Fancomic: o universo alternativo de Steven *AU*niverse

Lucas Vieira

As fanartes, tirinhas e/ou histórias em quadrinhos (HQs) se caracterizam como uma prática recorrente na cultura de fãs (GRAY; SANDVOSS; HARRINGTON, 2017). Jenkins (2012) pontua que os fãs realizam dois tipos de leitura ao desenvolverem suas histórias: a crítica e a criativa. A partir dessa perspectiva o fã é levado à uma série de escolhas que refletem suas interpretações. As decisões chaves que o fã faz ao criar, reproduzir ou reimaginar um universo narrativo refletem diversas dimensões da competência midiática, desde sua leitura crítica sobre o cânone até a produção criativa na ampliação e ressignificação da trama. 

Steven AUniverse é uma fancomic interativa que faz releitura da série animada Steven Universo (2013 – 2019, Cartoon Network). A história em quadrinhos é disponibilizada no aplicativo Tapas e em um blog no Tumblr. O título faz uma referência direta ao termo AU usado no universo das fanfics e significa, em português, Universo Alternativo. Ressignificando a mitologia canônica em uma realidade alternativa, Chekhov cria uma nova trama na qual Steven é filho da Diamante Branco e a Rose Quartz ainda é viva e líder das Crystal Gems. Como detalha a sinopse:

Steven tinha uma vida e tanto: além de ser arrastado por diversos lares adotivos, ele também precisou lidar com muitos bullyings devido sua aparência estranha – seu cabelo cinza, suas pupilas em formato de diamante e o chifre branco em sua cabeça. Tudo parecia muito ruim, até que uma misteriosa dama de um olho só oferece à ele um estilo de vida diferente…” (TAPAS, Online, 2020) (tradução e adaptação nossa).¹

A história se estrutura através de episódios, que são páginas extensas (em uma única sequência de blocos de cenas e imagens, sem quebra de páginas), se aproximando da linguagem das HQs. A fancomic também conta com uma estética similar a da animação, como os traços e as características dos personagens, além da predominância da mitologia original da espécie extraterreste gems, entre outras.

No aplicativo Tapas as histórias são apresentadas com a capa principal da história e uma header, que seria o equivalente a capa em redes sociais como Facebook e Twitter. Na capa principal temos o título Steven AUniverse, que se aproxima da tipografia original utilizada na série de animação e suas divulgações. Como elementos imagéticos podemos observadas em uma parede, uma grande imagem da Diamante Branco, e no canto inferior, Steven e WhitePearl bem menores a representação da gem superior na parede. Essa ilustração faz parte de uma das cenas que acontecem posteriormente na fancomic. Enquanto a header traz uma maior apresentação dos elementos do universo, colocando no centro a imagem do protagonista Steven, dividindo duas diferentes atmosferas. Ao lado esquerdo da imagem se concentram as Crystal Gems em cores, com um grande destaque para Rose Quartz, que nessa versão alternativa, ainda é viva e uma guerreira rebelde. Ao lado direito estão as personagens WhitePearl e Connie; as duas personagens, assim como Steven estão em preto e branco. Há ainda um detalhe no cabelo do protagonista que nos remete a imagem de um diamante, que completa o “chifre” branco que o personagem tem, enquanto ao lado direito, ainda no cabelo, observamos a silhueta da vilã Diamante Branco, destacando os olhos e sua gem acima dos olhos.

Imagem 1 – Página inicial da fancomic Steven *AU*niverse, indicando, além da identidade visual da história, com a capa e a header número de visualizações, inscritos e curtidas que a história tem.

No perfil de Chekhov, criadore² da fancomic, dentro da plataforma Tapas, tem mais de 33.1k inscritos, contando com um total de mais de 1.1k suportes — que são leitores que ajudam financeiramente criadores na plataforma através de uma ferramenta de “créditos”. É indicado as ferramentas que elu usa em seu processo de ilustração, como MediBang Paint Pro e WACOM Intuos Pro, e seu blog pessoal no Tumblr. Chekhov entrou na plataforma em setembro de 2017, e além da série Steven AUniverse: Ask WhitePearl and Steven, Chekhov possui outra fancomic derivada da animação da Cartoon Network, chamada Pearls Before SW1N3, iniciada e terminada em 2018. Porém, apenas a Steven AUniverse permanece sendo atualizada.

A mensagem do perfil que aparece para os leitores na página inicial de cada história e convida o leitor a apoiar financeiramente seja através da plataforma Tapas ou Patreon. Os usuários que optam pelo apoio têm acesso a materiais exclusivos, como o processo de criação. Essa ação reforça a importância do valor econômico do fã e o movimento colaborativo para manutenção da obra. Como imagem de perfil, Chekhov utiliza um autorretrato, com seus traços, que também está presente em outras artes no seu blog pessoal, e nas aparições que costuma fazer no entre alguns episódios da história para avisos e notas pessoais.

Dimensões da Competência Midiática em Steven AUniverse:

A metodologia de análise proposta por Ferrés e Piscitelli (2015) agrupa seis dimensões da competência midiática. Neste texto iremos nos concentrar em, três delas: linguagem, ideologia e valores, e estética. Na dimensão descrita como Linguagem, refletimos sobre o uso técnico e criativo de adaptar um universo previamente construído para o audiovisual animado, no formato de história em quadrinho. Chekhov enquanto fã e criadore, demonstra a habilidade ao reconhecer os limites e as novas possibilidades de explorar a construção da personagem e seu uso no espaço assim como o uso dos diálogos através dos balões.

Apesar da história ser apresentada como um universo alternativo ao cânon, aspectos da mitologia e da construção do universo original estão presentes. A fancomic também conta com diversas referências a personagens e cenas que fazem parte da animação e são transportadas para a o formato, respeitando seu universo diegético.

Essa competência é demonstrada, por exemplo, no episódio “Calming Music”, em que há a referência ao personagem Mr. Universe, que na série animada é pai biológico, possui a relação paterna com Steven, e costumava ser músico. Os trechos que surgem nos balões, são referentes a música presente na série original, que é de autoria do personagem, Let Me Drive My Van Into Your Heart. Assim como a referência direta ao personagem, que aparentemente não é o pai de Steven na fancomic, a letra da música afeta o estado de espírito do personagem. Esse detalhe vai além de uma referência que os fãs e leitores são capazes de reconhecer, mas também influencia o desenvolvimento da personagem na história e arco narrativo de adaptação a cidade fictícia Beach City, depois de ser separado da WhitePearl. 

Imagem 2 – Fragmentos do episódio 36 da 2ª temporada de Steven AUniverse em que Steven escuta a música Let Me Drive My Van Into Your Heart.

Apesar de outras circunstâncias e contextos, algumas cenas acontecem de forma semelhante à série animada, fazendo referências indiretas episódios e realidades do universo canônico. Essas cenas surgem como uma forma em que a narrativa e as personagens progridem na história, ao mesmo tempo que servem como um apelo afetivo de Chekhov e dos leitores ao cânon. Exemplo disso é a cena do episódio S02E042 da fancomic, intitulado “Pronouns”, em que a personagem Ametista surge na forma do lutador Onça Púrpura³.

Imagem 3 – Fragmento referente ao quadrinho S02E042 de Steven AUniverse em que Ametísta se transforma no personagem Onça Púrpura.

Chekhov também utiliza de referências externas e da cultura pop que contribuem na criação da personagem. Dessa forma, o público consegue ter uma percepção dos gostos pessoais e das próprias referências que Steven possui ao correlacionar eventos, acontecimentos ou elementos da mitologia das gems ou da série animada, com referências que nós temos no nosso mundo. Esse detalhe auxilia na narrativa e na construção dos personagens e da própria relação do Steven com a gems, uma vez que elas são seres extraterrestes e possuem uma noção do que é da cultura “humana”. Como, por exemplo, no episódio Aliens na qual, através da interação com a pergunta de um leitor e a conversa com a personagem Garnet, Steven descobre que as gems são alienígenas, assim como ele mesmo. Nesse episódio ele discute a referência que possui do mundo humano com o universo das gems ao correlacionar referências pops de “vidas extraterrestres” com o Planeta Natal (Homeworld), em que as personagens se derivam.

Imagem 4 – Fragmento referente ao quadrinho S02E038 de Steven AUniverse. Na cena, Steven diz que achava que “Homeworld” estava para uma versão maligna de Asgard (Thor) e compreende que está mais para uma versão maligna de Krypton (Superman).

Ao decidir pelo uso das plataformas Tapas e Tumblr, Chekhov demonstra a “capacidade de interpretar e avaliar os diversos códigos de representação e a função que cumprem em uma mensagem” (FERRÉS; PISCITELLI, 2015). Isto é, quando elu compreende a arquitetura operacional do aplicativo de webcomics, consegue explorar e trazer uma melhor dinamicidade para os leitores.

Na trama, o blog “Ask WhitePearl and Steven” surge quando Steven é resgatado pela misteriosa dama de um olho só e ganha um celular. A ferramenta tem um uso importante para o desenvolvimento da história, uma vez que as perguntas dos leitores ao Steven servem como ganchos para a continuidade dos episódios. Contudo, a linguagem do Tumblr também aparece em outros momentos diegéticos, e isso demonstra tanto a execução da dimensão linguagem quanto a compreensão da funcionalidade e códigos de representação e função. Como mostrado no episódio “New Phone”:

Imagem 5 – Fragmentos referente ao quadrinho S01E005 de Steven AUniverse, na qual Steven ganha um novo celular e cria um blog no Tumblr.

Utilizando o Tumblr como uma forma de transmidiação da história, Chekhov também se demonstra competência em “[…] compreender o fluxo de histórias e informações de múltiplas mídias, suportes plataformas e modos de expressão”. Ao gerir os comentários, le ilustradore se demonstra capaz de interpretar informações externas e que partem de um formato e de uma mídia diferente (o Tumblr) e dissociar as sensações, opiniões, emotividade e racionalidade do público. Através da resposta desses sentidos, elu compreende a demanda e gerencia a partir do entendimento do personagem. Diversas vezes isso é demonstrado quando o público anseia ou questiona algo que Steven não sabe o que é, por ser um conhecimento prévio do leitor ao universo da animação de Steven Universo e, por não fazer parte dos acontecimentos diegéticos, ou ainda não ser do conhecimento do personagem. Dessa forma, Chekhov também é capaz de instruir e situar os personagens através da interação diegética de Steven.

Como, por exemplo, no episódio “Maps”, quando um leitor sugere que Steven e WhitePearl se escondam em Beach City, cidade fictícia da série animada. No entanto, o personagem ainda não tem conhecimento da cidade e de sua importância na trama.

Imagem 6 – Cena referente ao quadrinho S01E021 de Steven AUniverse

Em Ideologia e Valores, analisamos a capacidade de discutir e refletir as produções críticas sociais que geralmente ou se sente falta na produção canônica, ou não foi bem explorada. O fã, nessa dimensão, tende a preencher lacunas com suas visões críticas sobre o mundo e a obra (JAMISON, 2017).

Steven Universo é conhecida por ser uma animação pautava em valores sociais abordando diversas temáticas, como não-binariedade, a masculinidade compulsória, relacionamentos abusivos, entre outros. Partindo da noção de que Chekhov é ume artiste não-binárie, somos capazes de observar como o tema repercute com mais atenção.

Os seres da espécie Gem não possuem gênero, apesar de serem retratadas e dubladas através da figura feminina, e os pronomes usados serem no feminino enquanto Steven se considera um garoto. 

No episódio 37 da primeira temporada da animação televisiva, intitulada “Alone Together”, Steven e sua melhor amiga Connie se fundem, formando a fusão Stevonnie. Essa personagem foi tratada nos pronomes neutros they/them na dublagem original, por exemplo, enquanto na dublagem brasileira foi adaptada para o feminino levando em consideração o modo como todas as outras gems eram tratadas. A própria criadora do programa, Rebecca Sugar se assumiu como trans não-binária e utiliza tanto pronomes femininos quanto neutros (they/them) para se referir a si. Chekhov também é trans não-binárie e opta exclusivamente pelos termos they/them (adaptado para elu/delu neste texto). A noção dessa discussão social também é levada a fancomic refletindo as ideologias e valores que elu carrega consigo, e reforça a discussão já presente na trama de Steven Universe.

Um desses momentos acontecem no episódio “Pronouns”, na qual um dos leitores questiona se Steven se importa das Crystal Gems referirem a ele no feminino. Nesse episódio, o personagem reflete sobre seu próprio gênero, uma vez que gems não o possuem e ele também é uma gem.

Imagem 7 – Fragmento referente ao quadrinho S02E042 de Steven AUniverse

Um dos comentários de leitores reverbera a discussão refletida na história, intensificando a leitura crítica social que os fãs desempenham na dimensão Ideologia e Valores. No comentário Shai Watermelon diz “Como ume não-binárie que é uma pessoa com deficiência e depende de membros familiares que não respeitam quem você é ou como se expressa, eu sinto profundamente essa perceptiva sobre pronomes” (tradução e adaptação nossa).

Imagem 8 – Comentário feito no aplicativo Tapas, no quadrinho S02E042 de Steven AUniverse

Por fim, a dimensão Estética pode ser observada na produção da fancomic. Tanto em seu papel narrativo quanto nas características da personagem central. Os quadrinhos são em preto e branco, com raras exceções em que surgem páginas coloridas, seja por pedido de algum leitor (como no episódio “Hairdo” quando perguntam sobre as características físicas de Steven, como cor do cabelo, cor dos olhos, etc), quanto em momentos de ápice da história. O segundo exemplo é desvendado no episódio “Reunion”, quando a WhitePearl é retirada do transe pela personagem Rose, e fica com algumas manchas em rosa pelo corpo – revelando a predominância do preto e branco e da paleta acinzentada da personagem Steven, que se deriva da gem Diamante Branco.

Imagem 9 (esquerda) – Episódio 10 da 1ª temporada, na qual surge cor na fancomic pela terceira vez. No entanto, é a primeira vez que nos é revelado as características de Steven.

Imagem 10 (direita) – Na imagem, cena do episódio 52 da 2ª temporada de Steven AUniverse, quando descobrimos através das cores e estética, que White Pearl estava sobre controle da Diamante Branco.

A semelhança visual também corrobora na aproximação estética da fancomic com a história canônica e pode ser um ponto responsável pela fidelização e aproximação do público fã de Steven Universo à história de Chekhov. Afinal, a percepção estética está presente no primeiro momento de contato do público com o produto (JENKINS, 2012). Pontos da leitura criativa retornam de forma a aprofundar as características e elementos estéticos impressos na história em quadrinho, como a aproximação verossímil da mitologia e trama que aproxima o leitor da sensação canônica. Através de habilidades linguísticas, literárias, lúdicas e multimodais, Chekhov consegue ressignificar o universo através da possibilidade de eventos que poderiam ter acontecido diferentes. Ao reproduzir esses pensamentos e sentimentos, seja reimaginando cenários e adaptando momentos na realidade diegética de universo alternativo, o fã está considerando todos os elementos estéticos que partem do canônico, reestruturando um diferente universo com regras semelhantes de como funcionam. O respeito dessa verossimilhança diegética reverbera na fidelização do fã e no convencimento de Chekhov ao imaginar e demonstrar que, de fato, aquela história poderia ser canônica, mesmo que não haja a intenção de ser.

A busca, polimento e destaque em detalhes, personagens, arcos e eventos, como citados na análise da dimensão Linguagem, corroboram na compreensão crítica que o fandom tem sobre a história e como Steven AUniverse reverbera nessa leitura. Jenkins (2012, p. 20) cita que

Uma boa história de fã referencia eventos-chave ou pedaços de diálogo como evidência para suportar sua interpretação particular dos motivos e ações dos personagens. Detalhes secundários são usados para sugerir que a história poderia ter ocorrido de forma plausível no mundo fictício mostrado no original.

Exemplo dessa releitura crítica, que envolve tanto a dimensão Estética quanto a Linguagem está presente em momentos como no episódio S03E035, na qual Steven liberta a gem Lápis-Lazúli e a cena decorre de forma semelhante à cena do episódio S01E25 da série animada intitulado de Espelho Gem, na qual o Steven canônico libera a gem em outro contexto.

Imagem 11 (esquerda) – Fragmento referente ao quadrinho S03E035 de Steven AUniverse.

Imagem 12 (direita) – Cena do episódio S01E025 da animação televisiva de Steven Universe.

Existem ainda os detalhes e contextos que podem passar batido ao olhar comum, mas que os fãs da animação são capazes de reconhecer. Na trama canônica Rose Quartz é responsável pelo olho quebrado de WhitePearl, que resultando em danos psicológicos à personagem. No episódio “Reunion”, ao final da segunda temporada, é possível reconhecer o olhar de Rose Quartz ao se deparar com WhitePearl, e apesar dessa informação ser omitida na fancomic, os fãs são capazes de reconhecer o que significa essa reação. Enquanto para os leitores da fancomic que não se lembram ou não são fãs da animação canônica, o olhar de espanto e surpresa se limitará apenas pela presença de outra gem do Planeta Natal na Terra.

Imagem 13 – Fragmento referente ao quadrinho S02E052 de Steven AUniverse

Ainda demonstrando como as dimensões Linguagem e Estética estão próximas e o formato da fancomic demanda a competência de ambas as dimensões, outro recurso estético, linguístico e literário utilizado por Chekhov é a quebra da quarta parede. Um recurso muito utilizado nas histórias em quadrinhos, presentes em grandes títulos como She-Hulk (Marvel), e é retomado pelu artista. A técnica não aparece apenas como forma de remeter ao formato, mas surge como um recurso estético que complementa a forma narrativa e diegética que a história é contata: interativa com o leitor, contada para ele.

Exemplos disso são cenas em que Steven fala ou mostra algo para o leitor, como no episódio 14 da primeira temporada intitulado “Weird Mom” na qual o personagem responde a um usuário que diz que sua mãe – se referindo à WhitePearl – é esquisita.

Imagem 14 – Fragmento referente ao quadrinho S01E014 de Steven AUniverse

Imagem 15 – Fragmentos referente a sequência do quadrinho S01E029 de Steven AUniverse.

Além do recurso de quebra da quarta parede apenas como uma referência do recurso narrativo comum nos quadrinhos, ainda existem outros momentos que surgem como uma aproximação estética do virtual, corroborando a interação e aproximação com o público e o recurso transmídia com o Tumblr. No episódio “Swimming”, quando um leitor pergunta como fica o cabelo de Steven quando está molhado, e simulando como se estivesse gravando um vídeo, o personagem mergulha no mar e mostra o resultado. O ato de reproduzir e simular a gravação de vídeo, com efeitos de desfoque e forma como o personagem “segura” a tela, são outros pontos que estimulam a dimensão Linguagem e reforça a Estética de contato virtual. 

Chekhov também utiliza de outros recursos para dar continuidade e função às perguntas dos leitores no Tumblr, como por exemplo, inserindo no próprio diálogo dos personagens, como acontece no episódio “Doppleganger”: 

Imagem 16 – Fragmento do quadrinho referente à S02E027 de Steven AUniverse.

Assim como diversas fanworks, percebe-se como os formatos vão sendo explorados cada vez mais, intensificado pelo grande leque de opções que o ambiente de convergência traz aos integrantes de sites e plataformas. A ocupação pelos fãs nesses diferentes espaços, demandam desses indivíduos uma capacidade e competência de utilização das redes, ferramentas e diversos sistemas operacionais.

Nesse contexto, o papel do fã se reforça na literacia e desenvolvimento de competências multimodais, assim como uma cognição e reconhecimento da funcionalidade desses espaços, formatos e regras. Assim como também percebemos a dinamicidade de quem consume essas fãs e seus papéis na movimentação. A fanwork acaba por se tornar uma obra por completo e com sua própria identidade, se aproximando ou distanciando da nave mãe.

Notas de rodapé:

[1]. Texto original: “Steven has had quite a life – in between being shuffled around foster homes he’s also had to put up with a lot of bullying for his strange appearance – his grey hair, diamond pupils and the white ‘horn’ on his head. Everything seems pretty bad, until a mysterious one-eyed lady offers him a chance at a different lifestyle…”.

[2]. Chekhov se identifica com o gênero não-binárie, utilizando os pronomes they/them como indicado no perfil de suas redes sociais. Na ausência de uma contextualização linguística para os pronomes neutros indicados para a tradução literal, utilizamos os artigos E/U e evitamos utilizar artigos e pronomes para substantivo uniformes. Para os pronomes, utilizamos elu/delu. Isso se deve como forma de respeitar a identidade trans não-binária e adaptar a linguagem aos pronomes devidos du criadore.

Para uma discussão mais aprofundada da linguagem neutra, leia o artigo “O papel e a função da linguagem não binária ou neutral no contexto das redes online”, publicado no site da Revista Movimento, em 2019.

[3]. Título usado na tradução da dublagem brasileira da animação Steven Universo no canal Cartoon Network.

Referências:

FERRÉS, J; PISCITELLI, A. Competência midiática: proposta articulada de dimensões e indicadores. In Lumina, v. 9, n, 1, p. 1-16, 2015. Disponível em: <https://goo.gl/3EQnc6>. Acesso em: 12 ago. 2020.

GRAY ,J.; SANDVOSS, C.; HARRINGTON, C.L. (Eds.). Fandom: Identities and Communities in a Mediated World. 2. ed. Nova York: New York University Press, 2017

JAMISON, A. Fic – Por que a fanfiction está dominando o mundo. São Paulo: Rocco, 2017.

JENKINS, H. Lendo criticamente e lendo criativamente. In Matrizes, v.9, n.1, p. 11-24, 2012. Disponível em: < https://bit.ly/2I9TWnn>. Acesso em: 12 ago. 2020.