Observatório da Qualidade no Audiovisual

Life Senjou no Bokura

Por Júlia Garcia

Life Senjou no Bokura (Life 線上の僕ら), em inglês Life ~ Love on the Line, é um dorama (drama de TV japonês) baseado em mangá de mesmo nome, escrito por Mitsuya Tsunekura e publicado em 2017 pela editora japonesa Houbunsha por meio da revista Hanaoto Comics, especializada no gênero boys love. O dorama, finalizado em quatro episódios, foi lançado em meados de 2020 em serviços de streaming e, posteriormente, na televisão. Uma versão em DVD, com o corte do diretor, também foi produzida e, inclusive, exibida em cinemas do Japão.

O gênero boys love abrange as produções leste asiáticas, sejam elas animês, mangás, filmes, dramas, ou mesmo fanfics, que retratam relações afetivas e sexuais entre homens. Muitas vezes, essas obras são feitas por mulheres e destinadas ao público feminino. Life Senjou no Bokura se encaixa nesse gênero, já que acompanha a relação entre Akira Ito (Jin Shirasu) e Yuki Nishi (Raiku) ao longo de quase duas décadas, desde o florescimento do relacionamento, passando pelo término e, finalmente, pela reconciliação. A vivência dos personagens é retratada desde os 17 anos, quando se conhecem, até aos 36 anos, quando, após um longo período separados, reatam. O dorama será analisado a partir da perspectiva da qualidade no audiovisual, mediante o estudo do plano da expressão, referente aos recursos técnico-expressivos, do plano do conteúdo, relativo à narrativa e aos personagens, e da mensagem audiovisual, que engloba os indicadores de qualidade.

No plano da expressão, a análise perpassa os códigos visuais, sonoros, sintáticos e gráficos. Em relação aos códigos visuais e à ambientação, a história se passa em uma pequena cidade do Japão cujo nome não é mencionado. Ao longo dos primeiros episódios, o espaço urbano é o principal pano de fundo, com ênfase especial em um caminho específico de uma das ruas, que possui uma linha branca pintada no asfalto. É por meio dessa linha que Akira e Yuki se conhecem. Imaginando perigos fora da linha, como um mar de tubarões ou poças de lava, Yuki sempre caminha em cima dessa linha. Passando pelo mesmo local, Akira tromba com Yuki e, para que os dois consigam atravessar a linha sem ter que pisar do lado de fora, eles seguram as mãos, e um deles dá um pequeno pulo. Esse ritual passa a ser feito todos os dias.

É interessante pontuar que os devaneios de Yuki são retratados por meio da inserção de elementos animados, que remetem à infantilidade e à ingenuidade do personagem. Tal infantilidade é, inclusive, verbalizada por colegas de Yuki, que o chamam de criança. Nesses momentos, a mudança estética abrupta leva a uma quebra da diegese, e o foco torna-se o cenário animado, o qual, distante da realidade diegética, representa uma outra realidade, existente apenas na mente de Yuki.

Com o passar dos anos e com o desenvolvimento do relacionamento entre Akira e Yuki, o apartamento de Akira se torna o principal local de ação narrativa. Condizente com a vida “média” de Akira, que, incentivado pela mãe, tenta se encaixar nos padrões sociais sem qualquer ambição, o apartamento é pequeno, mas moderno e bem organizado. Por sua vez, a casa dos pais do garoto é mais espaçosa, com um estilo tradicional que combina com a personalidade da matriarca, rígida e inflexível.

A caracterização dos personagens também é elaborada de acordo com a personalidade de cada um. Ainda que ambos os protagonistas usem, inicialmente, uniformes escolares na maior parte do tempo, é possível perceber diferenças significativas na caracterização dos dois. Por ser mais infantil, especialmente na adolescência, Yuki está sempre com os cabelos ligeiramente desgrenhados e se comunica por meio de gestos e expressões faciais mais exageradas do que o comum. Já Akira se veste de maneira bem-arrumada e demonstra comportamento sério e contido, que se opõe à infantilidade de Yuki. Como a trama acompanha os personagens ao longo de quase duas décadas, é possível perceber mudanças, principalmente, no vestuário. Akira, por exemplo, ao entrar em uma empresa, passa a utilizar camisas sociais e gravatas, enquanto Yuki, que se recusa a manter um emprego formal, continua a se vestir de forma casual, evidenciando, mais uma vez, a oposição de personalidades.

Em relação à fotografia, é seguido um estilo majoritariamente naturalista, com a presença de tons quentes, principalmente alaranjados, e muita iluminação nas cenas diurnas, enquanto tons frios, como nuances de azul, são predominantes nas cenas noturnas. Em momentos pontuais, há leve mudança na fotografia, com recursos como o esmaecimento de cores e diminuição da saturação, a exemplo do conjunto de cenas que retrata, de forma rápida, os diversos encontros de Akira e Yuki.

No que se refere à edição, parte dos códigos sintáticos, observa-se que, embora o dorama apresente a narrativa, principalmente, de forma cronológica, há, por vezes, inversão da cronologia, como em flashbacks ou no próprio início do primeiro episódio, que parte de um acontecimento futuro – Akira, já adulto, refletindo sobre o tempo que passou com Yuki – para começar, então, o desenrolar da trama. Os eventos passados, posteriormente, alcançam a cena inicial do dorama. Esse tipo de escolha narrativa instiga a curiosidade do público, já que, para entender a cena inicial, é necessário acompanhar os episódios e esperar que a trama alcance a cronologia inicialmente apresentada.

Ainda em relação à edição, além pontuais inversões de cronologia, há momentos em que há a inserção de voz over para a explicação de determinados eventos ou para evidenciar os pensamentos dos personagens. Esse tipo de recurso também está presente na vinheta inicial, que é narrada por Yuki enquanto diferentes planos dos personagens são inseridos por trás de imagens de linhas e pontos, com uma música romântica ao fundo. A questão da linha é um ponto chave na narrativa, como evidencia a fala de Yuki ao longo da vinheta: “Nós somos apenas dois pequenos pontos que foram forçados para este mundo assim. Solitários e desamparados. É por isso que um dia nós procuramos por outro ponto para nos conectarmos. Alguém com quem podemos formar uma linha e seguir vivendo”.

As linhas não somente remetem ao encontro de Akira e Yuki, possibilitado pela linha branca no asfalto que ambos seguiam, mas também, como demonstrado pela vinheta, à conexão entre os dois personagens e ao curso de vida que a narrativa acompanha. É possível, portanto, entender essa linha branca como uma espécie de materialização das conexões sobre as quais falam a vinheta inicial. Nesse contexto, pode-se observar que muitos dos planos utilizados colocam em evidência caminhos e linhas retas, em referência à ligação entre os personagens e à vida que se desenrola.

Já a trilha musical, pertencente aos códigos sonoros, além de presente na vinheta, é utilizada pontualmente para reforçar o tom da cena, seja cômico ou melancólico, geralmente com composições instrumentais. Um exemplo é a música animada que acompanha o momento em que Akira e Yuki se conhecem, a qual reforça o caráter inusitado do encontro. Os grafismos, referentes aos códigos gráficos, são inseridos, por sua vez, para marcar a temporalidade da narrativa, indicando qual é a idade dos dois protagonistas à época das cenas em questão. Sendo assim, quando há grande passagem de tempo, há também a indicação dessa passagem.

No plano do conteúdo, o storyline se baseia no relacionamento entre Akira e Yuki, desde que se conheceram, por acaso, aos 17 anos, perpassando as vivências da juventude e o amadurecimento dos dois até a vida adulta. Ao espectador, são apresentados fragmentos das vidas dos dois personagens, formando um panorama geral do relacionamento e das experiências da dupla ao longo de 19 anos – ou seja, a trama segue Akira e Yuki dos 17 aos 36 anos. No entanto, apesar de acompanhar um casal, pode-se considerar que o protagonismo, na verdade, recai sobre Akira, já que, após o término, a narrativa foca principalmente nesse personagem, deixando a história de Yuki em segundo plano.

O gatilho inicial para o desenvolvimento da trama é o encontro desproposital de Akira e Yuki. Como comentado, ao voltarem da escola, ambos caminhavam em uma linha branca pintada no asfalto quando se esbarraram. Yuki, que fantasiava perigos fora da linha, recusou se movimentar para que Akira pudesse passar, e Akira, mediante o enfrentamento do garoto, também não abriu passagem. Os dois, portanto, criaram um jeito de ambos seguirem seus caminhos sem precisarem sair da linha. Desse modo, os garotos davam as mãos e Akira impulsionava Yuki para o lado, levantando-o. A partir de então, esse rito passa a acontecer diariamente.

Com os encontros diários, Akira e Yuki desenvolvem sentimentos. Apesar de não esconderem o relacionamento em público, ele não é assumido para a família, ao menos inicialmente. Um momento significativo ocorre enquanto os dois, ainda jovens, passeavam à noite, de mãos dadas. A irmã mais velha de Akira, uma mulher independente e destemida, que entra em conflito constante com a mãe, acaba se deparando com o casal na rua. Ela pergunta a Akira se aquele seria seu namorado, e Akira, hesitante, confirma. Hitomi, então, abraça o irmão e diz estar feliz por ele ser honesto consigo mesmo.

Essa cena já dá indícios do peso que a relação de Akira com sua família possui na narrativa, o que se torna mais claro posteriormente. Os conflitos internos vividos pelo personagem, que levam ao término com Yuki, não derivam de dúvidas ou questionamentos a respeito da sexualidade em si, mas da necessidade de se encaixar nos padrões sociais, derivada das pressões que Takako, mãe de Akira, coloca no filho. Ainda no primeiro episódio, a matriarca reclama das ambições de Hitomi, que escolheu estudar em Tóquio e raramente entra em contato com a família, e diz querer que Akira escolha uma universidade local e, nas palavras dela, tenha uma “felicidade normal”. Essa pressão pela normalidade é o principal conflito do personagem, que busca se enquadrar nos padrões desejados pela mãe. É possível, portanto, estabelecer um paralelo entre a linha branca no asfalto e o curso de vida de Akira; assim como sair da linha branca significa enfrentar perigos imaginários, se afastar daquilo que é considerado normal é, para o personagem, sinônimo de luta.

Dessa forma, ainda que amasse Yuki, Akira eventualmente termina o relacionamento, motivado pela necessidade de se encaixar nesses padrões sociais. Até o emprego que Akira escolhe ao começar a vida adulta evidencia esse conflito – o personagem trabalha em um cargo médio em uma empresa local. No Japão, é comum que, ao sair da universidade ou do ensino médio, os jovens entrem diretamente em uma empresa, na qual permanecem, geralmente, de forma vitalícia. Akira, então, começa um relacionamento com uma antiga colega de escola, Hoka, com quem acaba se casando e, mais tarde, também se divorciando.

A catarse do personagem acontece quando Akira decide contar à mãe que passou pelo processo de divórcio e que, na verdade, é apaixonado por Yuki, quem Takako achava ser apenas um antigo amigo do filho. Essa ruptura com a necessidade de acatar os desejos da mãe acontece, justamente, enquanto Hitomi conta à família que se casará com um homem estrangeiro, cuja nacionalidade não é especificada, mas, por falar a língua urdu, presume-se que seja da Índia ou Paquistão. Takako não aceita o casamento, assim como se espanta com as revelações de Akira. Pode-se interpretar Takako, portanto, como a personalização das normas e padrões sociais; não é a sexualidade do filho em si que parece a afetar, mas sim toda e qualquer forma de ação que se desvie da considerada normalidade. O pai de Akira, no entanto, apoia o filho, em uma das únicas vezes em que verbaliza o que pensa.

Yuki, por sua vez, contrapõe a personalidade de Akira. Mesmo após atingirem a vida adulta, Yuki continua a carregar certa infantilidade e ingenuidade, ao passo que desafia os padrões sociais impostos. O personagem abandona, por exemplo, o emprego que possuía em uma empresa para se dedicar à universidade, uma vez que deseja ser roteirista, e diz querer sempre se divertir com histórias, como fazia quando era jovem. Dessa forma, vê-se que a encenação e dramaturgia são pensadas de modo a reforçar esse contraste; enquanto os gestos de Yuki são expansivos e suas expressões por vezes exageradas, Akira é sempre mais sério e contido. O tom dramático de muitas das cenas só é contraposto pela inocência e pureza das ações e pensamentos de Yuki, os quais, ao mesmo tempo em que trazem certa leveza à narrativa, também aumentam a carga dramática devido ao contraste evidente com o comportamento de Akira.

Nesse contexto, a família de Yuki também serve de contraponto. Já adulto, Yuki se encontra com a mãe, Megumi, para finalmente revelar o relacionamento com Akira. Com a revelação de Yuki, a cena é composta, a partir da atuação e de recursos técnico-expressivos como a trilha musical, de modo a inicialmente causar tensão, com uma alta carga dramática. Essa tensão é posteriormente quebrada com a resposta de Megumi, que também com certa inocência e naturalidade que podem ser vistas em Yuki, se preocupa apenas com a possibilidade de eles se casarem e terem filhos no Japão, onde ainda há muitas restrições legais em relação à comunidade LGBT. Megumi se anima com a ideia de eles se casarem na Europa e começa logo a pesquisar no celular sobre adoção no Japão por casais homossexuais. Assim, a trilha instrumental dramática cessa por um momento e logo dá lugar a uma música instrumental mais leve, acompanhada também pela atuação, que traz de volta o caráter animado e inocente de Yuki, dessa vez representado pela mãe.

Apesar de abordar temas como o preconceito, tanto relativo a questões sexuais quanto culturais, e o medo, por parte de muitos casais homossexuais, da rejeição pela família, a principal questão trazida pelo dorama parece ser a imposição de padrões sociais. Como a história acompanha mais a trajetória e os conflitos de Akira, centrados no desejo pela normalidade, tais questões se mostram mais evidentes do que outras, abordadas de modo relativamente superficial.

No âmbito da mensagem audiovisual, que abrange os parâmetros de qualidade, a oportunidade pôde ser observada à medida que, no Japão, a conformidade com os padrões coletivos é muito valorizada. Entretanto, essa questão também pode ser transposta para uma perspectiva brasileira. Embora não trate com profundidade da exclusão de minorias religiosas, étnicas e raciais, a dissonância daquilo que é considerado fora do padrão também tange a situação dessas minorias, que ainda sofrem com discriminação, preconceito e violência no Brasil. A dificuldade de aceitação, por parte da família e sociedade, de casais LGBT também perpassa a narrativa, ainda que não seja um ponto central, e se mostra também relevante no contexto brasileiro. Os temas abordados estão, portanto, na agenda do público.

A abordagem desse tipo de temática também abre espaço para que haja ampliação do horizonte do público, uma vez que a trama passa a mensagem geral de aceitação e respeito àquilo que foge do padrão, uma questão especialmente relevante no Japão. A apresentação de elementos culturais japoneses ao longo do dorama, como costumes e comidas típicas, também é um ponto a ser considerado nesse indicador, já que podem ampliar o entendimento do público acerca da cultura japonesa, principalmente se o espectador não está acostumado a assistir produções nipônicas. O conhecimento de elementos culturais é, inclusive, requerido para a compreensão de certas cenas. Um momento importante para o casal protagonista acontece quando Akira chama Yuki pelo primeiro nome. No Japão, é costume se referir às pessoas pelo sobrenome, e chamar alguém pelo primeiro nome denota proximidade e intimidade. Essa cena evidencia, portanto, o desenvolvimento do relacionamento dos dois e, para compreendê-la, é necessário que se tenha conhecimento desse costume. Dessa forma, quanto maior o contato do público com produções que retratam culturas fora do eixo ocidental – as quais não costumam ocupar a mídia mainstream, ao menos se comparadas às produções estadunidenses ou britânicas – maior o entendimento e a compreensão acerca de realidades e contextos culturais diferentes daqueles observados no Brasil.

Já em relação aos estereótipos, embora não haja uma representação caricata dos personagens, ou seja, não se vê, por exemplo, o estereótipo do gay afeminado – muito utilizado em produções humorísticas brasileiras – pode-se observar que, em certa medida, a relação de Akira e Yuki remonta uma relação heterossexual. Características associadas, de forma estereotipada, à figura feminina, como sensibilidade e idealismo, podem ser observadas em Yuki, enquanto aspectos como seriedade e controle, associados à representação masculina, constituem a personalidade de Akira. Emoções são explicitamente expressadas por Yuki; já Akira apresenta um semblante quase sempre contido. De modo semelhante, a iniciativa sexual é sempre tomada por Akira, o que também é associado, de maneira estereotipada, ao papel masculino. Portanto, apesar de não reforçar estereótipos em si, o dorama também não os desconstrói com efetividade.

A diversidade, por sua vez, pôde ser observada pontualmente. A representação de um casal homossexual já pode ser considerada elemento que denota certa diversidade, uma vez que apresenta sujeitos com diferentes orientações sexuais. Há, ainda, um personagem estrangeiro, noivo de Hitomi, provavelmente natural do subcontinente indiano, que traz à pauta cultura e idioma diferentes do japonês. No entanto, ele participa de apenas uma cena e, na maior parte do tempo, vê-se apenas personagens japoneses. Contudo, a presença desse personagem estrangeiro, e também do conflito que advém do noivado com Hitomi, é significativamente relevante no contexto japonês, considerando que ainda há certos obstáculos, no Japão, no que se refere à miscigenação – há, inclusive, a palavra hafu (ハーフ, do inglês half, que significa metade) para denominar aqueles que não são “totalmente” japoneses, ou seja, possuem ascendência estrangeira por parte de um dos pais. Essa questão também pode ser associada à ampliação do horizonte do público, já que é apresentado ao espectador um problema ainda presente, em alguma medida, na sociedade japonesa.

Por fim, em relação à originalidade/inovação, se pensado em uma perspectiva brasileira, o dorama traz um gênero – boys love – que, embora seja popular no leste asiático, não faz parte do catálogo de produções nacionais, sendo que não há gênero similar, hoje, no Brasil. Comumente veiculadas em emissoras de televisão na Ásia, produções com esse tipo de temática ainda são uma espécie de tabu na TV aberta brasileira. No entanto, o canal Loading, lançado em dezembro de 2020 com a proposta de trazer especialmente conteúdo sobre animês, games e séries tokusatsu à televisão aberta, fechou parceria com a rede de streaming Crunchyroll para a dublagem e exibição do animê Given, uma produção boys love. Caso dramas ou animês do gênero se popularizem e atinjam outros públicos fora do nicho de consumo, pode-se abrir espaço para que produções brasileiras abordem temáticas desse tipo com maior ênfase e frequência, ainda que tal cenário pareça improvável.

Além disso, recursos técnico-expressivos do dorama se diferenciam, em certos aspectos, do modo de constituição estético-narrativa de produções brasileiras. Apesar de ser um dorama de tom dramático e não se voltar ao público infanto-juvenil, animações são inseridas pontualmente para representar os devaneios e brincadeiras de Yuki. Esse tipo de recurso é, no Brasil, associado principalmente a produções infantis, não sendo, portanto, utilizado com frequência em outros tipos de produtos audiovisuais. A narração em voz over ao longo da vinheta e em diversas cenas é outro recurso empregado pelo dorama que, embora possa ser encontrado em produções nacionais, não é explorado com tal abundância no contexto audiovisual brasileiro. Dessa forma, mesmo que não haja grandes inovações na estrutura estética e narrativa do dorama, se comparada à perspectiva brasileira, a produção apresenta elementos, de certa forma, inusuais.

Pode-se observar, portanto, que a diversidade e a originalidade/inovação podem ser observadas apenas pontualmente, enquanto os estereótipos não são efetivamente desconstruídos. Entretanto, em relação à oportunidade, as temáticas abordadas pelo dorama, embora sejam pensadas em um contexto japonês, também estão presentes na realidade brasileira. O modo como esses temas são trabalhados pode contribuir para a ampliação do horizonte do público, ainda que certas questões sejam tratadas de modo relativamente superficial, assim como a presença de elementos culturais também pode ser um ponto de relevância nesse indicador.

*Todas as imagens são capturas de tela

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