mensagem audiovisual, clareza da proposta, foi muito bem avaliado em quatro emissões. Isso se deu porque os próprios títulos descreviam bem o que seria desenvolvido no vídeo. Além disso, o formato utilizado – uma pessoa falando em frente à câmera – contribui para uma melhor assimilação dos assuntos.

Falando do diálogo com/entre outras plataformas, houve uma divisão entre razoáveis e boas. Um episódio bem avaliado foi o de 8 de Setembro de 2015, que fazia pegadinhas com pessoas que passavam na rua com perguntas indiscretas. O diálogo foi percebido porque esse formato já é consolidado em programas televisivos. A reação do participante, que geralmente era de estranhamento, era filmada a fim de causar um riso fácil e as perguntas eram pensadas para deixar as pessoas constrangidas.

Com relação à solicitação da participação ativa do público, houve uma variação nas análises. Sendo que os três vídeos com altas classificações – bons e muito bom – apresentavam um convite ao público para curtirem o vídeo e se inscrever no canal. Porém os outros não constavam esse tipo de interação.

A originalidade/criatividade também não foi muito observada, afinal não houve nenhuma inovação nos formatos utilizados. Os vídeos em que o apresentador falava mais diretamente com o espectador através do olhar direto para a câmera, já são reproduzidos comumente no YouTube. O esquete criado e a pegadinha também mostram características de produtos televisivos que foram levados para a internet.

Podemos conferir no gráfico os indicadores de qualidade da mensagem audiovisual com as respectivas avaliações:

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Falando dos modos de representação percebeu-se que a atuação dos personagens e do dono do canal, contribuem para a reafirmação de estereótipos, não havendo preocupação com as críticas de cunho social ou levantamento de questões para reflexão. A diversidade de pontos de vista que poderia ter sido explorada através da plataforma favorável, não foi utilizada. Além disso, os formatos utilizados se mostravam como reciclagem de outros já existentes, principalmente na televisão.

Por Letícia Silva

Observatório da Qualidade no Audiovisual

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