Toma Lá Dá Cá foi um humorístico exibido pela Rede Globo de televisão entre 07 de agosto de 2007 e 22 de dezembro de 2009. O seriado surgiu após a transmissão de um episódio especial de fim de ano em dezembro de 2005, o qual, mais tarde, originaria o programa de mesmo nome. A direção contou inicialmente com Mauro Mendonça Filho, que deu lugar a Cininha de Paula no decorrer da segunda temporada.
A trama narra o cotidiano de duas famílias interligadas: Mário Jorge era casado com Rita, com quem teve dois filhos; Arnaldo, por sua vez, era casado com Celinha e pai de um menino. Os relacionamentos se encerraram e ocorreu uma troca de casais: Mário Jorge se casou com Celinha e Arnaldo se uniu a Rita. Além de tudo, as famílias moram no mesmo andar do condomínio Jambalaya Ocean Drive, fazendo do corredor do prédio um cenário constante de confusões.
A vinheta de abertura, constituinte do plano da expressão, se faz ao som da música Toma Lá Dá Cá, composta por João Bosco e Aldir Blanc. A letra – “Tu entra cajá/ E sai caqui/ Casamento hoje/ É isso aí/ Toma lá, dá cá/ E no rola-rola/ Embola o que há/ Aí e aqui” – representa bem a proposta do programa e os conflitos na vida dos casais. Ao final da vinheta, aparece o nome do humorístico grafado em vermelho, e as letras “A” ficam trocando de lugar, simbolizando a troca de casais que ocorre na série.
No plano do conteúdo, todos os episódios analisados receberam avaliação boa no indicador diversidade de sujeitos representados, pois personagens bem distintos entre si são retratados no programa. Tem-se, por exemplo, Bozena, paranaense de Pato Branco; Adônis, adolescente sério e preocupado com as grandes questões da vida; Isadora, menina interesseira e sem grande destaque nos estudos; Copélia, senhora que se veste de forma jovem e só pensa em sexo, dentre outros personagens. Não há, entretanto, grande diversidade étnica ou socioeconômica, o que representa um ponto negativo em relação ao indicador.
Já a desconstrução de estereótipos foi fracamente avaliada em todas as emissões, uma vez que o programa se baseia justamente em estereótipos para a construção de diversos personagens. No episódio As Duas Faces de Celinha , exibido dia 22 de setembro de 2009, pode-se perceber o estereótipo de “sapatão”, representado pela personagem Deise Coturno. Nessa emissão, dona Geneviève questiona: “Não sei por que chamam esse senhor de senhora”. Mário Jorge, na mesma cena, complementa: “Isso não é encanador coisa nenhuma, isso é um sapatão faz-tudo que nós temos aqui no condomínio”.
Além disso, tem-se o estereótipo da sogra chata, representada por Copélia. No primeiro episódio do programa, exibido dia 07 de agosto de 2007, Arnaldo diz a Mário Jorge: “Essa sogra não é mais minha, esse defunto agora é teu”. Contudo, embora haja a afirmação de estereótipos durante a série, a constante repetição desse tipo de encenação pode levar o público à reflexão, de modo a questionar tais representações.
O indicador oportunidade, por sua vez, recebeu avaliação fraca em dois episódios, devido à falta de assuntos atuais ou recorrentes nas agendas da mídia e do público. A avaliação foi razoável nas emissões dos dias 30 de setembro de 2008 e 07 de agosto de 2007 por elas abordarem, ainda que rapidamente, assuntos como a corrupção e a alta dos preços.
No episódio do dia 30, intitulado O Buraco é Mais Embaixo, Tatalo se veste de legume para animar as pessoas durante a compra. Ele conta à família: “Teve uma vez também que quiseram linchar a abóbora, porque ela foi a vilã da alta dos preços”. Já na emissão do dia 07, um deputado que se consulta com Arnaldo leva o dinheiro na cueca, em referência ao episódio do “mensalão”.
O episódio A Garota da Capa foi o único que recebeu avaliação boa nesse indicador, uma vez que dá maior espaço à questão da vida conturbada das modelos, tema recorrente na mídia. Nessa emissão, a modelo Orlanda Blum conta: “Fui descoberta por Caneco aos seis anos de idade brincando em um shopping/ Aos sete, minha mãe me mandou para o Japão/ Trabalhei como escrava 15 horas seguidas dos sete aos oito. Aos nove já era alcoólatra/ Tive minha primeira relação séria aos dez/ Aos onze me internaram numa clínica de reabilitação…”. Nesse mesmo episódio é citada, também, a crise mundial. Bozena diz: “O presidente tem razão mesmo, os culpados pela crise mundial são brancos de olhos azuis”.
Já o indicador ampliação do horizonte do público recebeu avaliação fraca em duas emissões, já que elas não apresentavam temas relevantes e que poderiam gerar discussão. O episódio do dia 30 recebeu avaliação razoável em tal indicador, já que abordou, rapidamente, questões como as promessas de campanha, feitas em época de eleições e não cumpridas depois.
A avaliação foi muito boa no episódio A Garota da Capa, uma vez que ele trouxe à pauta assuntos como a vida conturbada das modelos e bulimia, os quais podem levar o telespectador à reflexão e à discussão. Ainda no mesmo episódio, Bozena questiona o papel das empregadas: “Eu sou empregada, mas eu tenho meus direitos”. Igual avaliação recebeu o episódio O Dia em que a Terra Tremeu, que discute, mesmo que superficialmente, a corrupção em Brasília, associando deputados a ladrões. Além disso, o papel do pai na criação dos filhos é questionado. Nessa emissão, Rita reclama: “Mário Jorge que é um omisso, um nada, nunca colocou limite”. No mesmo episódio, Adônis também comenta a importância da imagem nos dias atuais: “Vocês são incapazes de compreenderem o mundo em que vivem. Imagem é tudo, mamãe”. Tais temas podem estimular os espectadores ao questionamento e debate de ideias. Veja, abaixo, as avaliações de cada emissão aqui analisada:
No plano da mensagem audiovisual, o indicador originalidade/criatividade recebeu avaliação razoável em todas as emissões, pois o programa não apresenta um formato muito inovador ou diferenciado em relação a outros programas já exibidos. Entretanto, as avaliações foram muito boas quanto à clareza da proposta, uma vez que a estrutura do programa é bem definida e facilmente reconhecida pelos telespectadores. Logo na vinheta de abertura, através da música, por exemplo, já é possível identificar a temática central do programa.
As avaliações do indicador solicitação da participação ativa do público foram fracas em quatro das emissões, já que poucos recursos eram utilizados para estimular a participação ativa do telespectador. O uso de uma linguagem coloquial com gírias e sotaque, como o sotaque gaúcho da personagem Bozena, além de uma linguagem mais formal em alguns casos, como a utilizada por Adônis, é um dos poucos recursos que incrementam o indicador. Apenas o episódio do dia 12 de maio de 2009, intitulado A Garota da Capa, recebeu uma avaliação razoável, pois Celinha interrompe a fala da mãe e olha diretamente para a câmera, dizendo “Mamãe, pelo amor de Deus, tem criança assistindo”. Ao olhar para a câmera, a personagem se dirige diretamente ao público.
Por sua vez, o indicador diálogo com/entre plataformas recebeu avaliação fraca em quatro das cinco emissões, já que não há grande conexão do programa com outras mídias e são poucas as menções a outras plataformas. As referências geralmente são a lugares reais, como Pato Branco, cidade natal de Bozena, ou Brasília, citada no episódio do dia 07 de agosto de 2007, O Dia em que a Terra Tremeu.
Contudo, o episódio A Garota da Capa recebeu avaliação boa nesse indicador, uma vez que, além das referências a Pato Branco, também faz alusão ao diretor de cinema Quentin Tarantino. Arnaldo dispara: “Isso daí tá parecendo um filme do Tarantino, meu Deus”. Além disso, o episódio traz uma modelo internacional chamada Orlanda Blum, em referência ao ator inglês Orlando Bloom. A seguir, os indicadores da mensagem audiovisual:
A partir da análise, pode-se perceber algumas características do humor de qualidade em Toma Lá Dá Cá, visto que indicadores importantes, como ampliação do horizonte do público e diversidade de sujeitos representados, receberam avaliação considerável. Entretanto, tais elementos nem sempre são observados com relevância nas emissões, sendo que assuntos férteis, como política ou economia, que poderiam gerar discussões entre o público, são tratados na maioria das vezes de forma superficial.
Por Júlia Garcia Gouvêa Andrade
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