Observatório da Qualidade no Audiovisual

Amores Roubados

 

Amores Roubados foi uma minissérie inspirada no romance A Emparedada da Rua Nova, de Carneiro Vilela. Exibida pela Rede Globo, em janeiro de 2014, a produção contou com nomes como Cauã Reymond (Leandro Dantas), Isis Valverde (Antônia Favais), Patrícia Pillar (Isabel Favais), Dira Paes (Celeste), Murilo Benício (Jaime Favais), Osmar Prado (Roberto Cavalcanti), Irandhir Santos (João), Jesuíta Barbosa (Fortunato), dentre outros.

A trama gira em torno de Leandro (Cauã Reymond), um rapaz galanteador que trabalha na vinícola do poderoso Jaime Favais (Murilo Benício). O jovem acaba se envolvendo com Celeste (Dira Paes) e Isabel (Patrícia Pillar), mulher de seu patrão. A história se complica quando Leandro se apaixona por Antônia (Isis Valverde), filha de Jaime (Murilo Benício) e Isabel (Patrícia Pillar).

No Plano da Expressão iremos destacar os seguintes indicadores: ambientação, caracterização dos personagens, trilha sonora, fotografia e edição. Amores Roubados se passa no sertão nordestino, às margens do rio São Francisco, e as gravações foram feitas, em sua maioria, nas cidades de Petrolina e Paulo Afonso, em Pernambuco e na Bahia, respectivamente. Dessa forma, as locações garantem a verossimilhança da história, que se passa, justamente, em tal região do Brasil.

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O sotaque dos personagens, adequado à região, também confere verossimilhança. Da mesma forma contribui o figurino, que contrasta a riqueza de uma parte do sertão, personificada pelas famílias Favais e Cavalcanti, com a realidade do sertanejo.

O contraste de figurino também se fez presente entre as mulheres conquistadas por Leandro (Cauã Reymond). Enquanto Celeste (Dira Paes) apresentava um visual elegante, fino e, ao mesmo tempo, provocante, Antônia (Isis Valverde) utilizava roupas soltas e joviais. Já Isabel (Patrícia Pillar) usava roupas simples, mas com certo requinte devido à sua posição social. Nesse contexto, o figurino acompanhava a personalidade dos personagens de Amores Roubados.

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A trilha sonora utilizada foi predominantemente instrumental e marcava momentos relevantes, como momentos de tensão. A exceção foi a música tema de Leandro (Cauã Reymond) e Antônia (Isis Valverde), que continha trechos de voz. A utilização de tal música, além de enfatizar o clima de romance entre os dois, destacava o relacionamento dos jovens, que era diferente dos relacionamentos que Leandro (Cauã Reymond) tinha com as outras mulheres.

A fotografia, por sua vez, seguiu um estilo naturalista, comum às novelas da emissora. Entretanto, em algumas cenas noturnas na parte rural do sertão, a iluminação utilizada era mais fraca, tornando a imagem mais escura. Desse modo, tais sequências  remontavam a iluminação do sertão.

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Apesar de seguir uma estrutura não-linear, a edição não confunde o telespectador, pois apenas no primeiro capítulo há a inversão da cronologia. Isto é, no início do primeiro capítulo há uma cena de perseguição e, depois, aparece a inserção “Quatro meses antes”. A partir de então, a minissérie segue a ordem cronológica até o fim.

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No Plano do Conteúdo iremos destacar os seguintes indicadores: intertextualidade, escassez de setas chamativas, efeitos especiais narrativos e recursos de storytelling. Em relação à intertextualidade, há menções a lugares como Itália e São Paulo, além do poeta pernambucano Joaquim Cardoso ser assunto de uma conversa entre Leandro (Cauã Reymond) e Isabel (Patrícia Pillar). Ademais, a música É o amor, da dupla Zezé Di Camargo e Luciano, é cantada por Fortunato (Jesuíta Barbosa). Tais conexões com o mundo exterior fazem com que o telespectador se relacione mais estreitamente com a trama.

As setas chamativas, por sua vez, foram observadas em alguns momentos, de modo a não deixar o telespectador confuso. Além da inserção “Quatro meses antes”, utilizada no primeiro capítulo para deixar clara a cronologia da minissérie, alguns diálogos facilitam a interpretação do telespectador. Como exemplo tem-se o diálogo entre João (Irandhir Santos) e Bigode de Arame (César Ferrario) no sétimo capítulo. Bigode diz a João: “Bem que tu disse, viu? Que teu patrão é uma potência”. João responde: “Isso tudo ele já tinha resolvido lá trás, quando colocou Oscar dentro do avião como se fosse Leandro”. João continua: “Aí quando o corpo apareceu ele pensou: bom, se era Leandro que tava dentro do avião, quem é que tava no carro todo queimado?”. Bigode complementa: “Oscar!”. Tal diálogo não tem função narrativa e apenas deixa explícito ao telespectador o que aconteceu, facilitando sua interpretação, sendo que o ocorrido já havia sido mostrado em outras cenas.

Em relação aos efeitos especiais narrativos, Amores Roubados apresentou clímax e reviravolta, mas, em momento algum, o telespectador é levado a reconsiderar tudo o que viu até então. O estilo narrativo da minissérie também não se altera ao longo dos episódios.

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Por fim, no que se refere aos recursos de storytelling, foi observada em alguns momentos a utilização de sequências fantasiosas. No segundo episódio da produção, Isabel (Patrícia Pillar) está deitada em sua cama quando Leandro (Cauã Reymond) chega e começa a tocá-la. A câmera se desvia dos dois e, quando retorna, vemos apenas Isabel na cama. Outro exemplo acontece no quinto episódio quando Jaime (Murilo Benício) atira em Isabel (Patrícia Pillar), que está adormecida. A câmera passa de Isabel a Jaime e, ao retornar, vemos que não houve nenhum tiro. Apesar da utilização de sequências fantasiosas, o espectador não se confunde quanto à veracidade de tais sequências, ficando claro que, na verdade, não são reais.

Por Júlia Garcia

* Todas as imagens da minissérie usadas nesta análise são capturas de tela.
 
Ficha Técnica:

  • Desenvolvida por: George Moura, Sérgio Goldenberg, Flávio Araújo e Teresa Frota
  • Supervisão de texto: Maria Adelaide Amaral
  • Direção-geral: José Luiz Villamarim
  • Direção de núcleo: Ricardo Waddington
  • Período de exibição: 06/01/2014 – 17/01/2014
  • Nº de episódios: 10
  • Horário: 23h

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