Observatório da Qualidade no Audiovisual

Análise Harry Potter

Por Francisco Salgueiro, João Vaz, Rafael Ramalho, Tiago Sousa

Introdução:

Para este trabalho determinaram-se algumas sagas como possíveis objeto de estudo, averiguando qual seria a mais interessante de trabalhar e com uma maior quantidade de material do ponto de vista da semiótica para analisar.

Optou-se, então, pela saga “Harry Potter” em detrimento de outras como: “Star Wars”, “The Lord of the Rings”, The Hunger Games” e “Spider-Man” visto que de todas as sagas analisadas esta é aquela acerca da qual o grupo possui um maior nível de conhecimento, tornando assim, este trabalho mais simples e eficaz de analisar semioticamente. Assim,  o grupo decidiu escolher como tema de análise a: “Construção e desenvolvimento de Harry Potter durante a saga cinematográfica” também devido ao facto de todos os membros possuírem um grau de interesse considerável acerca de conteúdos audiovisuais, nomeadamente produtos cinematográficos.

Harry Potter é uma saga mundialmente conhecida, constituída por 7 livros e 8 filmes. Esta saga conta a história de Harry James Potter, um suposto menino normal, que aos 11 anos vê a sua vida ser mudada completamente quando descobre que é um bruxo, mundo esse que era completamente escondido do mundo não mágico . Este passa a estudar na escola de magia e feitiçaria de Hogwarts, onde a maior parte da história se desenrola. Um dos pontos fulcrais da história é a luta de Harry com Lord Voldemort, um bruxo das trevas que pretende tornar-se imortal e subjugar tanto o mundo mágico como o mundo não mágico mas que vê em Harry e nos seus amigos um impasse à concretização dos seus planos, pois Harry foi o único capaz de o derrotar, ainda em bebé.  Vemos, ainda, o crescimento do personagem durante a adolescência onde este enfrenta diversas adversidades  e tem de aprender a ultrapassá-las.

Para orientar o trabalho, o grupo decidiu ter como pergunta de investigação: “De que maneira evolui Harry Potter ao longo da saga?”, sendo que a partir daqui aprofundaremos o comportamento da personagem no decorrer de todos os filmes, abordando todos os momentos que podem ter marcado o mesmo e como é que este cresceu a partir daí.

Por fim, esta pergunta é feita no âmbito de entender a verdadeira essência da personagem e perceber o que a torna tão especial para tantas pessoas no mundo inteiro, a partir dos sinais que esta demonstra ao longo da sua participação na saga.

Semiótica de Peirce:

A semiótica de Peirce é organizada em tríade, onde o signo é um primeiro elemento que traz consigo um segundo, o seu objeto, para uma relação com um terceiro, o seu interpretante, também entendido como o efeito produzido pelo signo. A ação do signo desenvolve-se continuamente por meio de um processo conhecido como semiose. Ao dinamismo do signo e à sua ação no mundo damos o nome de semiose.

De acordo com a teoria de Peirce, a análise semiótica deve seguir alguns parâmetros que auxiliam no entendimento de algumas características dos filmes como, as cores, as formas, as luzes, as linhas, o som, entre outros. Ou seja, tudo aquilo que nos chama a atenção quando vemos determinada cena do filme. Deve ainda ser analisada a reação e sentimento que a cena em questão estimula nos personagens a partir dos aspetos físicos, referidos anteriormente, ou seja, o que o signo nos transmite. E por fim, analisa-se a interpretação do todo, isto é, o contexto, a importância que cada cena analisada tem para o desenvolvimento do personagem em si.

É aplicando estes e outros conceitos da teoria semiótica de Peirce que será feita a análise de cada cena que, no entender do grupo, contribui de alguma forma para a construção e desenvolvimento da personagem de Harry Potter ao longo da saga da qual é protagonista.

“Harry Potter e a Pedra Filosofal”

“Harry Potter e a pedra filosofal” é o primeiro filme da saga e conta-nos como foi o primeiro ano de Harry na escola de magia de Hogwarts, após ter descoberto que é um feiticeiro.

O filme começa com Harry, bebé, a ser entregue ao cuidado dos seus tios. Os anos passaram e quando Harry tem 10 anos começa a receber diversas cartas de Hogwarts com o intuito de o informar que foi escolhido para ingressar na escola. No entanto, Harry nunca chegava a ler as cartas, uma vez que, o seu tio lhas roubava de modo a omitir-lhe o facto de que ele era um feiticeiro.

Assim, uma das cenas que mais marcou o personagem principal ao longo de toda a saga é sem dúvida a cena em que Hagrid lhe revela toda a verdade sobre Hogwarts e lhe conta que é um feiticeiro.

Esta cena é uma das primeiras do filme e começa com Harry, os seus tios e o seu primo numa casa remota e isolada de tudo, numa tentativa de fugirem às cartas que chegavam todos os dias à sua antiga casa. Enquanto os seus familiares dormiam Harry aguardava ansiosamente pela meia noite para celebrar, sozinho, o seu 11º aniversário.

Segundos após o relógio marcar as 00h00 e com uma música de fundo de suspense, a casa começa a abanar, a porta é arrombada, e entra pela casa adentro uma figura gigante e misteriosa que deixa em sobressalto os 4 residentes.

Esta figura trata-se de Rubeus Hagrid que de pronto é confrontado pelo tio de Harry que exige que este saia da propriedade imediatamente. Hagrid decide então aproximar-se de Vernon Dursley (tio) e apenas com a força da sua mão entorta a espingarda de Vermon deixando-o perplexo.

No momento seguinte, Hagrid dirige-se a Dudley Dursley confundindo-o com Harry que se revela logo de seguida. Hagrid oferece, então, um bolo de aniversário a Harry. O gigante continua a espalhar os seus dotes de feiticeiro ao acender a lareira de casa com um simples guarda chuva.

Enquanto os seus familiares continuam estupefactos com a presença desta figura misteriosa, Harry mostra-se bastante curioso e decide perguntar-lhe quem é. Ao que o gigante responde: “Rubeus Hagrid, guarda das chaves e dos campos de Hogwarts e presumiu que Harry já soubesse tudo sobre Hogwarts mas Harry disse-lhe que não. Na continuação desse diálogo surge então a famosa frase: “És um feiticeiro, Harry.” Assim que ouviram esta frase os seus tios ficaram claramente chateados uma vez que não iam conseguir continuar a esconder este facto do seu sobrinho. Harry, por sua vez, ficou em choque e entrou em negação dizendo que era impossível, já que ele era simplesmente o Harry.

Seguidamente, Hagrid entregou-lhe finalmente a carta de admissão na escola de magia e feitiçaria de Hogwarts. Harry começou a ler a carta, mas foi imediatamente interrompido pelo seu tio que disse logo que Harry não ia a lado nenhum. Nesse momento, Harry apercebeu-se que os seus tios já sabiam que ele era um feiticeiro.

Iniciou-se, então, uma discussão entre Vermon, Petúnia e Hagrid sobre o futuro de Harry, onde Vermon insulta Albus Dumbledore. Hagrid no fim da cena transforma o rabo de Dudley num rabo de porco por este estar a comer o bolo que seria para Harry.

Os familiares de Harry fugiram e para terminar a cena Harry e Hagrid abandonaram a casa com destino a Hogwarts.

Os elementos audiovisuais como as cores, luz e música presentes ao longo de toda a cena dão uma ideia de suspense e mistério que são de certo modo trazidos para a cena com a chegada de Hagrid.

Esta cena é assim de uma grande importância, pois é após este momento que se inicia toda a aventura mágica de Harry Potter na escola de magia e feitiçaria de Hogwarts.

Outra cena bastante marcante para a personagem e mais concretamente para o seu desenvolvimento durante o 1º filme é, sem dúvida, a primeira interação com Ron Weasley e Hermione Granger. A cena dá-se no comboio a caminho de Hogwarts (apesar de já se terem encontrado na plataforma 9 ¾ estes não tiveram qualquer interação). Harry sozinho na carruagem é confrontado com Ronald Weasley a perguntar-lhe se se pode sentar a seu lado, ao que este aceita.

Quando Harry se apresenta, Ron fica estupefacto e de imediato pergunta pela cicatriz dando prontamente a entender que Harry se trata de uma figura muito conhecida no mundo mágico de Hogwarts, ainda que nunca lá tenha posto os pés.

A cena desenvolve-se e após Harry ter comprado tudo o que havia para comer no comboio, Ron explicava-lhe em que consiste cada um destes produtos.

Posteriormente, Ron dá a conhecer Scabbers o seu rato de estimação alegando que sabe um feitiço que o torna amarelo. No momento em que Ron se prepara para efetuar o feitiço é interrompido pela chegada de uma rapariga. Assim que se apercebe que Ron está prestes a executar um feitiço a rapariga revela-se bastante curiosa e fica para assistir ao ato de magia.

O feitiço de Ron não resulta e a rapariga questiona-se se a magia tentada por Ron é sequer real. De seguida, senta-se em frente a Harry e com um simples feitiço consegue reparar os seus óculos que se encontravam visivelmente danificados. O sucesso do feitiço levado a cabo pela rapariga surpreende não só Harry, mas também Ron que ficaram incrédulos a olhar um para o outro.

No momento seguinte, a rapariga reconhece Harry, sem nunca o ter visto, dando uma vez mais a entender a sua importância no mundo da magia e apresenta-se.

Trata-se, então, de Hermione Granger que de modo a terminar o diálogo aconselha Harry e Ron a vestirem o seu traje uma vez que o comboio está prestes a chegar a Hogwarts. Quando está prestes a ir embora Hermione volta atrás apenas para dizer a Ron que este tem o nariz sujo de terra.

Nesta cena os sons são maioritariamente do funcionamento do comboio dando a sensação de locomoção e movimento. As cores por sua vez são cores fortes e vibrantes que aliadas a uma forte luminosidade dão a entender que nos encontramos no início do dia.

Esta cena revela uma grande importância para a saga no geral e mais especificamente para o desenvolvimento pessoal de Harry já que Ron e Hermione são os 2 primeiros colegas com quem Harry interage e virão a ser os seus fiéis companheiros durante praticamente a totalidade da saga.

O filme vai se desenvolvendo e perto do fim surge mais uma cena digna de ser analisada semioticamente tendo em conta o propósito deste trabalho.

Depois de suspeitar convictamente que o professor Snape andava a tentar roubar a pedra filosofal, Harry passou por uma série de obstáculos até chegar a uma sala onde se deparou, na verdade, com o professor Quirinus Quirrell em frente a um espelho.

Harry confronta-o e Quirrell admite que havia sido ele a tentar matá-lo durante a partida de Quidditch e que também tinha sido ele a deixar entrar o troll na noite de Halloween.

Quirrell volta-se de novo para o espelho e vê nele a sua figura a agarrar a pedra filosofal, mas não entende como a pode obter. É então que se ouve uma voz que diz a Quirrell para chamar Harry para diante do espelho. Essa é a voz de Voldemort e o professor Quirrell obedece-lhe prontamente.

Ao ver-se ao espelho Harry apercebe-se que carrega a pedra filosofal no seu bolso mas quando confrontado por Quirrell mente-lhe e diz que se vê a cumprimentar Dumbledore. Voldemort sabe que Harry mente, decide tomar as rédeas da situação e ganha forma própria através do corpo de Quirrell.

Voldemort explica a Harry que as suas forças reduzidas o levam a viver como um parasita e que a única coisa que pode permitir que tal deixe de acontecer é a pedra que Harry tem no seu bolso.

Harry tenta escapar mas Voldemort pega fogo ao redor da sala impossibilitando a sua fuga e propondo-lhe que, se Harry lhe desse a pedra filosofal ele deixaria que o jovem feiticeiro voltasse a ver os seus pais. Harry apercebeu-se que Voldemort mentia e recusou prontamente originando um duelo incessante pela obtenção da pedra filosofal.

Num voo ágil Voldemort aproxima-se de Harry e sufoca-o até que o rapaz toca o corpo de Quirrell (controlado por Voldemort) transformando primeiro a sua mão e depois todo o seu corpo em pedra.

Harry desfaz, assim, o corpo do professor Quirrell e Voldemort volta a ser apenas um espírito que abandona o local, derrubando Harry no chão e deixando-o inconsciente mas com a pedra filosofal na mão.

Durante toda a cena podemos ouvir uma música tensa acompanhada também pelo som das chamas claramente adequadas para o duelo a que acabaríamos por assistir. A escuridão da sala numa primeira fase dando a entender o quão remoto era este espaço onde se encontravam os personagens e posteriormente a clareira trazida pelas chamas são outros dos fatores audiovisuais que ajudam a compreender melhor esta cena do ponto de vista da semiótica.

Esta cena é fulcral para o desenrolar da saga uma vez que é este o primeiro confronto que vemos entre Harry e Voldemort que acabará por ser o seu principal rival nos próximos filmes.

“Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”

No filme “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, terceiro da saga, Harry foge mais uma vez da casa dos tios para ingressar pelo terceiro ano em Hogwarts. Este ano, Harry é deparado instantaneamente com uma ameaça à sua vida na forma de Sirius Black, um suposto antigo amigo dos seus pais que os traíra em nome de Voldemort e terá fugido da prisão para o matar.

Neste filme, Harry é confrontado com vários obstáculos, mas é no final que este vivencia um momento verdadeiramente impactante quando encara pela primeira vez Black e descobre que este nunca traiu os seus pais e que na verdade este está atrás do homem que os matou.

No início da cena, Harry e Hermione chegam a um quarto onde se encontra Ron. Rapidamente Ron informa os dois que se encontram numa emboscada realizada por Black apontando para o mesmo enquanto este aparece num plano médio num ângulo contrapicado, com uma música sinistra de fundo, dando a entender que o mesmo é uma ameaça dado que nesta altura do filme Harry ainda acha que foi este o homem que matou os seus pais sendo ele assim o vilão.

No seguimento deste momento, Harry aparece com uma cara surpresa e ataca Sirius num impulso de raiva dada a sua história. De seguida Harry aponta uma varinha à cabeça de Black quando se encontra numa posição dominante sobre o mesmo, mostrando a sua vontade de o matar com uma cara cheia de raiva.

Neste momento, Remus Lupin entra em cena para impedir que Harry mate Sirius e mais uma vez Harry mostra-se surpreendido sentindo-se traído pelo professor em quem pôs a sua confiança nos últimos tempos.

A cena desenvolve-se e Snape aparece desarmando Black após este explicar a Harry que não foi ele quem traiu os seus pais, mas sim Peter Pettigrew, um ex amigo da família, afirmando que o mesmo se encontra no mesmo quarto que estes.

Harry, num ato de curiosidade e talvez desespero, desarma e inibe Snape de interferir na situação de modo a saber mais sobre Pettigrew e trazer o mesmo à justiça.

Quando Pettigrew se revela, Harry mostra-se frio e não se deixa enganar pela manipulação do mesmo. Neste momento Potter impede que Remus e Sirius o matem afirmando que o mesmo deve ser entregue aos “dementors”, que é talvez um destino pior que a morte.

Com esta cena podemos entender que Harry sente uma grande ligação assim como um sentimento de injustiça e vingança em relação à morte dos pais. Ainda assim, mostra alguma maturidade ao não deixar que Pettigrew seja morto pelas pessoas próximas a ele

No que toca às cores e luz da cena, esta mantém os tons típicos do filme sendo estes escuros. As cores são também as habituais: preto, castanho, cinzento e alguns tons azulados.

Estas cores dão uma sensação de mistério, perigo e criam um ambiente sombrio para demonstrar a situação em que as personagens se encontram.

Relativamente à roupa dos elementos presentes na cena, estes têm quase todos um vestuário danificado ou sujo devido aos momentos anteriores à cena. Podemos ainda, dar ênfase à roupa de Sirius Black que é o seu uniforme de prisioneiro visivelmente antigo e ao fato de Pettigrew, que está num estado deplorável podendo assumir que este foi a última roupa que o mesmo usou antes de se transformar num rato há 12 anos.

É também de notar que durante toda a cena a cabana onde as personagens se situam move-se de uma forma sinistra, criando uma sensação de desconforto ao espectador, de modo a transmitir a  volatilidade da situação onde estes se encontram  e criar algum suspense sobre qual será o resultado deste confronto.

Esta cena dá início a uma relação importante entre Harry e Sirius que será estudada mais à frente no trabalho.                    

“Harry Potter e o Cálice de Fogo”

No quarto filme da saga Harry Potter, mesmo que sem poder, o nosso personagem principal acaba por participar no torneio dos 3 feiticeiros, torneio esse que opõem as 3 maiores escolas de feitiçaria da Europa, onde participa um elemento de cada escola escolhido pela taça. O nome de Harry acaba por sair da taça, mesmo que o mesmo não tenha idade para o meter lá, juntamente com o de Cedric Diggory, outro aluno de Hogwarts.

Este torneio acaba por consistir em 3 provas de dificuldade extrema, onde os participantes têm de se superar a si mesmos, podendo levar à morte das mesmas.

Na última das provas, que consistia na passagem por um labirinto mágico com o intuito de encontrar a taça do torneio, ganhando quem encontra-se a taça. Cedric e Harry acabam por ver a taça ao mesmo tempo e correm na sua direção, numa disputa acesa pela vitória, com encontrões e puxões de parte a parte, com o labirinto a ter quota parte na intensidade da ação, tentando agarrar os nossos dois personagens.

Cedric acaba por cair no chão agarrado pela armadilha do diabo (planta mortífera, capaz de estrangular). Harry para e hesita por um momento, dividindo a sua atenção entre Cedric a ser levado pela planta e a taça. Há mudanças de plano entre Cedric a ser agarrado pela planta a tentar, em desespero, agarrar a sua varinha e planos de Harry estático com a taça ao fundo.

Assistimos a um plano de pormenor da cara de Harry quando Cedric o chama em desespero, podendo ver pela sua expressão que o mesmo está dividido entre a sede de vencer e ajudar o amigo (talvez ligado à sua luta interna devido à ligação com Voldemort) sendo seguido de mais um plano de Cedric em desespero a chamar Harry e este a olhar uma última vez para Cédric e para a taça, antes de voltar para trás e lançar um “Reducto” e ajudar Cedric a livrar-se da planta e a levantar-se.

 Há um momento, algo embaraçoso, em que Cedric agradece a Harry e os vê-se que os dois não sabem bem como reagir, e quando Cedric lhe diz que pensava que ele o ia deixar ali, este concorda que também ele por instantes pensou o mesmo. O momento embaraçoso continua onde Cedric faz conversa fiada sobre o jogo – “Que jogo não achas?” ao qual Harry responde afirmativamente. Vemos que este início de cena, mesmo que algo desconfortável para as personagens, acaba por criar uma ligação que durante o filme pouco se tinha visto.

Uma corrente de vento e o labirinto a fechar-se levam a que os dois corram desesperados em direção à taça e ao chegarem perto dela Cedric grita – “Pega-lhe! Tu salvaste-me” ao que Harry responde – “Juntos!1..2..” aos 3 agarram os dois na taça e o plano sombrio com tudo a voar como se se encontrassem no meio de um furacão é deixado para trás e somos transportados para um vortex nos seus tons de azul igual ao da taça. No fim desse caminho, os personagens aterram atordoados, num local que aparenta ser um cemitério.

 Harry levanta-se logo de imediato como se conhecesse o local. Começam os dois a vaguear pelo espaço tenebroso, perguntando-se onde estão ao que Harry afirma que já lá esteve num sonho. Cedric contempla a taça fascinado com o portal e Harry aproxima-se de uma campa, onde vê o nome de Tom Riddle e surge um tom de preocupação. Harry volta-se para trás, com o abrir de uma porta, de onde aparece Petter Pettigrew com uma figura no colo. De repente Harry grita de agonia, agarrado à testa dizendo para Cedric voltar para a taça. Este sem saber o que fazer, tenta ajudar Harry e faz frente a Pettigrew, a figura ao seu colo diz-lhe – “Mata o outro”, neste momento Peter lança um “Avada Kedavra” e Cedric é projetado e acaba por cair morto.

Vemos a figura de Cedric imovel no chão e Harry a ser enfeitiçado por Peter sem poder fazer nada. A cena seguinte é um ritual onde a personagem misteriosa, que é Voldemort, é mergulhada num caldeirão de modo a voltar a ganhar o seu poder.

Posteriormente assistimos a um novo confronto entre Voldemort e Harry mas o facto mais marcante para a vida de Harry nesta situação foi a morte de um amigo, que o leva a acreditar que este mundo não é tão seguro assim e algo de mau está para vir. Podemos comprovar a tenebrosidade desta cena, com a escuridão presente, sendo os tons à volta dos cinzentos e do preto.

Podemos sentir também o perigo de cada situação que Harry passa, assim como a compaixão que os dois tiveram no momento em que Harry salva Cedric, o que nos faz ter mais pena ainda quando o mesmo morre. A partir daqui todos os seguintes filmes de Harry Potter começam a ser mais sombrios.

“Harry Potter e a Ordem da Fénix”

No filme “A Ordem da Fénix”, o quinto desta saga, Harry começa por estar sozinho no parque, enquanto leva com comentários desrespeitosos por parte do primo Dudley e amigos.

Após confusão com dementors, é levado para 12 Grimmauld Place, a antiga casa da família Black e atual esconderijo da restante parte da original Ordem da Fénix, e vê Hermione e Ron, Harry é rude para com ambos, atitude diferente da que apresentara nos filmes anteriores aquando do reencontro com os seus melhores amigos, uma vez que estes não contactaram Harry uma única vez durante o verão.

Os dois dizem que foi por ordem de Dumbledore, no entanto isto não apazigua a frustração de Harry. Para piorar a sua situação, este é presente em tribunal por usar magia ilegalmente (fora de Hogwarts, por ser menor e em frente a um Muggle), mas com ajuda de Dumbledore a defendê-lo, Harry consegue uma desculpabilização, saindo ileso do julgamento.

 Harry tenta falar com Dumbledore, mas este nem sequer lhe lança um olhar. Harry ainda cai mais fundo quando aparece nos jornais como divulgador de mentiras, uma vez que alega ter visto Voldemort e o acusar de matar Cedric Diggory.

Harry viu o seu amigo ser morto à sua frente, no entanto tem de lidar com o descrédito propagado pelo The Daily Prophet e pelo Ministério. Já em Hogwarts, até os colegas da casa de Gryffindor olham para Harry de lado. Na sala comum, Seamus chega a confrontar Harry, mas chega Ron e defende o amigo. Apesar deste gesto de Ron, quando o mesmo tenta confortar Harry, este é rude na sua resposta, o que leva ao afastamento do amigo.

 Nas aulas Harry também passa por um mau bocado ao ficar de castigo na primeira aula com Umbridge. No castigo, a pena dada a Harry faz com que o que ele escreva no papel apareça na sua pele como se estivesse a ser queimado pelas palavras que escreve no papel. A vaguear pelos terrenos da escola ouve-se Harry a narrar a carta que escreveu a Sirius na qual ele menciona que se sente só.

Harry encontra-se com Luna e em conversa, ela diz que acredita na palavra de Harry e Dumbledore, ao que Harry responde que ela é capaz de ser a única. Luna discorda. É aqui que inicia o processo que levará à 1ª cena que será analisada semioticamente deste filme. Luna discorda com Harry e sugere que Harry analise a sua situação da perspetiva de Voldemort, isto é, caso este decida atacar Harry , a maneira mais fácil de atacá-lo seria afastando-o de toda a gente que o apoiasse, uma vez que sozinho, Harry não era ameaçador. Isto faz com que Harry mude de atitude para com os seus amigos, o que se observa quando ele, como se pedisse desculpa, pede para se sentar junto de Ron e Hermione.

Após discussão com McGonagall, Umbridge assume a direção de Hogwarts. Isto faz com que o programa de todas as disciplinas altere drasticamente, incluindo a de “Defesa Contra as Artes Negras”. Sirius entra em contacto com Harry para explicar que o papel de Umbridge é o mantimento do Ministério por perto de Harry e Dumbledore, uma vez que este teme que ambos formem uma força para se revoltarem.

Entretanto, Hermione sugere que Harry comece a dar aulas de “Defesa Contra as Artes Negras”, fora do controlo de Umbridge. Harry é, então, levado para um café onde estão vários estudantes à sua espera. No entanto, os presentes não confiam 100% em Harry.

 Com a ajuda de Luna, que enaltece a sua capacidade de produzir o feitiço Patronus, de Neville que relembra que Harry matou o basilisco, de Ron, que diz que Harry derrotou por volta de cem dementors e Hermione, que confirma a luta entre Harry e Voldemort. Harry consegue, assim, angariar estudantes para a sua causa.

São, então, mostradas em paralelo, as aulas de Harry e Umbridge, os quais lecionam a mesma disciplina, mas de maneira evidentemente diferente.

E assim se chega à primeira cena digna de análise semiótica: O beijo entre Harry Potter e Cho Chang.

Em primeiro lugar, este beijo é um marco. É o primeiro de Harry. A primeira demonstração de intimidade amorosa que ele tem até ao presente. Isto também marca o pináculo do seu percurso emocional no filme. Foi referido, supra, que Harry estava a atravessar um período pessoal difícil, sempre a piorar, até à conversa com Luna, que o fez ver a luz e conseguiu recuperar o suficiente para chegar ao ponto de conseguir partilhar um sentimento tão dispar da solidão e negro como amor para com Cho, simbolizando a superação e conquista emocional de Harry.

Algo importante a referir é que, no percurso de melhoria psicológica de Harry, este para de ter visões, algo que será explorado infra, no momento que faz as pazes com os amigos, sendo mais um passo importante para a sua recuperação emocional.

Em segundo lugar, em relação à análise da cena, a mesma decorre dentro da sala de aula de Harry, no fim do período de aulas pela altura do natal. Cho está em frente ao espelho que pendura as fotos que mostram pessoas importantes para os que têm tido aulas com Harry, como por exemplo a fotografia dada pelo Sirius a Harry, da Ordem da Fénix original, e, entre outras, a de Cedric Diggory, para a qual Cho está a olhar. Harry pergunta se está tudo bem com Cho, a qual, ao responder positivamente, não é capaz de olhar para Harry nem de sorrir. Eventualmente, Cho olha para Harry e elogia-o. A música, no início da cena começa lenta e baixa, no entanto, é quando Cho começa lentamente a olhar para Harry que a música acompanha o movimento de Cho e começa a aumentar o volume progressivamente, até que ela olha para cima e vê o azevinho a formar-se por cima de ambos. A partir do momento que Harry toma a iniciativa, a música atinge o pico e Harry dá o seu primeiro beijo. Toda esta cena é composta de planos apertados, nos quais ambas as personagens ocupam maior parte da tela, conferindo a sensação de intimidade entre os dois.

A segunda cena a ser analisada em profundidade é a da morte de Sirius Black. A morte de Sirius é causada pela sua prima, Bellatrix Lestrange. Sirius foi a única “verdadeira” família de Harry, sendo o seu grau de relacionamento padrinho e afilhado, respetivamente. Harry tinha combinado viver com Sirius. Ou seja, ao contrário de como aconteceu com os pais, Harry é, agora, capaz de sentir verdadeiramente a perda de um familiar, ainda para mais, morto à sua frente.

O homicídio ocorre após o confronto com Antonin Dolohov e Lucius Malfoy, Harry e Sirius conseguem derrotá-los e desarmá-los, o que lhes dá um momento de alegria, no entanto esse momento demora apenas alguns segundos, uma vez que, após esse espaço de tempo, surge o Avada Kedavra, que põe um ponto final na vida de Sirius. Na tela, Harry aparece num fundo negro, significando que, mesmo após o caminho de recuperação e após a conquista emocional referidos previamente, ao ver a sua única família a passar para o outro lado, está prestes a cair num estado de escuridão.

 Apesar de, nas cenas anteriores no mesmo espaço, haver um contraste entre o preto e o branco, isto é, entre o bem e o mal, nesta não há qualquer alteração de cor por detrás de Harry, reforçando assim a teoria da queda do mesmo num abismo psicológico semelhante ao do início do filme.

Aquando da sua morte, Sirius atravessa o Veil, o portal que se encontrava no centro da sala, portal esse que separa o reino dos vivos do dos mortos e o qual era apenas “de ida”. Harry está completamente em choque e tem de ser agarrado por Lupin para que ele não entre no portal. Entretanto, Harry consegue escapar de Lupin e persegue Bellatrix.

Esta sequência resultará na última cena a ser analisada: o confronto de Harry e Voldemort dentro do corpo do rapaz. No entanto, para compreender a relevância da situação é necessária a retrospetiva de vários momentos do filme, entre os quais, sonhos e visões de Harry. A primeira situação é a ocorrência do sonho em que Harry revive o acontecimento do ano anterior, a morte de Cedric. Na casa de Sirius, Harry é incapaz de dormir descansado uma vez que ouve as vozes de Voldemort e da carta do Ministério.

 Antes de entrar no comboio com destino a Hogwarts, Harry tem uma visão do aparecimento de Voldemort na estação, como se estivesse à sua frente. Já nos dormitórios de Gryffindor, voltam as visões de Voldemort, desta vez acompanhadas da sua voz.  Após o interregno do natal, de volta a Hogwarts, Harry tem uma visão diferente das anteriores. Desta vez, na perspetiva de Nagini, e ouve Sírius à distância. Na primeira pessoa, vê-se a atacar Arthur Weasley, pai de Ron. Levado perante Dumbledore, Harry relata o que aconteceu e Dumbledore envia prontamente ajuda para Arthur. Entretanto, aparece Snape, que, a pedido de Dumbledore, leva Harry e começa aulas intensivas de prevenção da penetração da sua mente. Numa delas, Harry, após provocações de Snape, e farto deste lhe estar a ver as memórias, contra-ataca, e entra ele nas memórias do professor.

Quando termina, o professor acaba as aulas, uma vez que, embora Snape não o verbalize, Harry conseguiu impedir a intrusão do professor na sua cabeça. Após a cena da interrupção dos testes pelos gémeos Weasley, no páteo, Harry deixa-se cair no chão ao mesmo tempo que surge uma visão na qual Sírius aparece em primeiro plano, a ser torturado para extrair informação acerca da profecia de Harry.  Hermione coloca a hipótese de que as visões tenham o objetivo de atrair, o que se verifica correto.

Lucius Malfoy menciona o facto de Harry não conseguir distinguir o verdadeiro do falso nas suas visões, mostrando que afinal Harry não tinha atingido o seu máximo controlo das visões da sua mente e que apenas viu o que Voldemort queria que ele visse, explicando que as visões derivam da ligação entre Harry e o Senhor das Trevas.

A partir deste momento, o acontecimento que é alvo da segunda análise semiótica deste filme sucede e posteriormente à batalha entre Dumbledore e Voldemort, este último entra no corpo de Harry e é esta cena que será alvo de reflexão semiótica profunda. A posição de Harry, quando é possuído por Voldemort é uma que remete para um réptil sem patas, uma cobra, um dos símbolos de Voldemort.

Os olhos de Harry clareiam, o que pode ser entendido como cegueira de poder por parte de Voldemort, uma vez que pensa que conseguiu assumir o controlo de Harry. No entanto, Harry luta de volta.

Para combater o esforço de Harry, Voldemort impinge na mente de Harry momentos de dor e sofrimento passados pelo rapaz, como se verifica com os frames da morte de Lily, Sirius, Cedric e os do Dementor do início do filme. À medida que as memórias passam, os olhos de Harry alternam entre os super-claros e os seus olhos normais, representando o para trás e para a frente do confronto entre os dois. Surgem, de novo, memórias perturbantes de Arthur coberto de sangue, da possessão de Voldemort, enquanto este lhe chama de “fraco”.

De seguida mostra imagens de Harry isolado, algo que a Luna referiu que seria a estratégia de Voldemort. Numa das visões, Harry, frente ao espelho, vê-se com a cara de Voldemort. Enquanto isso, vão aparecendo shots deVoldemort com a sua figura cada vez mais a ocupar mais espaço na tela. Até que, com a ajuda das palavras de Dumbledore, Harry deixa de estar numa posição de desconforto e se deita no chão.

Chegam à mesma sala que ele os seus amigos, e, ao olhar para eles, surgem as boas memórias: um abraço de Hermione, a troca de sorrisos com Ron e com a sua mãe, o abraço com Sirius e vários shots dos três amigos principais de vários filmes, sempre a rirem-se os três. Isto faz com que Harry se aperceba que tem argumentos contra Voldemort, e troça dele, dizendo que é o Lorde das Trevas o “fraco” e que “nunca saberá o que é amor e amizade”, enquanto isto, a expressão de Voldemort muda para preocupação, enquanto a sua figura desvanece, através de um fade-out lento. Harry continua, dizendo que sente “pena” por Voldemort, enquanto as visões perturbadoras são demonstradas em reverse, como se estivessem a ser negadas. Harry parte o espelho que  mostrava a sua reflexão com a cara de Voldemort, e, ao contrário de quando aparecia com a cara do vilão, quando a tela tinha uma tonalidade verde, está agora com um branco e com bastante luminosidade, significando a vitória da luz, a vitória de Harry. Enquanto isso, Voldemort aparece bastante agitado, enquanto há vários fade outs. Harry consegue assim expulsar o seu inimigo do seu corpo e liberta-se assim do pior que tem dentro de si.

Para finalizar a análise do filme, é no ministério que acaba a ação, com a chegada do Ministro. Este repara na presença de Voldemort, apercebe-se que Harry e Dumbledore estavam corretos. O facto do filme terminar no ministério e a verdade ser descoberta no mesmo é algo irónico, uma vez que este é um dos antagonistas deste título da saga.

Em jeito de conclusão, Harry tem um desenvolvimento enorme neste filme, que vai desde o processo de melhoria da sua desconfiança dos seus amigos, no qual chega ao ponto do isolamento. Até que conversa com Luna, a qual o faz ver a luz e a verdade sobre o objetivo de Voldemort. Isto faz com que Harry se lembre que os seus amigos são fundamentais na luta contra o Senhor das Trevas. Isto faz com que Harry se fortaleça mentalmente, o que o leva a sentir amor suficiente para demonstrá-lo e partilhá-lo com Cho. No entanto, Harry é emboscado através de uma visão e isso resultou na morte de Sírius. Harry está em vias de voltar para o abismo emocional que o descontrola e o faz perseguir Bellatrix.

Dumbledore aparece a tempo para o ajudar na luta com Voldemort, mas quando este duelo acaba, Voldemort assume o controlo de Harry, no entanto, Harry vence devido ao caminho emocional que percorreu, lembrando-se das memórias que tinha com os amigos, o que serviu como defesa contra Voldemort, ganhando este confronto e expulsando-o do seu corpo.

“Harry Potter e o Príncipe Misterioso”

No 6º filme da saga, a cena a ser analisada semioticamente é a da morte de Dumbledore.

O filme começa exatamente onde o anterior termina, com a chegada do ministro da magia ao ministério após a derrota de Voldemort, e vê-se Dumbledore a pôr o seu braço à volta de Harry e a retirá-lo do local.

No que diz respeito aos filmes anteriores em que Dumbledore tem um papel determinante na narrativa, este dá especial atenção ao seu relacionamento com Harry no decorrer das 2 horas e 33 minutos de longa-metragem.

No início, Harry acompanha Dumbledore até à casa de Horace, com o objetivo de o convencer a voltar a Hogwarts como professor.

Já dentro de casa e com as introduções feitas, Dumbledore mostra o seu poder exacerbante ao reparar a casa completamente destruída em questão de segundos. Com o objetivo concluído e o acordo para Horace regressar, Dumbledore deixa Harry na casa dos Weasley.

Em Hogwarts, Dumbledore começa o jantar de abertura com o habitual discurso, mas desta vez a alertar para o perigo do regresso de Voldemort.

Mais adiante, Harry visita Dumbledore. Este elogia o trabalho do estudante nas aulas de poções cujo professor é o recém chegado Horace Slughorn e de seguida faz uma pergunta pessoal a Harry acerca da natureza da relação entre Hermione e ele. Para além de ser uma conversa com pouco interesse para a narrativa, esta questão serve sobretudo para demonstrar a ligação afetiva de Harry e do Diretor de Hogwarts.

Ainda no escritório de Dumbledore, este mostra a Harry a memória do primeiro encontro de Dumbledore com o então jovem de 11 anos Tom Riddle. Na memória, a funcionária do orfanato explica que Tom tem dificuldade em relacionar-se com as restantes crianças e que já houve ocorrências de maior gravidade. Na conversa com Tom, Dumbledore fala-lhe de Hogwarts e explica-lhe acerca de “magia” e que é por isso que ele conseguia fazer algo que os seus pares não conseguiam. Antes de deixar Dumbledore partir, Tom diz que consegue falar com cobras.

Esta afirmação deixa em Dumbledore uma sensação de desconforto, uma vez que este era um sinal de que era um possível descendente de Salazar Slytherin, o que era um sinal de que Tom tornar-se-ia num feiticeiro negro. Apesar desse sentimento de incerteza, Dumbledore trouxe Tom para Hogwarts na mesma.

O Diretor explica a Harry que no tempo que esteve em Hogwarts, Tom sentiu-se atraído pelo Professor Slughorn e revela a real razão para ter trazido o antigo Professor de volta a Hogwarts. Dumbledore explica a Harry a condição que Slughorn possui, a de colecionar tudo o que possua valor, sejam objetos sejam pessoas, e pede a Harry que seja colecionado por ele.

Entretanto, uma rapariga é possuída ao tocar num colar amaldiçoado dirigido a Dumbledore, esta é uma das duas tentativas de assassínio de Dumbledore por parte de Draco, sendo a outra a tentativa de envenenamento da garrafa que Slughorn transportava quando aparece na ala hospitalar no momento em que Ron está internado.

Na festa de Slughorn, Snape entrega a Harry a mensagem de Dumbledore de que estará a viajar e com regresso apenas no período seguinte, não especificando onde foi.

Terminadas as férias, Harry volta ao escritório de Dumbledore. O Diretor mostra a Harry uma memória de Slughorn , na qual conversa com Tom Riddle sobre um feitiço presente na parte proibida da biblioteca da escola, mas que nunca é nomeado. No entanto essa memória encontra-se fraturada. Dumbledore precisa que Harry recupere a memória completa para tentar encontrar um ponto vulnerável de Voldemort.

Entretanto Harry entra em conflito armado com Draco e após algum tempo de batalha, atinge-o com o feitiço “Sectumsempra”, um feitiço que provoca um corte que em teoria seria impossível curar. Feitiço que está presente no livro pertencente ao “Half-Blood Prince”, livro esse que o deixou viciado. Felizmente, aparece Snape que consegue reverter o efeito do feitiço. No entanto, esta altercação faz com que a raiva que Draco tem para com Harry aumente e se reflita no ódio por Dumbledore, que amplia igualmente. Este confronto também faz com que Harry fique num estado de choque por se aperceber do efeito do feitiço que usara e por quase assassinar Draco.

Uma vez recuperado do choque, Harry usa o Felix Felicis que tinha ganho previamente na aula de Slughorn e consegue, eventualmente, coagir Slughorn a partilhar a memória completa do sucedido com Tom Riddle.

Na memória, Tom questiona Slughorn acerca de dividir a sua alma em 7 partes, nos Horcruxes, de forma a manter viva a sua alma caso perca o seu corpo. O Professor diz que para cada Horcrux, é preciso um sacrifício, isto é, um homicídio.

Ao ver a memória, Dumbledore não aguenta em pé, uma vez que sabe que Voldemort atingiu o seu objetivo. Harry percebe, assim, a razão das ausências de Dumbledore ao longo do ano e também o estado da sua mão. O Diretor conseguiu perceber que os objetos que contêm a alma de Voldemort são objetos com valor para ele.

Adiante, ao dirigir-se para a torre de astronomia, Harry ouve Snape e Dumbledore a conversarem acerca do acordo de que é Snape a abater Dumbledore e não Draco, contudo, Harry não sabe de nada disto.

Com Snape não presente, Harry conversa com Dumbledore. Mais uma vez a demonstrar a figura parental que representa para Harry, Albus comenta que Harry devia fazer a barba, um comentário que mostra o lado afetivo de Dumbledore sobre Harry.

Após a sua partida para a ilha, Dumbledore sacrifica o seu sangue. Quando chegam à fonte, Dumbledore voluntaria-se para beber a poção, uma vez que o colar só seria atingido caso se bebesse o líquido que o sobrepõe. Dumbledore impera que Harry lhe faça beber a poção completamente, independentemente do que Dumbledore lhe diga. Há, nesta interação e nos golos de Dumbledore, uma mudança de luminosidade. Quando Harry preenche a tela, o plano está mais claro, ao contrário do que acontece quando se trata de Dumbledore, com o qual a tela fica com um tom mais negro, que vai escurencendo a cada golo.

Eventualmente, Dumbledore supera o desafio e Harry recupera o colar. No entanto, é atacado pelos Inferi e é levado para debaixo de água. Entretanto, Dumbledore recupera, salva Harry e quando este volta à superfície é possível ver o poder exorbitante de Dumbledore.

Harry consegue chegar até ao Professor e conseguem sair da caverna e retornar à torre de astronomia. Lá, ouvem um som de alguém a aproximar-se. Dumbledore manda Harry ir para o piso de baixo e, independente do que acontecer, permanecer lá embaixo sem que ninguém se aperceba que ele ali está.

Draco é o primeiro a aparecer, com a varinha em riste, pronto para cumprir o seu dever. Draco diz que tem de ser ele a matar Dumbledore, por ordem de Voldemort, uma vez que se não o fizesse, seria ele a morrer. Chegam então os restantes Death Eaters.

No piso de baixo, Harry está prestes a desarmar Draco, mas é interrompido por Snape. Este sinaliza a Harry que está tudo sob controle.

Apesar do incentivo de Bellatrix e de Dumbledore, Draco é incapaz de mobilizar-se para desferir o feitiço mortal a Dumbledore. Tem de ser Snape a atingir Dumbledore, após este lhe pedir que o faça, atirando-o para fora da torre e para o pátio.

E dá-se assim entrada à análise semiótica da cena da morte de Dumbledore. Como tem sido descrito ao longo desta secção, a relação de Harry e Dumbledore tem sido mostrada num nível mais sentimental e não na condição de Professor/Aluno, como foi o caso no filme anterior, onde Albus ignorou Harry durante quase o filme inteiro.

 Desta maneira, com o acumular de comentários e interações de cariz sentimental de Harry e Dumbledore durante o filme, o peso do falecimento de Dumbledore é multiplicado, uma vez que transcende a barreira profissional e atinge um patamar quase familiar. As cores presentes na tela são escuras, transmitindo a sensação de uma atmosfera sombria e triste pelo que está prestes a acontecer.

 Devido à tarefa que teve de completar na ilha, Dumbledore está num estado de fraqueza, no entanto, com a chegada de Draco, o Diretor recompõe a sua disposição e fala com ele de maneira profissional, mostrando o seu profissionalismo como Diretor, uma vez que põe de lado o seu estado físico e psicológico para conversar com Draco para tentar fazer com que este não leve a cabo uma ação que pode piorar a sua vida e é bem sucedido, uma vez que Draco não dispara sobre ele.

 A música para abruptamente no momento de ação de Snape para dar ênfase à cena, isto é, na conjuração do feitiço. Em relação à indumentária, todos os Death Eaters estão completamente vestidos de preto, ao contrário de Dumbledore que apresenta um roupão claro que, iluminado pela lua, fica mais pálido, mais branco, simbolizando a diferença das ideologias de ambos.

A morte de Dumbledore confirma a suspeita levantada por Harry no filme anterior. Harry não confiava em Snape, no entanto, Lupin diz que como Dumbledore confiava em Snape, ele também confiava nele. No entanto, é Snape mesmo que mata Dumbledore. Para piorar a situação, o medalhão que custou tanto a obter era falso, significando que o esforço e sofrimento de Dumbledore havia sido em vão, e, caso não tivesse passado pelo sofrimento anterior, podia ter evitado a sua morte.

Para concluir, nesta 6ª etapa da saga, é explorada a relação de Harry e Dumbledore duma maneira profunda, com vista a eternizar a imagem de Dumbledore não como um simples Professor, mas sim como uma figura parental que se preocupa com questões mais do dia-a-dia de Harry, como é o caso dos comentários sobre Hermione e da barba para com Harry e também com características protetoras, como é o caso da abertura da porta da ilha onde se encontra o medalhão de Salazar Slytherin, em que Dumbledore, apesar de já ter a sua mão bastante massacrada, usa-a para com o seu sangue abrir a dita porta.

Antes de falar no desenvolvimento de Harry no final, é importante falar no estado de choque que passou ao desferir o feitiço Sectumsempra sobre Draco. Esta é a primeira ação de Harry que o põe mais próximo de virar para o lado negro, isto é, quase assassinar Draco. No entanto, com o apoio dos seus amigos de sempre e de Ginny, o mesmo recupera do choque.

Apesar de perder mais uma figura com um papel familiar e de perseguir e tentar atacar Snape, ao contrário do que aconteceu no filme anterior com Sirius, Harry usa a morte de Dumbledore como motivação para colecionar os restantes Horcruxes, e este é um ponto importante no desenvolvimento de Harry neste final: a demonstração da sua maturidade, uma vez que não se deixar afetar pela morte de alguém que o apoiou desde o início e a usa como combustível.

Talismãs da Morte Parte 1

No penúltimo filme da saga, reparamos que a saga fica mais sombria e sentimos que a batalha final está próxima sendo que o início do filme dá-nos indícios disso com planos dos nossos 3 personagens principais a preparar-se para o que aí vinha  (Harry a ver os Dursley’s a fugir de casa, porque não era seguro; Hermione a apagar a memória dos pais para os proteger; Ron com um olhar preocupado e distante para o horizonte).

Umas das cenas que mais marca a vida de Harry, e marca o fim de uma fase, é a morte da sua coruja Hedwig. Tudo acontece durante a famosa batalha dos 7 Potters, onde, com o intuito de transferir Harry para uma casa segura, diversos personagens da Saga transformam-se no mesmo e vão em duplas, para caso tenham alguém à espera deles os confunda.

Harry vai com Hagrid, num ato comovente visto que foi o próprio que o trouxe para casa dos Dursleys quando ele era pequeno. Um tempo após a partida, no meio dos céus de Londres dá-se uma batalha entre os comensais da morte e os que vieram apoiar Harry. O estado de confusão dos comensais da morte é notório em saber qual é o Harry verdadeiro e dividem-se por todos.

Hagrid e o verdadeiro Harry fogem a todo o gás da luta, sendo perseguidos por 3 comensais. No meio da luta e só apenas com um comensal em batalha, Hagrid é atingido e acaba por desmaiar, tendo Harry de assumir o guiador da mota. É neste momento que Hedwig vem em auxílio de Harry, atacando o comensal impedindo-o de acertar em Harry, mas ao fugir é atingida com um feitiço e acaba por cair morta.

 Esta morte é bastante importante pois Hedwig era o único elo que Harry tinha com a sua infância e significa um fim da mesma, mostrando o crescimento de Harry e que o que aí vem é realmente sério. Durante a fuga e a batalha os tons escuros são predominantes, mostrando a tenebrosidade da situação, por contraste quando estão todos juntos na casa dos Dursleys os tons são claros, mostrando a união do grupo.

Talismãs da Morte Parte 2

Chegando ao último filme da saga (“Harry Potter e os Talismãs da Morte Parte 2”), podemos observar que o protagonista se encontra determinado a pôr fim a esta luta que já causou tanta morte e sofrimento.

No início do filme, Harry e os seus companheiros dos costume, Ron e Hermione continuam na busca dos horcruxes de Voldemort e rapidamente encontram-se de volta à mítica escola de Hogwarts, que é agora controlada pelos súbditos do senhor das trevas, incluindo Snape que assumiu o cargo de diretor, sendo este um agente duplo de Dumbledore.

Com este retorno, os três procuram encontrar os últimos horcruxes de modo a derrotar Voldemort de uma vez por todas. A sua chegada é causa de alegria mas também conflito dado o ultimato de Voldemort para que o Harry seja entregue às forças do mal para que o mesmo possa ser morto.

 Numa situação destas, seria fácil a rendição ao inimigo, contudo, Hogwarts mostra-se forte e todos os seus membros trabalham juntos para se defenderem da oposição, na batalha que podemos considerar ser a mais épica de toda a saga.

Após várias horas de luta, o lado do bem encontra-se parcialmente derrotado e Harry toma a decisão de se render a Voldemort para que este conflito acabe.

A primeira cena que analisamos neste filme é o momento em que Harry caminha no bosque para se entregar a Voldemort.

No início da cena, o protagonista entra no bosque claramente receoso e algo assustado com o que lhe espera.

Nesse momento, Harry pega na primeira golden snitch que o mesmo apanhou, objeto  que Dumbledore lhe tinha deixado como a sua herança. Ao ler as palavras escritas na mesma, sendo estas “I Open at the Close” ou “eu abro no fecho” traduzindo livremente, Harry sente que é a altura certa de abrir o objeto pois pelas suas palavras (“I’m ready to die”), este está pronto para a sua potencial morte.

Ao abrir o objeto, Harry depara-se com a Pedra da Ressurreição, que Dumbledore lhe deixou para que este não morresse nas mãos de Voldemort. Este pega na pedra e no mesmo momento, aparecem as figuras da sua mãe, pai, Sirius Black e Remus Lupin que tinha sido morto pouco tempo antes.

Começa então uma melodia serena que se estende durante toda a cena, demonstrando que aquele é um momento de conforto e segurança para a personagem ao poder conectar com os seus queridos que já partiram.

Durante esta cena, Harry mostra-se receoso com uma cara insegura e movimentos incertos, que demonstra o seu medo e incerteza sobre a situação que se segue.

O protagonista fala durante um momento com as figuras presentes e estas asseguram-lhe que tudo irá correr bem, com algumas palavras de encorajamento, garantido que irão estar ao seu lado durante todo o processo. No final da interação, vemos a mão de Harry a largar a pedra da ressurreição, como um símbolo que o mesmo está pronto para enfrentar a morte.

A cena acaba e passamos para um plano de Voldemort sereno no bosque à espera de Harry junto com o seu exército. Este mostra-se surpreso quando Harry não aparece mas, é logo de seguida parado quando Harry chega com um andar e cara mais confiantes que anteriormente, demonstrando que as palavras que ouviu previamente o ajudaram a aceitar o seu destino.

Observamos então um pequeno momento de impasse e após umas breves palavras, Voldemort mata Harry.

É de notar que durante todo este excerto do filme as cores estão todas em tons escuros, sendo o preto, castanho e o verde escuro predominantes em toda a cena, estando a luz quase completamente ausente.

Para finalizar a análise, vemos uma das últimas cenas do filme onde Harry caminha com Hermione e Ron numa ponte de Hogwarts à luz do Sol que representa o final do conflito e a chegada da paz. Aqui podemos finalmente observar as cores do vestuário das personagens de forma clara e viva, o que pode representar a mudança de estado de espírito das mesmas, agora que a luta acabou.

Nesta cena, Harry mostra o que aprendeu com toda a sua jornada durante a saga, ao destruir a varinha mais poderosa do mundo agora que esta lhe pertence, após os seus colegas lhe perguntarem o que é que o mesmo iria fazer com esta. Com esta ação, os dois amigos da personagem mudam de expressão demonstrando orgulho na atitude do protagonista.

A cena acaba com os três amigos abraçados a olhar para a paisagem.

É importante referir que durante toda a cena só ouvimos os diálogos das personagens e sons de fundo e só quando Harry atira os pedaços da varinha para o rio é que ouvimos uma melodia calma que nos indica o novo começo para os três amigos que cresceram de crianças para jovens adultos juntos.

Conclusão

Para concluir, e respondendo à pergunta de investigação: “ De que maneira evolui Harry Potter ao longo da saga?”, fazemos agora um resumo da análise focando nos pontos fulcrais. No início da saga, Harry é nos apresentado como um rapaz frágil, ingénuo e inocente ainda que curioso e destemido.

Nos primeiros filmes Harry demonstra uma grande ligação com a morte dos pais demonstrando um sentimento de justiça e vingança em sua honra. Com o auxílio dos que o rodeiam e com os eventos que presenciou, o mesmo começou a ganhar alguma maturidade no seu poder de decisão, não perdendo, ainda assim, os seus traços de criança.

É já no quarto filme, que na entrada da adolescência, Harry presencia a sua primeira morte de alguém que lhe é próximo, e é a partir daqui que o mesmo percebe a escala do que se está a passar, por sua causa, e se torna uma pessoa mais fria de modo a proteger os seus amigos. Os filmes acompanham esta mudança, tornando-se mais sombrios e melancólicos.

Neste seguimento, são eventos como a morte de Sirius Black, Dumbledore, Hedwig, entre outros, que Harry canaliza como combustível para a sua força de vontade para continuar a sua jornada e derrotar Voldemort.

No final desta aventura, Harry demonstra ter crescido e ganho uma maturidade especial, dados todos os eventos traumáticos pelos quais o mesmo passou, tornando-se num ser humano mais altruísta e responsável, tendo como exemplo a sua iniciativa de destruir a Varinha do Sabugueiro, rejeitando todo o seu poder.

Observatório da Qualidade no Audiovisual

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